CISSÉ E ROBÉRIO DE OGUM
“ O São Paulo é muito fraco.
Nós vamos ganhar de 5 a 0 “
Djibril Cissé
Na semana do jogo entre São Paulo e o favorito Liverpool, Robério de Ogum, no programa do Ratinho, disse que o São Paulo não seria tricampeão mundial interclubes e nem a seleção brasileira seria hexacampeã do mundo.
Djibril Cissé, atacante do Liverpool, deve ter visto o programa do Ratinho e ser assíduo freqüentador do portal de Robério, pois disse aos jornalistas, horas antes da partida, que não tinha dúvidas : “O São Paulo é muito fraco. Nós vamos ganhar de 5 a 0”.
No gramado de Yokohama , no Japão, a equipe tricolor venceu o Liverpool por 1 a 0 e conquistou o Mundial de Clubes pela terceira vez, passando a ser o único clube de futebol brasileiro a compor , juntamente com Milan (ITA) , Boca Juniors (ARG) , Nacional (URU) , Penarol (URU) e Real Madri (ESP), a relação dos tricampeões do mundo na modalidade : ninguém é tetra, ainda.
O autor do único gol da partida foi um Mineiro nascido no Rio Grande do Sul que, com sua atuação, fez-me lembrar o deus Shiva em sua forma Nataraja. Nesse aspecto, Shiva dança dentro de um círculo de fogo onde cria, conserva e destrói o universo, incansavelmente. Nataraja representa o eterno movimento do universo que foi impulsionado pelo ritmo do tambor e da dança. O mesmo Mineiro fez-me lembrar Kali, uma das manifestações de Parvati, esposa de Shiva. Kali é Parvati enfurecida. É muito parecida com o próprio Shiva, com quatro braços, demonstrando muita agilidade e força.
Cada vez que um inglês se aproximava da bola, pernas e braços do pequeno Mineiro, camisa 7, jogador de menor estatura entre os 22 em campo, envolviam o adversário, e, no círculo de fogo formado por camisas vermelhas ele destruía incansavelmente as jogadas pretendidas por Gerrard e seus companheiros, para , em seguida, impulsionado pela torcida tricolor, no Morumbi japonês, dar vida ao gol que poria fim a 11 jogos sem sofrer gols, do supostamente imbatível Liverpool: 26 minutos do primeiro tempo, Fabão faz um lançamento longo da lateral direita para o campo de ataque, Aloísio domina no meio do campo e toca na direita para o volante Mineiro/Shiva que corta a área adversária em diagonal, e chuta a bola no canto direito de Reina — ou melhor, reinava.
Rogério Ceni, capitão e goleiro artilheiro, melhor jogador em campo e do torneio, levantou a cobiçada taça após vôos sensacionais de águia buscando o ninho — o ângulo esquerdo superior de sua baliza — que levaram à loucura o atônito clube inglês que via, mais uma vez, cair por terra, diante do fraco e “Bambi” São Paulo, suas pretensões de ser, pela primeira vez, campeão mundial.
E por falar em Bambi, o Corinthians, tretacampeão, fez-se representar no evento, da única maneira que até agora, conseguiu pisar o gramado de Yokohama, quando um torcedor da Camisa 12 invadiu o campo carregando nas mãos um brinquedo de pelúcia do personagem Bambi interrompendo o jogo e quebrando as varetas de sustentação da rede, que se quebraram, paralisando a partida por mais de 4 minutos: era o Corinthians sendo mal representado — time da maioria do sofrido povo brasileiro, com nome inglês e tendo como melhor jogador um argentino — em campos internacionais.
Que venha 2006 com a Copa do Mundo na Alemanha e com ela a esperança de que Robério de Ogum não acerte novamente e que nossos jogadores, favoritos, aprendam com o erro de Cissé, e não provoquem nossos adversários : Ad partus ovium noscuntur pondera ventrum —
No fim é que se cantam as glórias.
Salve o tricolor paulista...
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO