Mudança orquestrada por carros de bois...

Mudança orquestrada Corrigido

Pelos finais de 1951 após as colheitas do café, provavelmente setembro, morávamos em uma fazenda no município de Barretos/SP, nas imediações da estrada de terra que ia para Olímpia/SP, que tinha a denominação de Fazenda Amarela. Ficava próximo a um lugarejo chamado Ibitu. A atividade principal era produção de café.

Meu pai era novato como meeiro de café, ou seja, cuidava de determinada quantia de milheiros de pés, sendo a colheita repartida em 50% para cada um, patrão e empregado. Neste local moravam várias famílias de meeiros em uma espécie de colônia e tenho por lembrança que eram umas dez casas em forma de círculo de 90 graus, havendo um sistema de brejo meio pantanoso no centro e a casa que morávamos quase dava fundo com a última também do outro lado. Há mais ou menos 800 metros, já que morávamos na primeira casa da chegada, sendo a melhor e mais conservada da colônia com um rico quintal recheado de frutas tropicais: laranjas, mexericas, limões, limas, várias qualidade de bananas e mamão. Ouvíamos quase todos dias pela manhã o rugido de bugios (uma espécie de macaco) por várias horas, cedo e à tarde, além do canto de diversas espécies de pássaros. A casa era de pau a pique, mas muito bem conservada com piso de chão batido e bem dividida. Nas casas subsequentes e, na última, moravam parentes do meu pai.

O cafezal que foi cedido para meu pai tomar conta era no final da lavoura, sendo uma parte composta por árvores mais baixas, provavelmente mais nova e o restante mais frondosas e altas. Eu e meus irmãos menores íamos levar almoço e passávamos no meio dos cafezais que eram frondosos com grãos de cor vermelha e, vez ou outra, parávamos para colher alguns grãos para chupar, nos deliciando com o gosto adocicado. Este cafezal que meu pai cuidava era premiado com centenas de pés de mamão de várias espécies e bananas de vários tipos. As nanicas davam cachos tão grandes que uma pessoa adulta tinha dificuldade para carregá-los.

Meu pai se empolgou tanto com os cafezais que quis começar nova aventura, já que em 1948 tinha chegado a esta região, procedente de Cosmorama/SP, onde tinha começado fazer um pé de meia plantando algodão num sistema não-automatizado, em pequenas queimadas com plantio manual. Moramos inicialmente na casa de um irmão e compadre por nome de Guilhermino, conhecido como Moço. Depois em outra casa, também de pau a pique, sendo esta muito velha e em mau estado, próximo à sede da Fazenda Limeira, do mesmo proprietário da fazenda de café. Desta feita voltando para a Fazenda Limeira em outro extremo, em uma distância de mais ou menos sete quilômetros na estrada de terra de Barretos/Olímpia SP, ali se desfazendo de uma floresta virgem para plantar 6000 pés de café, sendo tudo também feito totalmente manualmente, desde a derrubada da floresta, a queimada e o plantio, na projeção inicial.

Lá estamos de volta. Desta feita, a mudança foi feita em dois carros de boi levando os utensílios, mantimentos ensacados como arroz, feijão, café, milho para trato dos porcos, aves e equinos de trabalho. Meu pai foi em uma carroça com minha mãe e os três irmãos menores, eu a cavalo com um tio chamado Pompílio. Os outros foram a pé juntos aos carros de bois: tio Justino e os primos Durval e Antônio. Mudança esta enriquecida pelo canto constante dos carros de bois, puxados cada um com quatro juntas. Um dos carreiros se chamava Sr. Joaquim (Papudo) e o outro Sebastião (Preto). Os bois eram grandes e muito bem tratados.

Chegando, fomos morar novamente na casa de outro tio, o Sr. Benjamim, até fazer casa nova próxima à futura lavoura de café, que ficou pronta em poucos dias graças ao trabalho em mutirão de meus pais e de seus familiares da Bahia que nos acompanhavam nesta aventura desde os cafezais da Fazenda Amarela. Porém, mudamos antes de acabá-la. Até hoje ainda me lembro e ouço o lindo canto dos carros de boi.

José Pedroso

Publicado em 04/01/2003

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 25/05/2009
Reeditado em 22/09/2009
Código do texto: T1613211
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