DE OLHO NO BOLETIM
Todo final de ano a história se repete: pais que durante o ano letivo não tiveram tempo nem de ir ao colégio para receber o boletim de seus filhos, agora aparecem, cheios de culpa pelo abandono parcial da prole, e querendo remediar o decorrente complexo de culpa, acusando a escola pelo fracasso escolar dos filhos.
Içami Tiba, reconhecido mestre em Educação, em seu novo livro “Adolescentes: quem ama, educa ! “, trata, dentre outros assuntos, no capítulo 2 , página210, da importância do boletim.
“ É importante os pais estarem atentos às provas, conferirem os boletins da escola desde o início do ano ( e não só aparecerem no colégio com advogados, tios , avós, cachorro de estimação, e todo mundo querendo dar aulas de educação ) e comentarem o resultado com o filho. O boletim é uma das referências de como eles estão se saindo nos estudos. Faz parte da vida cobrar o que se delega. O filho tem o poder de estudar. Os resultados podem ser melhores quando se cobra o boletim ( o boletim de alguns alunos, em geral os que acabam reprovados, ficam no colégio, às vezes o ano todo, sem que alguém tenha tempo de ir buscá-lo, mesmo após telefonemas e avisos solicitando a tão fundamental presença) .
Nenhum profissional pode ser bom se não cumprir as suas obrigações e souber atender bem os seus clientes ( patrões, sócios, parceiros, concorrentes, etc) . Com obrigações e prazos não cumpridos, perdem-se empregos, contratos, concorrências, etc.
Pais que não acompanham o boletim correm o risco de serem surpreendidos por reprovações ( e em geral o são ) . A repetência escolar geralmente reflete duas falências : a do próprio repetente (que não são cobradas pelos motivos colocados no início desse artigo ) e a do seus pais, cujo investimento só deu prejuízo.
As possibilidades de passar de ano são muito maiores do que as de repetir. Para ser aprovado, basta que se produza um pouco mais que a metade do que lhe é solicitado.
Para não ser reprovado, ainda existem várias oportunidades, tais como recuperações semestrais, finais, etc. Repetir significa fracassar em tudo isso.
O que magoa e revolta os pais é a reação do filho à sua repetência com uma grande indiferença. Até parece que não foi ele que repetiu o ano (em geral, pais de alunos reprovados querem encontrar culpados, de preferência, fora do âmbito familiar ). Os pais ainda se preocupam com a auto-estima do reprovado, como o filho vai olhar seus colegas aprovados, como vai ser visto pelos mais novos colegas de classe, etc.
Todos esses sofrimentos e prejuízos poderiam ser evitados caso o boletim não fosse negligenciado. É impossível que um filho bem-nascido , normal, numa escola média, não consiga recuperar um primeiro bimestre malfeito.
Infelizmente o boletim, apesar de ser muito precário, ainda é um dos únicos meios da avaliação para acompanhar o desempenho do estudante. Portanto, não importam quais sejam as conversas, explicações ou desculpas dos filhos, nada deve justificar uma nota ( ou conceito) baixa e muito menos uma repetência escolar.
Os pais delegaram aos seus filhos o poder de estudar. Está claro que têm que cobrar o boletim “ .
O texto é de Içami Tiba, mas os comentários entre aspas e os destaques em negrito são feitos por mim.
Portanto, para evitarmos dissabores e cenas desagradáveis de pais desesperados — por culpa exclusiva de filhos irresponsáveis — ao final de mais um ano letivo que se inicia, vamos ler “Adolescentes: quem ama, educa !” para conhecer e dar mais atenção aos filhos adolescentes de hoje, muito mais informados, globalizados e independentes que os do passado, mas mais abandonados, tendo, em alguns casos, terceirizada sua formação e educação.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO