Já Raiou a Liberdade?
Já Raiou a Liberdade?
Para responder a essa pergunta, que nos acompanha desde adolescência, compreendemos ser necessário entender o que representa liberdade.
Na adolescência, acreditávamos que liberdade era algo sintetizado pela expressão consagrada de Caetano: "sem lenço e sem documento".
Depois, vem a rebeldia da juventude e passamos a perceber a liberdade como algo materializado na expressão do Chico Buarque: "afasta de mim esse Cale-se".
Caminhando contra o tempo e ao iniciarmos a maturidade, passamos a percebê-la como a expressão do Gil: "meu caminho pelo mundo eu mesmo traço".
Apesar de o tempo passar, continuávamos sem resposta para a pergunta e sem o entendimento sobre liberdade. Isso é assim mesmo. É preciso um sinal, para nos tirar da inércia.
Neiva é um general da reserva e colega de trabalho. Homem de bom nível cultural, contestador e irrequieto.
Foi no momento de um cafezinho que me conseguiu passar, de forma simples e rápida, o dilema psicossocial muito bem caracterizado em uma das fábulas de La Fontaine, segundo ele: "estar seguro ou ficar livre".
A partir desse sinal, decidimos pesquisar um pouquinho e registrar aquilo que julgamos suficiente para, entendermos liberdade.
Do dicionário transcrevemos o que julgamos importante sobre o significado do termo liberdade, no seu aspecto filosófico: “é o efetivo exercício das potencialidades que caracterizam a humanidade na sua essência e a determinação dos limites que sejam a garantia para o desenvolvimento dessas potencialidades - a organização política, social e econômica, as leis, a moral etc. ...- ".
Do livro de Erich Fromm, "Medo à liberdade", destacamos os seguintes trechos:
a)”as mais belas, assim como as mais feias inclinações do homem, não são parte de uma natureza humana fixa e recebida biologicamente, mas provêm do processo social que forma o homem. A sociedade não tem somente uma função supressora, mas também uma função criadora. A natureza do homem, suas paixões e ansiedades são um produto cultural"
b)"existem alguns fatores da natureza humana que são fixos e imutáveis: a necessidade de satisfazer impulsos fisiologicamente condicionados e a de evitar o isolamento e a solidão";
c) "o homem, quanto mais liberdade adquire, na acepção de emergir da união original com os outros homens e com a Natureza, tornando-se cada vez mais um indivíduo, não tem outra alternativa que não a de unir-se ao mundo na espontaneidade do amor e do trabalho produtivo, ou de procurar uma espécie de segurança por meio de vínculos com o mundo que lhe destruam a liberdade e a integridade do seu eu individual";
d) "o indivíduo assustado busca alguém ou algo a que possa prender seu ego, não suporta mais seu próprio eu individual e tenta, freneticamente, descartar-se dele e reencontrar outra vez a segurança, eliminando esse fardo: o seu ego";
e) "o desfazer-se do ego é evidente quando o indivíduo tenta sujeitar-se a uma pessoa ou poder, que considera irresistivelmente superior".
Concluímos que a liberdade está intimamente ligada à individualidade, cuja conquista depende de condições sociais, econômicas e políticas.
Sentimos que sistemas políticos autoritários, economias inflacionárias, sistemas industriais monopolistas, latifúndios improdutivos, cirandas financeiras, desemprego, violência urbana, desorganização do estado, organização do crime, relaxamento do processo educacional e falta de delineamento de princípios morais e éticos contribuem para o desenvolvimento de uma personalidade impotente, solitária, angustiada e insegura.
Personalidade com essas características está sempre disposta a restabelecer a segurança por meio de outros vínculos, que o submeterão a novos tipos de escravidão.
Manifestam-se nos fanatismos religiosos, esportivos ou ideológicos e nas correspondentes idolatrias, bem como em outras formas de alienação.
Certamente nosso processo de evolução está intimamente relacionado à nossa escolha entre Segurança ou Liberdade. Para conquistarmos nossa individualidade e conseqüentemente nos tornarmos livres, tal como Ulisses, precisamos nos fazer de surdos para o canto das sereias, que nos seduzem a vínculos protetores de todos os riscos e males.
Nosso nascimento nos ensina que a Mãe Natureza nos deu a sabedoria para optarmos pela liberdade. Com a ajuda das contrações de nossas inesquecíveis e amadas mãezinhas, abandonamos a segurança do útero para a luta pela conquista de nossa individualidade e da liberdade.
"Segurança ou Liberdade" é um apelo, em rimas, para que todos, sem distinção de raça, credo , ideologia, sexo ou nacionalidade, nos ajudem a responder: já raiou a liberdade?
"Segurança ou Liberdade" representa, em rimas, o dilema psicossocial há muito materializado, em fábula, por "La Fontaine". E mais, é um alerta para as armadilhas da estrada da segurança e os riscos da trilha da liberdade.
Segurança ou Liberdade
Certa vez um escritor,
na busca da verdade,
registrou a dura escolha
do homem na sociedade:
segurança ou liberdade;
segurança ou liberdade.
Se segurança escolho,
liberdade perco,
me aceitam no grupo,
não me digo a verdade.
Vivo a vida morto,
vivo a morte tarde.
Segurança ou liberdade.
Segurança ou liberdade.
Se liberdade escolho,
segurança perco,
marginal me transformo,
com a verdade e sem medo.
Vivo a vida vivo,
vivo a morte cedo.
Segurança ou liberdade.
Segurança ou liberdade.