FLORES DA CUNHA (RS)
ORIGEM NA IMIGRAÇÃO ITALIANA
Dos meados para o final do século XIX, o quadro político-econômico e social na Itália era muito difícil. Além de doenças e epidemias ameaçarem e sacrificarem os italianos, o extremo fracionamento da terra, os salários baixos e os elevados tributos reduziram demais as oportunidades, para os italianos plantarem e produzirem.
Nessa mesma época, o governo brasileiro estava interessado em colonizar para: devassar desertos; ocupar terrenos; abrir e tornar seguras estradas; viabilizar e proteger a navegação dos rios; defender fronteiras; e povoar regiões com localizações geográficas, que as sujeitavam a conflitos, por disputas de territórios. Assim, incentivou a imigração.
A partir do ano de 1875, décadas depois de a chegada dos alemães, teve início a vinda dos imigrantes italianos para o Brasil.
O imigrante, ao deixar sua terra natal, buscava uma vida melhor. Idealizava muita terra fértil e, portanto, comida farta.
Acontece que para as famílias Soldatelli, Fontana, Borguetti, Manbrini, Letti, Piardi, Grizza, Conte, Carletti, Oldra, Curra e Rossetto, que chegaram em 1877 ao noroeste do Rio Grande do Sul, onde hoje é o município de Flores da Cunha, a terra não era fértil, como haviam idealizado.
O solo rochoso e o relevo acidentado, que associados às enxurradas constantes, lavavam a terra e tornaram muito difícil o seu cultivo.
As famílias imigrantes, que vieram ou da província austríaca de Trento, ou das províncias italianas de Cremona, Mântua e Pádua, deram origem aos povoados de São José e São Pedro. Algum tempo depois, o primeiro povoado foi incorporado pelo segundo e logo em seguida passou a se chamar Nova Trento.
Em 1890 era criado o Município de Caxias do Sul e Nova Trento era o seu 2º distrito.
Em 1920, os nova-trentinos, liderados pelo Capitão Joaquim Mascarello, conquistaram a emancipação de Caxias do Sul. Mas, foi só em fins de 1935 que, em homenagem ao general e interventor do Rio Grande do Sul, José Antônio Flores da Cunha, o município passou a se chamar Flores da Cunha, também conhecida como Terra do Galo.
TRAPAÇAS ORIGINARAM O NOME E O SÍMBOLO
O interessante é que ambos os nomes foram decorrentes da boa fé de seu povo, que foi manipulado em um dos casos por políticos e, no outro, por um mágico.
A manipulação por políticos aconteceu em 1933, quando se realizava a eleição dos deputados da nova assembléia constituinte que, no ano seguinte, escolheria o presidente da nova república – Getúlio Vargas.
Em Nova Trento, para ganhar a eleição, o Partido Republicano Liberal, majoritário, iludiu o povo com a promessa de que conseguiria, junto ao governo do estado, a extensão do ramal ferroviário, que ligaria Nova Trento a Caxias do Sul.
A forma de manipulação empregada foi conseguir, junto a Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, equipe de técnicos para a realização de estudos para a implantação do ramal ferroviário e, ao mesmo tempo, conseguir que a igreja pressionasse os seus fiéis, ameaçando até com excomunhão, aqueles que não votassem nos liberais.
Os liberais venceram as eleições, o tempo passou, o trem não chegava e o desgaste do prefeito liberal Heitor Curra aumentava.
Então, em 1935, tentando resgatar o prestígio junto ao interventor e a comunidade, Heitor Curra liderou um movimento para mudar nome de Nova Trento para o nome do interventor. Sugeriu à comunidade, que a homenagem influenciaria a decisão de implantar o prometido ramal e que , caso a mudança não se concretizasse, poderiam ocorrer represálias. E, mais uma vez, a manipulação política saiu vencedora.
Assim aconteceu o “conto do trem”, vamos agora conhecer como aconteceu o “conto do galo”, que acabou por tornar conhecida Nova Trento, hoje Flores da Cunha, como Terra do Galo.
Estava se exibindo por outras cidades um mágico que hipnotizava perus e os fazia dançar.
