Urbanidade em xeque
Prólogo:
Estou começando a aceitar minhas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. Foi-se o tempo em que eu ficava triste com as interpretações mesquinhas e distorcidas do que falo, escrevo e faço.
A aspereza, grosseria e extremada maleficência está ganhando terreno entre os humanos. Não estou contente com esse vilipêndio. Ainda cultuo a exceção a essa degradação, talvez pulverização dos bons modos, a cortesia. Tudo isso por uma razão singular. Os tempos são outros. A urbanidade está em xeque.
Henrique disse com o rosto iluminado de alegria: “Ah! Seu sorriso me encanta. É com júbilo que me espelho no brilho dos seus olhos para alegrar meu espírito em festa. Hoje mais do que ontem você está linda.”.
A jovem senhora fora fornicada pelo namorado, noivo, amante ou marido durante toda a noite, mas em nenhum momento ouvira pelo menos o finalzinho do elogio que acabara de ouvir de um estranho, logo cedo, ao chegar no local de trabalho: “... Hoje mais do que ontem você está linda.”.
Ainda dormindo, o insensível esperava o chamamento para o café da manhã. Levantou-se, mal-humorado, escovou os dentes; às pressas, trocou de roupas, praguejando, e sem ao menos abraçar e/ou beijar a mulher mal-amada, sentou-se à mesa com um jornal enfiado no rosto. Gruindo disse à mulher dedicada: “Não vê que estou atrasado? Ponha logo a porra desse café na mesa caso contrário vou embora”.
Henrique não fazia assim. Levantava-se nas pontas dos pés. Não queria acordar Analu de supetão. Barbeava-se, abraçava seus cachorros e preparava o café da manhã com carinho e esmero para a Santa que se encontrava, ainda, dormitando, extenuada, bem-amada, feliz na languidez de uma noite que sempre desejava não ter fim.
Antes de se sentar à mesa Henrique abraçava a musa de seus devaneios. Beijava-lhe a bochecha morena, linda, sem o artificialismo da maquiagem; afagava os cabelos negros e perfumados da menina-mulher e lhe dizia ao ouvido sensível: “Seu cheiro me enlouquece. Tomemos café sem pressa. Ontem você fez minha alegria, tudo o que eu queria e muito mais...”.
Repito: Para os amantes comuns os tempos são outros. Pessoas corteses estão em falta. A urbanidade está em xeque.
No sobrevalorizado (por leitores conscienciosos) texto – “Existe um bem mais precioso?” – recém-publicado no Recanto das Letras escrevi:
“Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo estalado, ansiado, molhado. Na cama já não valorizamos os folguedos preliminares como dantes, temos pressa e receio de acordar as crianças com nossos arroubos sentidos. Não queremos escandalizar a vizinhança, sempre à espreita, com nossos gritos e gemidos”.
“Reprimimo-nos por conveniências sociais, familiares e religiosas. Abrimos mão de prazeres apenas sonhados, fantasiados nas madrugadas tristes de nossa solidão nefasta. Fabricamos fantasmas, trancamo-nos em nossas casas, enaltecemos nossos medos como as crianças fazem com a vantagem de vivenciarem uma fase passageira”.
Henrique era diferente. Ele não se reprimia. Tampouco era egoísta. Pouco se importava com a reciprocidade das excelsas atenções que outorgava a menina-mulher e semideusa Analu. Ele fora criado com pouco ou nenhum carinho dos pais, mas superara esse óbice e anacronismo da infância e adolescência inglória.
Hoje, preclaro, o autodidata aperfeiçoa seu caráter pela magnificência de seu espírito velho, calejado pelas andanças nas esferas diversificadas. Ele tenta compreender e até entende o motivo de a urbanidade se encontrar em xeque.
Os homens se preocupam com o tamanho de seu ego e/ou órgão genital quando deveriam valorizar um pouco mais não apenas os folguedos preliminares, mas, sobretudo a deferência, sensibilidade e urbanidade com os seus afins e semelhantes, mormente para com suas parceiras, pois delicadeza com as mulheres nunca é demais.
Quando elogiadas, as mulheres envaidecidas e motivadas por uma autoafirmação danosa distorcem a benevolência do ser cortês e contam às pessoas, sejam amigas distantes ou próximas, e até aos familiares que foi ou está sendo assediada por tal ou qual pessoa.
