O STATUS DA BACTÉRIA

Tivemos a felicidade de assistir uma palestra do Dr. Roberto Figueiredo, conhecido em suas palestras e aparições na TV como Dr. Bactéria. De uma maneira jovial, descontraída e até divertida apresenta os perigos a serem evitados no preparo e manuseio de alimentos. O profissional de saúde- Dr.Roberto - usa um personagem – Dr. Bactéria - para melhor chegar a seu público. E consegue.

Engana-se quem pensa que o palestrante é daqueles paranóicos em relação ao preparo de alimentos. Ele sabe, como profissional de saúde, que o preparo dos alimentos depende muito mais de quem os prepara do que do ambiente. Explicamos: não é suficiente que um local seja higienizado, construído dentro das normas da vigilância sanitária. Há necessidade do treinamento do manipulador. Há necessidade de conscientização de todos os que manipulam o alimento, começando pelo proprietário, ou proprietária do restaurante, lanchonete, barraquinha etc.

Muitas vezes vemos os holofotes da vigilância sanitária se direcionarem em cima de um grande supermercado ou um restaurante famoso para maximizar um pequeno problema encontrado ali. O que, por um lado é muito necessário, pode, por outro, desviar a atenção para onde o problema se encontra. É sabido que o foco da vigilância sanitária tem status, isto é, direciona-se em cima de quem está estabelecido, preocupado em atender as normas de higiene e segurança alimentar. Nem sempre isso é suficiente. Nas vizinhanças destes estabelecimentos podemos encontrar, sem procurar, vendedores ambulantes de comidas e “sucos naturais”. Estes não são incomodados pela vigilância. Estão abaixo do status da fiscalização.

É sempre bom lembrar que, se o poder público tem status para escolher quem merece ser fiscalizado, provavelmente as bactérias não obedecem o mesmo critério. Se num restaurante ou lanchonete conhecido há todas as instalações em conformidade com o que é exigido, que nada mais é que a garantia de que o consumidor se alimente bem, sem desarranjos posteriores, o mesmo não se pode dizer em relação aos ambulantes, cujos locais de preparação de alimentos não são sabidos. Contudo, se a fiscalização não visita estes "estabelecimentos", as onipresentes bactérias não tem a mesma dificuldade.

Muitas vezes as condições físicas de preparo de alimentos não são as melhores. Mas são compensadas pela preocupação e conhecimento de quem manipula. Isto tudo pode e deve ser levado em conta. Porém, deixar totalmente sem controle é uma temeridade cujo preço já é conhecido. Em 2007 foram 6.320 mortos e mais de 400.000 intoxicados por este Brasil afora.

A maior punição para um comerciante é o abandono de seu estabelecimento pelos clientes. Um ambulante migra de lugar para outro e com isso muda de cliente e esse medo deixa de existir. O cliente, por sua vez, por causa do seu péssimo hábito de alimentar-se em qualquer lugar, muitas vezes premido pelo preço, não chega nem a ter certeza do local exato de sua intoxicação.

Contudo, mesmo adotando alguns bons critérios para escolher o que e onde comer, não convém criarmos pânico em relação a comidas. Como nos demonstra o Dr. Roberto, as bactérias que compõe nosso organismo também agem conforme nosso humor. Assim, uma bactéria “boa” pode deixar de agir assim quando nos enchemos de medos, angústias ou ódio. Saúde é sinônimo de alegria, ou vice-versa. Paranóicos adoecem antes.

Assim mesmo, não cometamos a temeridade de abandonar os bons hábitos. Também não cometamos a temeridade de adquirir maus hábitos alimentares. Alimentemo-nos com o espírito de gratidão direcionado ao dono, ou à dona da mão que preparou nossa refeição. Mesmo que essa mão seja a nossa. Comer deve ser um ato de alegria e de prazer. Estas duas coisas não devem ser prejudicadas pela desconfiança sobre o que vamos comer.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

WWW.luizlauschner.prosaeverso.net

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 20/03/2009
Código do texto: T1496002
Classificação de conteúdo: seguro