A terra é de todos
“É a parte que te cabe neste latifúndio... É uma cova grande pra teu defunto parco” esta frase presente na canção “Funeral de um lavrador” de João Cabral de Melo Neto e Chico Buarque caracteriza o que acontece com aqueles que lutam pela floresta e reforma agrária neste país.
A ganância dos fazendeiros sobre as terras, em querer tudo aquilo até onde os olhos podem enxergar é um fato que há muito vem causando mortes e continua sem solução. Há vinte anos o Brasil perdeu Chico Mendes, mais uma vítima da violência causada pela arrogância de grandes fazendeiros e apoiada pela justiça impotente e incapaz de defender os homens de bem.
No Brasil, quem abre a boca para reclamar algo que está errado corre grande riscos de pagar com a vida, vivemos na democracia do medo, amparados pelas instâncias públicas que pouco apóiam o cidadão.
Muitos já morreram neste país lutando e sonhando com um pedaço de terra e quantos ainda morrerão? Um país de dimensões continentais deixar prosseguir guerras civis por terras? Terras imensas que dá e sobra para todos, mas que emperra no poder paralelo dos fazendeiros.
E depois de Chico Mendes vieram outros defensores que foram brutalmente assassinados por pessoas torpes tomadas pela cobiça em ter mais e mais. O Padre Josimo e mais recente a missionária Irmã Dorothy foram mais uma vítima do poder paralelo dessas pessoas que se acham donas do mundo e não encontram leis que as façam parar.
Todos os governantes que chegam ao poder prometem realizar a reforma agrária, mas mostram-se incapazes e nos fazem crer que tem pouco poder diante os fazendeiros e mesmo sendo um presidente da república não possui coragem de encará-los e mostrar que vivemos em pleno Estado de direito e somos regidos por leis que devem ser cumpridas e respeitadas.
Enquanto a minoria detiver a maioria das terras desta nação fica impossível promover igualdade, enquanto a justiça servir apenas para poucos não teremos verdadeiramente justiça, teremos uma parcela da população regida por lei e a outra parte comandada por si mesma. E assim a maioria dos filhos desta pátria amada terá a terra apenas quando desencarnar, quando a vida lhe for ceifada ele pagará pelo estreito pedaço, uma cova, que eternizará os seus desejos em possuir um chão, só assim terá o que lutou para conseguir durante toda a sua vida.