PILEQUE ELEITORAL
Político oportunista que se preza, findo qualquer embate nas urnas, está sempre apto a içar sua escadinha para o pleito subsequente. Não importa se perdeu ou ganhou mandato. Planta pé de espera, não desiste. Quando portador de mandato, espreita o cargo hierarquicamente acima.
Venceu um sujeito para vereador? Saiba o distinto eleitorado: ele sairá na escadinha para deputado, com toda certeza. Tenta aparecer, dá entrevistas, propõe título de cidadania, sugere novos nomes de rua, torna-se colunável, vai às missas todas de sétimo dia. Enfim, ele faz um escarcéu de mídia. Está direito, tem que se divulgar.
Mas, coitado, na montaria parlamentar, não tem um só projeto de serventia popular, pois a mão não executa o que a cabeça não comanda. E vai daí que político oportunista é uma lesma. Contudo, com cavilação, ainda embrulha todo o pessoal. Também passa a perna em Deus e o mundo, com grandiloquentes fanfarronadas.
Prefeito montou pracinha nova, calçou de pedra tosca um beco lá nos confins? O edil, munido de seu contumaz oportunismo, vai é bancar a ser o pai das realizações municipais, mesmo sem bater um prego. E o senhor prefeito? Bem, se faz bonito, por que não pôr o pé na rampa sucessória da governadoria ou da excelência da deputância, ainda que esteja no primeiro ano de fanfarra da administração do município? Mas está direito, tem que se divulgar e propagar “suas” realizações.
Com o deputado (oportunista, claro) acontece o mesmo. Corrijo: seu raio de ação é bem maior. A parada torna-se estadual. O coisica viaja pelo interior, visita as tais “bases eleitorais”, digo melhor, ainda, os seus famosos currais de cabresto, em geral herdades de finados ex-políticos da região. Nessas viagens, para fazer mimo às comunidades, o “representante do povo”, sendo oportunista de escol, para até onde não faturou um voto. E aí, na distinta Câmara Municipal, lasca verbo de quem fala grosso. Quem sabe, na próxima vez que houver um pleito eleitoral...
Ah, oportunista com auto-estima não lambe canjica da oposição. Aliás, está aí o seu traço marcante: anda sempre assim, enrabichado, com o Poder Executivo. O governador precisa contar com o voto desse gajo útil para passar no lombo do zé-povinho projetos impopulares. Volta e meia, o “nosso” lídimo representante (oportunista, claro) promete em tom de decreto-lei o correligionários do lugarejo, com tapinhas no ombro: “Na próxima audiência com Sua Excelência, o senhor governador, eu resolvo aquela sua pendenga, homem. Deixa comigo.”
E a coisa não diverge muito com o federal. Ou seja, como dizia o Stanislaw, o depufede, quase sempre empoleirado lá no Distrito Federal. Este, o depufede, faz tudo que o estadual, às vezes menos ainda. Apenas voa mais nos fins de semana, via de regra após o cair da tarde das quintas, quando Brasília vira deserto. Antes de aportar em Quixelô, Aiuaba ou Ererê, ou em qualquer município do território nacional, o depufede oportunista, insigne membro do excelso Congresso Nacional, já telefonou e/ou passou pelos ministérios para atualizar-se. E, no Pinto Martins, mas pode ser no Salgado Filho, na Pampulha ou em qualquer outro aeroporto brasileiro, o nobre depufede concede aquele “furo” à crônica especializada, sempre no bem-bom de uma sala VIP.
Aí, na sala VIP, cheirando a bom-ar, o “nosso” depufede descasca a política de juros altos, faz fritura do último plano econômico do governo, rifa o PAC, mete o pau na sigla tal ou qual, jura que tem uma carta no bolso do colete, esmurra as privatizações das estatais, ou defende-as com o fervor de arqueiro medieval. Tanto faz: defende-as ou as critica com azedume. No final das contas, o distinto proclama-se em ar grave um “soldado do partido”, desde que no partido da situação.
Segundo ele, depufede, se for para o bem-estar de todos os coestaduanos, o nome dele, deputado federal por tal partido, ficará ali, posto na mesa das articulações, para disputar a governança do Estado. Então partirá mesmo para a senatoria, que seus interesses vão ao encontro dos interesses do povo e ele, pessoalmente, não reza por interesses individuais de seu ninguém. No mínimo, candidatar-se-á a senador, se for para o bem dos elevados destinos do seu estado de origem. Mas disputará cargo hierarquicamente superior, sim, pois está direito concorrer. Isto é próprio do estado democrático.
Vida pública, neste quase continente? Trampolim para se fazer como o tico-tico. Pulo aqui, puladinha acolá. Virou, mexeu, um gajo com mandato muda de partido. Mas que partido? Literal, é mesmo: par-ti-do. Ciranda de anseios e vontade de gulosos. Se não virar ministro no percurso, governador já olha para o degrau de cima, o Senado.
Ministro quer apenas ser presidente, e por aí vai. Senador aspira à batuta de governador, senão Planalto nele. E este, o governador, sendo um tipo pintoso e loquaz, por que também não se enxerir para subir a rampa do Planalto? Oxente, mas em clima de pileque eleitoral não se trabalha. Ou só se trabalha em interesses próprios? O povo é que fica em maus lençóis. Enfim, oportunismo tem seus brios à Maquiavel. Está direito. E tudo, nesta pátria de oportunismo, não é democrático?
Fort., 12/12/2008.