É nessa ocasião que a interpretação errada de uma cortesia torna-se maldosa, medíocre e mesquinha. Isso é ruim. Muito ruim porque põe em dúvida a idoneidade dos envolvidos e em risco de morte o pretenso galanteador ou quem entenda que deva tomar satisfações do fato infundado e não provado. Isso poderá ensejar um crime passional.
As mulheres quase sempre, acintosamente, sobrevalorizam a matéria e os aspectos mais chamativos dos seus corpos tais como: cabelos, pele, rosto, seios, cintura, glúteos, coxas.
Deveriam valorizar um pouco mais as manifestações espontâneas de urbanidade, principalmente dos homens, não confundir cortesia com cantada, infâmia, desrespeito; ler um pouco mais sobre a sensualidade feminina e assim poderiam descobrir as vantagens que proporcionam o autoconhecimento pela prática do pompoarismo.
UMA EXPLICAÇÃO SOBRE O POMPOARISMO
Praticando regularmente o pompoarismo a mulher estará com o prazer, a saúde e a autoestima sempre em alta. A técnica do pompoarismo vai proporcionar a você, mulher, movimentos diversos como ordenhar, sugar, chupitar, revirginar, algemar, massagear e outros. Pasmem senhoras divas: tudo isso com os músculos vaginais e outros canais do organismo vivo.
Além disso, o pompoar faz bem a saúde: fortalece a musculatura pélvica, indicado para quem teve ou quer ter parto normal. Ajuda a tratar alargamento vaginal, bexiga neurogênica, incontinência urinária evitando cirurgias, ajudando no tratamento de anorgasmia (dificuldade de se chegar ao orgasmo) e, além disso, a prática do pompoar é muito incentivada por ginecologistas.
De forma natural a Santa sabe fazer acontecer. São poucas as mulheres que sabem contrair os diversos músculos anulares, sujeitos à vontade, e que servem para abrir e apertar ductos, canais ou aberturas naturais do corpo. Analu não fez faculdade, mas faz amor de forma excelsa. Todas as dobras da pele de Analu têm vida! Sua capacidade de amar foi definida no texto “Posse consentida”:
"Apague o incêndio que em meu interior cresce até o subir incontrolável de um grito ardente. Desejo embebedar-me na doçura do teu sumo e anseio que se alastre no recôncavo de meu ventre o morno néctar da vida. Quero tua língua, chama e pétala em minha boca, igual à orquídea rósea, fulva, selvagem e pura. Em minha vagina quero que te enraízes soberano".
Os maldizentes poderão pensar e até dizer: "Ah, que pena! O bem-educado, sem mais nem menos, se transformou no tarado que só pensa em sexo, safadezas ou sacanagens mil...".
NÃO. EM ABSOLUTO! Não quero, mas bem que poderia explicar que minha característica é essa mesmo. Penso em sexo porque sou saudável e acredito, sinceramente, que a sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência. Ademais, sexo é vida e eu estou vivo, ainda.
Mudo de assunto de forma radical, mas ao concluir o texto os diletos leitores verão que houve consenso na aparente dicotomia contextual. Nota-se que as preocupações com os assuntos comezinhos ou irrelevantes tornam as necessidades comportamentais excelsas sem valores e põem a urbanidade em xeque.
Novamente o galanteador com o ânimo de reerguer uma autoestima em decadência diz a uma jovem senhora: “... Seus cabelos hoje estão mais lindos do que nunca.” – A mulher havia mandado fazer um corte diferente, mas leve, solto e despojado. Novamente ela se lembra das palavras rudes do marido grosseiro: “... O café está sem açúcar, o leite está frio e a geleia parece placenta em decomposição”.
A descortesia foi tão acentuada que o boçal energúmeno não percebeu, antes de tudo, pelo menos o esforço da mulher no trato dos cabelos. Diferente, o autodidata percebia os detalhes de sua amada. "Quando um casal não consegue rir junto na cama, tudo indica que é incompatível em tudo o mais". (Texto – “Posse consentida”).
Pois bem. Em que pese à certeza de que para muitos seres maldizentes a urbanidade encontra-se em xeque, Henrique e Analu dão risadas, juntos, na praia, na piscina, no elevador, no sofá da sala, na cozinha, no banheiro, sob a escada, no interior do carro e até na cama! Para eles a urbanidade e a superação de limites mesquinhos NÃO ESTÃO, ainda, em xeque.