CRIMES EM NOME DE DEUS

Os jornais são abastecidos diariamente por notícias de crimes em nome de Deus. Não há uma estatística oficial sobre a porcentagem desse tipo de ato, mas acredito que os “crimes santos” estão entre os campeões da matança mundial. Nunca se sacrificou tantas vidas inocentes pelo simples fato de se impor uma verdade, de punir um desigual ou simplesmente, marcar território.

Quem acha que a barbárie religiosa é um privilégio dos extremistas islâmicos está enganado. Nos, cristãos, carregamos em nossas veias o mesmo veneno. Também matamos por causa da fé. Também nos sentimos portadores exclusivos da verdade. Também sentimos necessidade de atacar os infiéis. Está certo que ainda somos muito ineficientes e não dominamos as técnicas de homens-bomba, atentados e emboscadas sagradas. Nossas técnicas são mais sutis.

Basta transportar nosso foco para a Irlanda. O conflito entre protestantes e católicos se arrasta por muitos anos, deixando como saldo um banho de sangue e muros sociais intransponíveis, numa sociedade considerada instruída, abastada e culturalmente forte. A perseguição entre as duas religiões tem gerado uma fratura social num país, considerado civilizado.

Enquanto condenamos os ataques de grupos islâmicos a embaixadas de países ocidentais em territórios árabes, a perseguição às mulheres regidas pela ditadura do Corão, nos esquecemos de que há mais de 70 países que perseguem legalmente homossexuais. Entre essas nações algumas são consideradas pátrias cristãs. O pior é que a perseguição é com base na própria legislação. Uma coisa é reconhecer que a prática do homossexualismo é abominável aos olhos de Deus, de acordo com a Bíblia. Agora, “punir” com exílio social, agressão física, exclusão dos direitos humanitários e até pena de morte um ser humano por causa de sua escolha sexual constitui crime aos olhos de Deus. O segundo mandamento é claro ao afirmar que devemos amar o próximo como a nós mesmos. Em momento algum diz que devemos amar os heterossexuais e odiar os homossexuais. A nossa missão como cristãos esclarecidos é pregar as boas novas, sem excluir do nosso círculo os diferentes. Amar e respeitar o próximo não é sinônimo de aceitação de seus pecados. O próprio Jesus disse que não ama o pecado. Ama o pecador. Suponho que não somos mais puros do que o Nazareno. O arrependimento foi inventado para que o pecador possa ter um encontro verdadeiro com Deus e alcançar um processo de transformação de sua vida. E de forma criminosa, temos impedido que homossexuais possam percorrer esse caminho. Tudo isso por causa da nossa pureza.

Quando nos propomos a padronizar alguém não o fazemos porque queremos exatamente o bem dessa pessoa. Agimos assim para satisfazer a nossa exigência. Nos sentimos mais confortáveis, vendo o nosso próximo num plano concebido por nós. Recriamos o próximo à nossa imagem e semelhança. Quando chegar o dia em que ao invés de enxergarmos no próximo a sua condição de errante, conseguirmos lançar um olhar de irmão, haverá em todos os corações uma sublime comemoração. Será o momento em que começaremos a dinastia do segundo mandamento.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 10/12/2008
Código do texto: T1328284