CONVENTO DA PENHA – 450 ANOS – ONDE A HISTÓRIA, A FÉ E A LENDA SE FUNDEM.

Nos idos do mês de maio de 1535 fundeava na enseada da futura Vila Velha, até então terra dos índios goitacazes, a Caravela Glória trazendo o luso donatário Vasco Fernandes Coutinho que vinha tomar posse da Capitania, à qual deu o nome de Espírito Santo.

Encontrou aqui, beleza natural estonteante que deixou a todos sem fôlego! Muitos eram os pontos fortes desta então Capitania, mas dou destaque àqueles que sempre extasiam meus olhos e enchem de luz e paz meu coração capixaba: a verde Mata Atlântica, com sua rica flora e fauna, palco de orquestra composta pelas mais variadas espécies de pássaros; suas montanhas esculturais criadas pela mão da grande artista natureza, pedras que fecundam o próprio chão; e o seu mar pincelado com o verde liquefeito de suas matas e o azul liquefeito de seu céu que juntos lhe dão a cor verde-azul que se expande numa extensão infinita onde meus olhos pousam cheios de amor e admiração!

A esperança que dominava o nosso donatário ao desembarcar nas praias deste Novo Mundo foi aos poucos se apagando em razão das lutas entre colonos e índios. Vasco Fernandes Coutinho mandou vir de Portugal alguns padres missionários para que pacificassem os nativos assustados com a presença de estranhos em seus domínios.

No ano de 1558 chegou aqui o Missionário Espanhol Frei Pedro Palácios que trouxe na sua bagagem um belíssimo painel de Nossa Senhora da Penha, o mesmo que ainda se encontra no Convento da Penha. Procurou abrigo numa caverna no pé da montanha para onde levou seus pertences e também o painel de Nossa Senhora. Quando no dia seguinte acordado pelo gorjeio dos pássaros e o marulhar das ondas do mar que no seu vai e vem levavam e traziam de volta os seus sonhos de missionário depositando-os sob a forma de branca espuma sobre a areia morena, percebeu que o Painel de Nossa Senhora havia desaparecido. Preocupado saiu à procura do mesmo, no que foi ajudado por colonos e depois de longa e dolorosa busca, exauridos, arranhados, machucados, encontraram-no há 154 metros de altitude, bem no cume da montanha entre duas frondosas e verdes palmeiras.

Levaram-no de volta para a caverna e no dia seguinte, segundo a lenda, lá estava Ela outra vez de volta ao cume da montanha, entre as mesmas duas verdes e frondosas palmeiras. Este fato aconteceu por três vezes, até que Frei Pedro Palácios percebendo que Nossa Senhora queria ter uma melhor visão sobre seus filhos para que pudesse protegê-los de todas as vicissitudes e perigos, atendendo a vontade da Santa, construiu a sua capela no lugar escolhido por Ela. Ele próprio, velho e alquebrado, mas homem de muita fé e coragem carregou lá para o píncaro os primeiros materiais para a construção da ermida. Realizado seu grande sonho, a poder de muito trabalho e esforço a capela foi inaugurada com toda a pompa merecida no dia primeiro de maio de 1570. Nesta mesma data, levado por Anjos, aos sons dos sinos da sua pequena capela partiu feliz o velho e santo missionário para sua morada eterna.

Hoje o Santuário da Penha abrange uma área de 632.226m2. No seu interior abriga séculos e séculos de história, de fé e esperança, de devoção e coragem e é sem dúvida considerado o maior atrativo turístico e religioso do Estado do Espírito Santo. Fica localizado no Município de Vila Velha, integrante da região da grande Vitória, Capital do Estado. A faixa de Mata Atlântica existente no Santuário da Penha é o mais importante pulmão verde da cidade de Vila Velha e abriga uma variada flora e fauna. A festa da Penha é considerada hoje a terceira maior festa religiosa do País. Inúmeros são os ônibus de romeiros chegando de várias regiões do País. O povo sofrido carente de suas necessidades mais básicas tais como moradia, emprego, e a lamentável e precária saúde, une-se e numa belíssima e eloqüente manifestação de fé e pede socorro a Virgem da Penha, seu único abrigo. São pedidos feitos através de orações, procissões, cânticos, promessas e muito, muito sacrifício!... E com tanta fé, se expandem através do indecifrável, do subjetivo, encontrando respostas no infinito universo onde reina a Virgem da Penha.

Os que alcançaram suas graças, aqui acorrem para agradecer. São os pagadores de promessas, que trazem oferendas, a pessoa curada ou até martirizam o próprio corpo subindo de joelhos as enormes escadarias do Convento, sob um sol implacável ou chuva abundante. Todos em uníssono louvam a Virgem da Penha e nela depositam toda sua confiança e esperança, numa vibração harmoniosa. Têm nela o seu abrigo e seu consolo. É a Mãe que abraça com carinho a este seu povo de tanta fé. É a mão santa que oferece e afaga que ampara e segura...

Nas noites de lua cheia, guardo ainda a imagem que tatuei no meu coração de criança. O manto de Nossa Senhora entrelaçado junto ao manto do luar estendido sobre a nossa cidade protegendo-a de todas as ameaças e perigos envolvendo-nos num abraço de Mãe do Céu e protetora do povo capixaba. E esta lembrança me trás uma imensa paz!