A ESCRITA IMPRESSA E OS MEIOS ELETRÔNICOS
A palavra, primeiro oralizada, depois escrita, é a maior invenção da humanidade. Pode-se dizer que o homem constituiu a consciência de si, de tempo e de lugar, elevando-se a ser racional, no momento em que deu nome às realidades físicas e aos acontecimentos do mundo exterior como também às percepções, especulações e emoções do seu mundo interior. Ao conquistar a condição de bípede e de fazedor, através do movimento de pinça dos dedos, e ao mesmo tempo em que compreendia as relações de causa e efeito, o homem primitivo inaugurava a sua humanidade. Numa integração dialética entre a evolução do corpo e a evolução da mente, fez-se o ser humano.
Desde então, esse homem criou sinais e signos para nominar e exercer o controle e o domínio nas suas relações com a natureza e com os demais. A palavra é assim, poder e expressão. A palavra é a humanização dos grunhidos, dos gritos, e de todos os sons primitivos emitidos pelo aparelho fonador humano. O cão late, o gato mia, e somente o homem fala, dá-lhes nomes e os domestica.
Desde tempos imemoriais, cujos registros rupestres são conhecidos, o homem tem utilizado as mais variadas superfícies para desenhar, representar a natureza, os animais, como também para representar-se expressando seus sonhos e visões de mundo. E assim, tornar-se um ser histórico, com memória e futuro, criando a sua história. Os rabiscos e desenhos evoluíram para garatujas feitas em combinação umas com as outras e desse processo surgiu a língua escrita. Uma extraordinária jornada civilizatória de milhões de anos. Segundo José Hildebrando Dacanal ( Linguagem, poder e ensino da língua. WS Editor,2006 ) “no sentido diacrônico, a língua é produto, parte, instrumento e relicário de uma civilização. No sentido sincrônico, a língua é instrumento de treinamento da mente, de aprendizagem eficiente, de capacitação técnica, de inserção ética, de cidadania efetiva, de ascensão social e de ação política”.
O homem vem escrevendo e "imprimindo" sobre toda e qualquer superfície, com todo o tipo de instrumento e tinta que sirvam para fazer traços, linhas, signos, letras. Escreveu e desenhou sobre as paredes rochosas das cavernas, sobre a argila, a cerâmica, sobre o vidro, sobre peles de animais, sobre tecidos, e sobre o papel. Na era do computador a escrita impressa estaria condenada a desaparecer?
Nesta época, com as suas vertiginosas transformações tecnológicas da informática, o homem escreve e desenha sobre uma tela de computador. A "tinta" é digital, eletrônica. Mas escreve e continuará a escrever. Não duvidem. Através da Internet, a palavra escrita ganhou em velocidade, expressão, e amplitude de leitores. Até bem poucos anos, a palavra escrita era um monopólio e um privilégio dos escritores, dos jornalistas, dos colunistas, dos suplementos literários, enfim. Poucos escreviam e poucos liam. Hoje, quem tem um computador ligado na internet, pode escrever para as suas comunidades, criar um blog e postar a sua escrita, seja qual for, literária ou não, e absolutamente sem censura. Pode escrever para o mundo, desde que domine outras línguas, principalmente o inglês. Esta revolução da escrita “postada” está apenas começando. Nunca escreveu-se e leu-se tanto. Então, não há conflito nem oposição entre a palavra escrita e os meios eletrônicos. Há uma mútua potencialização, através de um satélite que navega no espaço sideral.
O lema dos antigos navegadores “navegar é preciso, viver não é preciso”, tomado por Fernando Pessoa como mote de existência, hoje, através da tele-escrita, pode ser reescrito: telenavegar é preciso.