Chegara a vez de Nova Trento. O antigo cinema estava cheio. A população pagara o ingresso e ansiava pelo espetáculo, que consistia em iludir a platéia, colocando os perus em uma chapa quente e ao fundo uma música agitada, fazia a platéia ter a impressão que os perus estavam dançando.
Acontece que o mágico percebeu que não poderia fazer o espetáculo, devido os pés dos “perus dançarinos” terem ficado bastante feridos com o calor das chapas. Assim, alterou o espetáculo.
O mágico surgiu no palco com um galo e disse que, por meio de um pó mágico, recomporia a cabeça ao corpo do galo, que anteriormente seria degolado por um dos presentes.
O mágico convidou duas pessoas para participarem da degola do galo. Um dos participantes segurou o galo pela cabeça e o outro pelo corpo. Decepou a cabeça do galo , a cabeça nas mãos de uma das pessoas e o corpo na da outra. Pediu licença ao público para ir apanhar o pó mágico, saiu pelos fundos, montou seu cavalo e sumiu.
ECONOMIA , CULTURA E TURISMO
Flores da Cunha encontra-se no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Tem uma população de 20.000 habitantes e possui uma das maiores rendas per capta do país. Sua atividade principal é a produção de vinho. É o município que mais produz uva e vinhos per capta no Brasil.
Além da viticultura, sua economia está embasada na indústria de móveis, malhas, confecções, na produção de hortigranjeiros, no turismo e no comércio.
Flores da Cunha com seus pontos turísticos e seus eventos: a Festa Nacional da Vindima; a Feira de Inverno; a Vindima da Canção; o Magnar di Polenta; a Festa da Colônia; e a Procissão de Corpus Christi, atrai milhares de turistas todos os anos.
Em Flores da Cunha existem mais de 200 cantinas espalhadas pelo interior do município, que garantem satisfação gastronômica ímpar.
Quem visita a “Terra do Galo”, ao apreciar a monumental torre de 55 metros, toda construída em pedras de basalto, sente a força da esperança da migração italiana. Ao deparar com a enorme escultura do galo no Parque da Vindima, percebe o espírito alegre e tolerante de um povo que fez de uma trapaça sofrida, o símbolo da cidade.
Certamente, nas visitas às “casas de pedra”, os turistas conseguem perceber e se emocionar com o essencial, aquilo que a história plasmou, mas que permanece invisível: a bravura e a solidão dos que iniciaram a realização de um sonho de uma vida melhor e mais feliz numa Nova Trento.
Nos passeios pelas limpas e largas ruas da cidade, percebe-se a responsabilidade e o carinho dos descendentes, que deram continuidade ao “sonho emigrante”.
Os que visitam Flores da Cunha percebem a cultura do povo florense: no ainda vivo dialeto vêneto; nos cafés coloniais; nos pratos típicos servidos nas cantinas; na música; e no costume das famílias reunirem-se junto à cozinha.
“Terra do Galo” são rimas que brotaram do coração e da mente - nascente de nossas emoções, sentimentos e pensamentos - de um desses milhares de turistas que tiveram o privilégio e o prazer de conhecer essa terra bela de tantos encantos e lindos recantos.
Terra do Galo
Sou filha da esperança
de “buona gente” por vida melhor,
com a insegurança
por um Brasil menor.
Apesar de rochosa e acidentada,
o suor da imigração
me fez serra emparreirada
com vales de trigo para o pão.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo,
dos Slaviero, Piardi, dos Letti,
dos Rossetto, Fontana, dos Boscatto,
dos Carpeggiani, Lunardi e dos Borguetti.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo,
dos Oliboni, Grizza, Conte e dos Carletti.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo,
a alegria da fé, na festa dos santos,
e fartura na mesa com suor e trabalho.
Sou terra bela de tantos encantos.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo,
crença na reza, saudades nos cantos
e bravura nas casas de pedra e lagos de vinho.
Sou terra bela de lindos recantos.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo.
Sou terra bela de tantos encantos.
Sou Flores da Cunha, a Terra do Galo.
Sou terra bela de lindos recantos.