Casos e acasos
Prólogo:
É sabido que Henrique escreve entrelinhas seus segredos e mistérios. Este enigma nada tem a ver com o atual texto "Casos e acasos". Eis o enigma proposto pelo amigo araponga residente em Brasília-DF:
"Tenha paciência! Poderá acontecer no dia 10 do mês de abril. Quem sabe eu serei sua enfermeira particular? Esses R$ 500,00 (quinhentos reais) já vão me fazer respirar um pouco aliviada e sair do sufoco que ora enfrento. Na guerra, no amor e na precisão extrema tudo é válido!".
Nesta data, 09 de abril de 2009, em um dos supermercados da Rede Compras, sito na cidade de Campina Grande - PB, encontrava-se o autodidata fazendo suas compras para a festa da Páscoa que se realizaria na “casa dos sonhos coloridos”, nas noites de 10 a 12 de abril do ano em curso.
Em que pese ser uma data magna da cristandade outros religiosos também comemoram essa significativa e mística ocasião. Sobre a Páscoa pode-se escrever, após pesquisa válida:
Oriunda do hebreu Peseach, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade. É a maior festa do cristianismo e, naturalmente, de todos os cristãos, pois nela se comemora a Passagem de Cristo - "deste mundo para o Pai", da "morte para a vida", das "trevas para a luz".
Considerada, essencialmente, a Festa da Libertação, a Páscoa é uma das festas móveis do nosso calendário, vinda logo após a Quaresma e culminando na Vigília Pascal. Entre os seus símbolos encontram-se:
O Ovo de Páscoa: A existência da vida está intimamente ligada ao ovo, que simboliza o nascimento.
O Coelhinho da Páscoa: Por ser animal com capacidade de gerar grandes ninhadas, sua imagem simboliza a capacidade da Igreja de produzir novos discípulos constantemente. Representa a fertilidade.
A Cruz da Ressurreição: Traduz, ao mesmo tempo, sofrimento e ressurreição.
O Cordeiro: Simboliza Cristo, que é o cordeiro de Deus, e se sacrificou em favor de toda a humanidade.
O Pão e o Vinho: Na ceia do senhor, Jesus escolheu o pão e o vinho para dar vazão ao seu amor. Representando o seu corpo e sangue, eles são dados aos seus discípulos, para celebrar a vida eterna.
O Círio: É a grande vela que se acende na Aleluia. Quer dizer: "Cristo, a luz dos povos". Alfa e Ômega nela gravadas querem dizer: "Deus é o princípio e o fim de tudo".
PREPARAÇÃO PARA A FESTA DA PÁSCOA NA CASA DOS SONHOS COLORIDOS.
Para a despedida da velha área de lazer e festejos da Páscoa Henrique esperava amigos e amigas da área jurídica, irmãos, cunhadas, sobrinhas, assim como outros ilustres convidados para a noite de Sexta-Feira, dia 10 de abril, três dias antes de seu aniversário. Analu viajara em socorro (auxílio com o netinho e mais novo membro da família) a sua filha, nutricionista, residente no Rio de Janeiro.
Ela (Analu) sempre que podia demonstrava o quanto podia ser útil, querida e necessária em todas as ocasiões. Antes de viajar, meio zangada (o poeta não queria aceitar o motivo da zanga), Analu dissera a Henique para não se esquecer de cuidar com carinho e esmero dos seus filhos de estimação e adotados por amor. Hulk, Jade, Pio e Pia deveriam ser tratados de forma especial porque eram animais especiais.
UMA EXPLICAÇÃO: Hulk é um cachorro bonito, híbrido pelo cruzamento com pastor alemão; grande, educado, preguiçoso, saudável, leal, amigo e vigilante. Jade é uma "menina" cadela rottweiler adolescente; valente, mimada, ciumenta e feroz, principalmente quando está fazendo sua refeição ou quando um estranho da família aproxima-se de seu líder (o poeta das ilusões).
Pio é um periquito experto de plumagem verde e azul cintilante e Pia sua parceira de penas amarelinhas, cor dos raios do sol, folgazona e parideira tal qual a vovó de Henrique que tivera vinte e oito filhos em sua profícua e bem-avinda existência.
Chocolates e sorvetes (marcas diversas), bolos, vinhos, suco de uvas, empanados de frango, bacalhau, postas de peixes, linguiças, camarões, frutas secas, salgadinhos e docinhos, queijos e refrigerantes estavam no carrinho de compras de Henrique.
Uísque, Martini Blanco, água tônica, licores e Campari já existiam de sobra na despensa e geladeira do anfitrião.
A fila não andava. A empregada que fazia o caixa demonstrava cansaço e impaciência. Henrique ouviu uma voz feminina, aflautada, dizendo: “Obrigada. O senhor é muito gentil...”.
Uma criança do sexo feminino berrava acerca de dez metros dizendo: “Não quero esse iogurte! Quero chocolate branco e pronto...”. Uma repositora muito bonita praguejava: “Merda de função! Todos desarrumam para eu arrumar...”.
Um segurança, mais desconfiado do que confiante, olhava e seguia um jovem adolescente, cabeludo, tatuado, malvestido, usando uma touca preta, e com aspecto de vilão. Claro que poderia ser um jovem em crise de personalidade e/ou em conflito com a geração dos pais ou avós. A tagarelice e o vaivém dos clientes era nauseante.
“Posso passar na sua frente com estas pequenas compras?”. Era a mesma voz que ainda há pouco dissera: “Obrigada. O senhor é muito gentil...”. Henrique não vacilou. Olhou para o fim da fila e de supetão contou oito pessoas, todas com cara de poucos amigos.
Não! – Quase gritou o poeta educado e sempre serviçal. - Se quiser passar à minha frente terá que conseguir a concordância de todos os demais que estão atrás de mim.
Os olhos negros da requisitante semicerraram-se. Suas sobrancelhas nigérrimas, bem-feitas, arquearam-se como a exprimir um espanto inesperado. Nunca pensara na possibilidade de alguém contestá-la ou deixar de atender a um pedido seu. Parecia não acreditar no que estava ouvindo.
O homem de cavanhaque e olhar gélido não abriu mão de sua posição na fila e ao olhar para os demais clientes que se encontravam atrás de si viu que não estava sozinho em sua recalcitrante embirra e decisão.
Era óbvio que a moça morena, bonita, de cabelos longos e sedosos não estava acostumada a ser contrariada. Educada, sua voz tornou-se mais aveludada: “Vocês se importam de eu passar à frente desse senhor?”.
Uma voz sumida dentre as demais, no final da fila, disse: "Venha para o seu lugar que é atrás de todos nós". Não percebe que o moço esta certo ao não permitir que você fure a fila?".
Henrique precisava pensar depressa. Um possível bate-boca estava para iniciar. Ele era o alvo das atenções. O impasse teria de ser resolvido a custa de sua vaga na fila que não andava. Sem muito pensar o poeta falou decidindo acabar com a querela incipiente:
“Ah! Esqueci de comprar a cobertura de morango que a santa adora para acompanhar o sorvete de chocolate. Assuma meu lugar, - disse piscando o olho direito para a jovem que pretendia avançar a fila ... - eu sairei do meu lugar porque esqueci algo”.
Essa era a exteriorização do desejo do homem só e abstido. Ele ansiava por uma visita da Santa na casa dos sonhos coloridos, mas não queria demonstrar sua carência implorando por sua visita necessária. Sua volta teria que ser voluntária.
Mas como dizer a Analu sua necessidade de um fraterno abraço se a menor distância entre os que se desejam, isto é, a comunicação, não era possível ser compreendida pela teimosa mulher de corpo veludo?
Após sair da fila Henrique se dirigiu a outro caixa, que por felicidade estava menos demorado e resolveu, dessa forma, o dilema da moça que sequer sabia o nome. Já no estacionamento Henrique ouviu, enquanto arrumava suas compras, a mesma voz sibilante dizendo:
“Obrigada. O senhor é muito gentil...”. - Estaria ouvindo vozes? Não! A moça bonita estava no estacionamento e agradecendo pelo serviço do supermercado, na pessoa de um carregador, que se encarregara de levar as compras da cliente até o seu automóvel.
- Oi! Está me seguindo?” – Perguntou o poeta das ilusões.
- Não! E o senhor? Não acha que já é hora de pelo menos nos apresentarmos? Meu nome é Ulana, sou promotora federal e atuo na capital.
– Ulana? Nossa! Vejo que seu nome é o mesmo de uma ex-aluna ao contrário... O nome de minha ex-aluna é Analu. Que bendita coincidência!
– Analu? Esse é o nome da santa a que se referiu ainda há pouco? É apenas ex-aluna? Não é sua namorada? Sua noiva? Sua mulher? Sua amiga mais íntima?
– Para mim todas as mulheres são santas! Por eu não haver suprido suas totais necessidades fui abandonado há pouco mais de um mês. Analu hoje é uma grande amiga, mas já foi algo mais...! Ela me deixou a ver navios por um capricho feminino, por algo que não fui, ainda, capaz de compreender.
Ah essa complexidade feminina enlouquece e fascina. Arguto, Henrique compreendia a necessidade básica de Analu. De Brasília o poeta das ilusões recebera um telefonema propondo um complexo e surreal enígma.
