DIVIDIR É SOMAR?
O nosso querido Amazonas está em perigo. Novamente estão querendo dividi-lo. E, pasmem, amigos leitores, desta vez não é coisa de gabinetes sulistas. É um projeto do senador Cavalcante, do vizinho estado de Roraima. O projeto parece um tanto infantil, porque não leva em consideração as necessidades, nem as estruturas regionais. Faz simplesmente uma divisão territorial.
Há regiões que não têm sequer uma cidade com 10.000 habitantes que possa servir de “capital de estado”. Nessa divisão, deveriam ser criadas estruturas muito boas para servirem a administração destes novos estados. Não estou aqui falando do Estado do Amazonas, que continuaria com a capital em Manaus, mas de outros.
Curioso é ver esta tentativa de divisão simetricamente calculada. Não se trata aqui de um movimento que surge de dentro, como uma possível criação do estado de Tapajós, que tomaria uma parte do Pará e outra parte do Amazonas, tendo na cidade estruturada de Santarém a sua capital. Açambarcaria, possivelmente, a região de Parintins e Maués, para ficarmos apenas no Amazonas. É um projeto puramente técnico que nem leva em conta os anseios da população. Portanto, nem parece ter sido concebido por um político, eleito pelo voto.
O mais curioso é que o projeto está sendo detonado pelos órgãos técnicos que parecem ter mais sensibilidade política do que aquele que o propôs. A maioria do povo do Amazonas espera que não seja levado avante. Até mesmo Manaus, cuja arrecadação representa 98% do estado não é favorável à divisão.
Apenas para exercitar o raciocínio, pensemos que seja executado o projeto do senador Cavalcante. Vamos refletir um pouco sobre o quanto ele está na contramão do modismo da “preservação ambiental”. Para desenvolver estas regiões será necessário criar infra-estrutura. Para criar isso, há necessidade de mexermos com a natureza. O interior do Amazonas que hoje serve muito mais como um modelo de preservação da floresta, passaria a te vida própria e necessidades próprias que, fatalmente redundariam em devastação.
O que faria o IBAMA, que hoje impede até o conserto da estrada que liga Manaus a Porto Velho? Se a ligação por via terrestre do importante estado do Amazonas ao resto do Brasil encontra entraves “ecológicos” como faríamos para ligar as outras regiões por estrada sem agredir a natureza? Ou não seriam ligadas e ficariam tão ou mais abandonadas que hoje?
O Amazonas é imenso e deve ser melhor conhecido. Eventualmente até poderá sofrer divisões desde que elas partam da necessidade do povo que ali habita. Os povos ribeirinhos e das matas querem participar do progresso mundial, mesmo sem saber direito o que seja este “progresso”. Progresso talvez não fosse conhecer o interior das matas? Salvar da extinção não só as plantas e animais mas também os 86 idiomas da Amazônia? Este “progresso” teria de passar pela divisão administrativa? O povo distante das grandes cidades vive de maneira diferente que os urbanos, mas vive. Se jogarmos com proporções, talvez venhamos a descobrir que eles são mais felizes.
Com a divisão Manaus perderia o status de capital do maior estado brasileiro. O governo amazonense perderia a “moeda de troca” que é a preservação do interior em contrapartida ao desenvolvimento do pólo industrial na capital. Quando o povo do interior se conscientizar que estão sendo usados como moeda e se organizarem, talvez então haja uma busca por independência que venha das necessidades dos habitantes do interior. Então sim, poderemos ver como positiva uma divisão, porque representará uma soma aos direitos dos cidadãos.
Luiz Lauschner – Escritor e Empresário
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