TDAH – TRANSTORNO DEVIDO AUSÊNCIA DE (BONS) HÁBITOS
Nos últimos anos tem me preocupado muito a facilidade com que alguns colegas meus, professores, têm dito aos pais que seus filhos estão com TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ou também chamado DDA – Distúrbio do Déficit de Atenção.
Minha preocupação vem do fato de que, mesmo com critérios de diagnósticos discutíveis no meio médico, o consumo de medicamentos, usados no tratamento do transtorno, só faz aumentar: e isso eu tomo conhecimento por meio das informações que me são passadas pelos pais desses alunos.
Muitos pais parecem ficar felizes com tal diagnóstico porque encontram nos psicotrópicos que “acalmam” e “concentram “ crianças consideradas hiperativas e com baixo rendimento escolar uma desculpa para encobrir a falta de respeito ao próximo ( colegas, professores, coordenadores, orientadores, diretores ) , com a qual seus filhos se acostumaram diante da falta de educação deles, que deveria vir de casa: cada vez mais ausentes da rotina dos filhos, eles dispõem de menos tempo e paciência para educar, ensinar limites e dar atenção. Nesses casos o remédio é sempre a maneira mais fácil de amenizar a questão.
A especialista em psicopedagogia, Laura Monte Serrat Barbosa, de Curitiba (PR) diz bem do que vem ocorrendo nesse sentido : antigamente as crianças tinham horário para almoçar e fazer suas obrigações. Hoje, não. Passam a maior parte do tempo longe dos pais e fazem elas mesmas seus horários. A sociedade torna as crianças hiperativas e depois as medica. A conseqüência mais trágica disso, para ela, é responsabilizar a criança pelo atraso da escola, introjetar a doença e prejudicar a construção da auto-estima com rótulo que lhes é colocado. Ela revela que teve um aluno que, quando pedia algo a ele, ele respondia : “Mas eu tenho TDAH “ . E não fazia mais nada porque acreditava que era incapaz.
Por outro lado, os educadores parecem não estar preparados para trabalhar com alunos fora dos padrões ideais, tratando-os com hospitalidade, ou seja, com acolhimento afetuoso. Em geral , esse transtorno é sempre detectado em crianças que incomodam porque são contestadoras, pois, em muitos casos, na entrevista com os pais, os alunos demonstram uma enorme facilidade quando o assunto é computador, ou seja, não aprendem na escola mas aprendem assuntos mais complicados no cotidiano? Onde fica o distúrbio cognitivo detectado em sala de aula ?
Recentemente assisti ao filme “Uma mente brilhante” , sobre a vida de John Nash, Prêmio Nobel de Economia, em que seus professores da escola não reconheciam sua grande capacidade intelectual e pensei : quantos gênios não estão sendo castrados e sedados a fim de permitirem que os médicos continuem ganhando mais dinheiro, os grandes laboratórios vendam mais remédios, os pais recebam menos reclamações sobre seus filhos e alguns alunos continuem a se aproveitar da situação de “doentes” por conveniência ?
Para pais e educadores interessados no assunto, sugiro leitura do artigo “ Nenhum Remédio Educa “ , de Lívia Perozim , na REVISTA EDUCAÇÃO de dezembro de 2005.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO