Entre a vida e a morte
Luiz Luna*
A complexidade do mundo moderno nos põe de frente a uma série de temas que são motivos de debate e muitas vezes o que está em evidência é o bem mais precioso de que dispomos: a vida. Para os cristãos, é uma dádiva de Deus e por este motivo há de ser preservada, como um tesouro precioso.
Dentro dessa gama de assuntos está a transfusão de sangue, que tem salvado muitas vidas. Também é verdade que outras foram ceifadas. No entanto, os números revelam que os benefícios são maiores, principalmente por conta da legislação, que exige cuidados e pune a negligência. Tive oportunidade de visitar o Hemocentro do Estado da Paraíba e fiquei impressionado com o grau de profissionalismo e com a tecnologia utilizada em prol dos pacientes.
A Constituição Federal garante ao paciente o direito de ser informado sobre o tipo de tratamento ao qual será submetido, bem como de decidir se vai ou não realizar transfusão de sangue, desde que possa comunicar sua vontade. Terá consciência das possíveis conseqûencias de sua decisão. Isto se chama princípio da autonomia. A nossa Carta Magna também prevê a liberdade religiosa, ou seja, cada cidadão pode venerar ao Deus que escolher. Mas, o que fazer quando medicina e religião entram em conflito?
No Brasil, a polêmica concentra-se na corrente religiosa Testemunhas de Jeová, que surgiu nos Estados Unidos e difundiu-se mundo afora. De acordo com a filosofia da Sociedade Torre de Vigia (espécie de “empresa” que administra a organização religiosa), o membro daquela “comunidade” não deve ser submetido à transfusão de sangue. Caso isso aconteça, estará infringindo um ensinamento bíblico. Tanto nos cultos que realiza, quanto em publicações (Revistas Sentinela, Despertai e outras) é dada ênfase à impureza e ao pecado que comete aquele que recebe sangue de outra pessoa. As Testemunhas alegam que existem tratamentos alternativos e mais eficazes.
Por outro lado, em casos de emergência, o médico tem o dever ético, moral e legal de tentar salvar a vida do paciente, mesmo sabendo de sua religião. Essa polêmica tem sido fruto de debates e não temos conhecimento de consenso. No caso dos menores de idade, o conflito decisório é dos pais ou responsáveis.
Independente dessa concepção, o direito de viver é sagrado e fica difícil prevalecer a vontade do paciente quando este estiver sob risco iminente de morte, pois assim estaríamos aprovando a eutanásia ou quaisquer formas de finalizar a vida. Quando a situação chega a este ponto, a decisão transforma-se num caso de Justiça, cabendo aos Tribunais tomar posição.
Com relação a essa interpretação bíblica divulgada por essa corrente religiosa, há de se levar em consideração o número de traduções disponibilizadas das escrituras sagradas, bem como sua escrita original. Tudo se transforma, inclusive a terminologia e o entendimento das palavras. Por outro lado, os conflitos atuais nos deixam vulneráveis. Perdemos o equilíbrio e buscamos suprir nossa necessidade de alguma forma.
Diante da ativação dos mecanismos de defesa, somos capazes de fazer coisas que achamos maravilhosas. Para as outras pessoas, simplesmente, não tem lógica. Mas, como possuímos o direito de escolher...
* Jornalista e especialista em gestão de pessoas.