A voz professoral do amigo "araponga", que trabalhava na Agencia Brasileira de Inteligência (ABIN), situada em Brasília-DF, disse meio sonolenta, talvez zombeteira em demasia:
"Existem mulheres que julgamos santas e tanto assim as cultuamos que é difícil acreditarmos que elas, por suprema e excedente estado de necessidade humana, são capazes de se envolverem em uma complexa rede de intrigas, sem se importarem com a pouca ou nenhuma discrição de sua (s) vítima (s) MESMO DEPOIS DE SEREM AVISADAS. As diferenças de idades e até a saúde de sua (s) conquista (s) é o que menos importa, pois a extorsão de dinheiro fácil é o propósito maior.".
A voz pastosa do amigo araponga continuou dizendo por telefone:
"Os meios utilizados para a satisfação de suas sanhas não são sublimes e tampouco auspiciosas. Não se incomodam nem em se transformarem em fatais vítimas de seu sistema escuso. Decifre as palavras deste enigma (citou em palavras pausadas o parágrafo abaixo transcrito) e lhe darei de presente a estatueta do Zé Preto de porcelana negra que arrematei em um leilão na Ilha das Cobras.".
EIS O ENIGMA QUE, SEGUNDO O INTELIGENTÍSSIMO AMIGO ARAPONGA, FOI DITO POR UMA VOZ EXTREMAMENTE FEMININA:
"Tenha paciência! Poderá acontecer no dia 10 do mês de abril. Quem sabe eu serei sua enfermeira particular? Esses R$ 500,00 (quinhentos reais) já vão me fazer respirar um pouco aliviada e sair do sufoco que ora enfrento. Na guerra, no amor e na precisão extrema tudo é válido!".
Henrique faria desse complexo desafio seu melhor anagrama. Analisaria todas as palavras. Faria combinações. Perscrutaria as intenções alheias e, se preciso fosse, recorreria aos seus alfarrábios do tempo em que fez o curso de investigação criminal no IV Batalhão de Polícia do Exército com o fim de encontrar informações valiosas que o ajudariam a desvendar o misterioso e capcioso enigma proposto.
CONTINUAÇÃO DA CONVERSA DA PROMOTORA COM O HOMEM SÉRIO:
- Tome meu cartão. Se quiser poderemos conversar um pouco mais em outra oportunidade. Ah! Adorei quando disse: "Se conseguir a concordância de todos os demais que estão atrás de mim".
Gostei e gosto muito da postura "marrenta" masculina. Quando eu desejei ou quis passar na sua frente imaginei que ia ceder e no mínimo dizer "fique à vontade". A isso chamo de respeito aos direitos alheios, isto é, dos outros que estavam atrás de você e disciplina casual.
- Tudo bem. Fiz e falei sem questionar méritos. Trocamos telefone?
-Sim. O meu está no cartão. Pode me dar o seu?
-Claro. Atuo aqui mesmo em Campina Grande nas áreas: Criminal, Cível, Trabalhista e Previdenciária, mas faço advocacia como terapia, pois advogando ou não tenho proventos líquidos e certos pelo fato de ter servido à Patria por trinta e quatro longos anos.
- Ah! Militar na Reserva e de quebra é advogado? Ótimo! Entrarei em contato. Preciso aprender um pouco mais sobre o Código de Processo Penal Militar e outros assuntos correlatos.
Seguimos nossos caminhos e assim considerei profícuo o dia que antecedeu a festa de Páscoa. A promotora federal Ulana ligaria um dia? Quem sabe?
Assim como a Páscoa ocorre sempre em dias diferentes, dentro dos anos, poderia acontecer de em um dia eu receber uma comunicação da promotora para me fazer lembrar da doce e acrisolada Analu que me abandonara em plena época de festa cristã.
Mas por que a Páscoa nunca cai no mesmo dia todo ano? O dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 março (a data do equinócio). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas. (A igreja, para obter consistência na data da Páscoa decidiu, no Conselho de Nicea em 325 d.C, definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária - conhecida como a "lua eclesiástica").
A Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, e portanto a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. Esse é o período da quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas.
Com esta definição, a data da Páscoa pode ser determinada sem grande conhecimento astronômico. Mas a seqüência de datas varia de ano para ano, sendo no mínimo em 22 de março e no máximo em 24 de abril, transformando a Páscoa numa festa "móvel".
De fato, a sequência exata de datas da Páscoa repete-se aproximadamente em 5.700.000 anos no nosso calendário Gregoriano.
Para os curiosos, olha aí as datas da Páscoa até o ano de 2010:
Em 2009 - Páscoa em 12 de abril
Em 2010 - Páscoa em 04 de abril