O CAFÉ DA MANHÃ DO MEIO DIA.

No final de semana só trabalham o padre e o restauranteiro. Os demais divertem-se à noite, quer em alguma casa noturna, quer em casa na internet ou assistindo filmes na Tv a cabo ou da locadora. O fato é que a hora do sono começa bem tarde e termina muito mais tarde ainda. Nada de levantar cedo, nada de correrias, nada de fazer café da manhã. Só arrumar umas coisas em casa e sair, para tomar café fora. Mesmo que já seja ao meio dia.

Eis aí um hábito que está tomando conta do Brasil. O chamado Café Regional, que começou pelo sul do Brasil na década de 60 e quarenta anos mais tarde está no norte. Veio para ficar. O que começou timidamente, na estrada, em finais de semana, hoje não está só na estrada, nem só em finais de semana. Cada vez mais casas estão explorando este filão.

Nessa tendência de mercado estamos assistindo panificadores adaptando-se para atenderem a venda de comidas que não saem somente dos fornos da padaria. Sistemas self-service - criação brasileira com nome inglês - são encontráveis em panificadores em horários das 11 às 24 horas sem intervalo. Bom para o consumidor, melhor para o empresário. Afinal, não há fast food mais rápido que o sistema de auto-atendimento com a comida pronta esperando apenas ser servida e digerida.

Os restaurantes tradicionais estão sentindo o impacto. Quem atendia para o almoço, vê seus clientes se atrasando porque tomaram café da manhã, muito perto do meio dia e dificilmente se animarão a almoçar antes das 16 horas. Muitas vezes o almoço nem acontece para estes. Se por um lado, os cafés estão estendendo seu horário para até mais tarde, os restaurantes tradicionais não estão servindo café, nem mostram ânimo em fazê-lo. A logística não muda com a rapidez dos hábitos.

Não por acaso, a Abrasel – entidade que congrega Bares e Restaurantes - lança sua quarta edição do Festival Brasil Sabor, desafiando a criatividade dos chefes de cozinha na criação de pratos regionais. Se por um lado é fácil criar pratos e administrar uma casa do lado de dentro, por outro, o que acontece externamente é um desafio muito maior. Não falamos apenas da disputa por clientes. Falamos principalmente das exigências, cada vez maiores, do poder público e dos próprios clientes.

Trazer receitas seculares à mesa, com um trato culinário moderno é um hábito que agrada consumidores no mundo inteiro. Essa característica de preservar a tradição e a maneira local de fazer as coisas, os franceses chamam de terroir. Numa adaptação livre, o termo foi traduzido para “comidas do lugar”. Não se trata apenas ou exclusivamente do uso de ingredientes únicos, daqueles que só existam numa determinada região, mas a maneira de preparo, que diferencia uma cidade ou região de outra. Isso é muito positivo porque enriquece a tradição e delicia aos turistas.

O Festival Brasil Sabor, que é um dos maiores eventos turísticos do Brasil não distingue muito entre o tipo de comida, contanto que tenha ingredientes locais e modo de preparo inédito. No Amazonas, tanto o bodó quanto a tapioquinha voltaram à mesa com pompa.

Assim, para os proprietários de restaurante não é muito importante se seu cliente toma café da manhã ao meio dia ou se ele janta de manhã, uma vez que passou a noite trabalhando, contanto que ele venha aos restaurantes. A presença dele é que estimula o constante desafio dos cozinheiros. De quebra, faz girar a roda da economia movimentando o setor que é responsável pelo maior número de empregos no Brasil.

Luiz Lauschner – escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 11/05/2009
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