QUANDO FALAR DISSO SERÁ EXCEÇÃO?

É-nos fácil ver instituições corruptas e incompetentes que atrapalham, causando o colapso dos sistemas que movimentam, dão emprego e alimentam.

Têm-se um sistema de impostos em que o imposto de renda é de 27% (que poderia ser único, dado ao seu valor substancial), as empresas ainda somam 18% de ICMS quando geram circulação de mercadoria e 5% quando são prestadoras de serviços – tudo isto apenas de imposto direto aos órgãos governamentais principais união, estado e município, fora os que indiretamente pagam a sub-órgãos que regimentam, particularmente, seus serviços, como os impostos embutidos em matéria prima adquirida para o trabalho, além da empresa por empregado, pagar de imposto, praticamente a mesma quantia que paga de salário.

Esse sistema complicado e massacrante de arrecadação imposto (totalmente incorreto) gera conseqüências imediatas, no sentido empresa, por exemplo: 01- o famoso Caixa 2; 02- empresas que apresentam falsas falências para não pagarem impostos devidos e, logo após, reabrem com outro nome e já com sua cartela de clientes constituída; 03- trabalho com número mínimo de funcionários; 04- contratação do profissional técnico em detrimento do especialista, devido aos honorários, entre outros, já que para cada salário pago, há uma carga de imposto semelhante ao montante; 05- diminuição da abertura de novas vagas de emprego (as empresas trabalham com o mínimo possível de funcionários, que muitas vezes acumulam serviços e fazem hora-extra).

Uma inovação é a contratação de profissionais on line – que fazem seu serviço em suas casas e o recebem e enviam via internet, como também de consultores, a fim de não gerar vínculo empregatício, pois se paga por serviço, sem nenhum direito trabalhista tende a aumentar gradativamente.

O fato dos impostos deixarem as empresas de “calças justas”, como já comentamos, desmotiva o pagamento dos impostos (prejudicando a arrecadação), gerando uma sensação de que isto seja correto: 01- os resultados das CPIs que investigam a corrupção nos três poderes e serviço público (quase sempre comprovando rombos escandalosos que envergonham os brasileiros das instituições que os deveriam amparar); 02- os dólares na cueca (que são motivo inesquecível de chacota contra brasileiros no exterior); 03- funcionários fantasmas (ganhando dinheiro sem trabalhar e ocupando funções de quem precisa de emprego) – há pouco tempo escutei de um religioso, que, de vez em quando costuma fazer jejum: “quem não trabalha, não deveria ter direito de comer”; 04- funcionários ocupando funções para as quais não são habilitados (gerando uma rede de serviços falha e morosa).

Na verdade, um sistema de impostos mais justo somado a um setor público mais sério, daria mais capital de giro às empresas, gerando mais empregos, mais investimentos, maior consumo de produtos no país, gerando maior circulação de renda, riqueza e desenvolvimento em todas as regiões. É preciso pensar também em dívida interna, não apenas em dívida externa. De que vai adiantar um país que tenha para si abertas todas as possibilidades de investimento e empréstimos externos, se este mesmo país estiver falido internamente, onde todo mundo deve todo mundo. O Governo Federal deve aos Estados, que também devem aos Municípios e ao Governo Federal e não são raros os Municípios que devem ao Estado, e, também não é raro, a União, os Estados e os Municípios deverem a empresas particulares (concessão antecipada de isenção de imposto mediante serviços prestados por estas, que deveriam ser por eles prestados, caso o dinheiro dos impostos fosse bem aplicado), além das empresas deverem aos bancos. Dessa forma, temos ministérios e secretarias estaduais e municipais com falta de recursos para aplicar no desenvolvimento de vários setores chaves para o país, faltando também aos setores imprescindíveis: educação, segurança e saúde.

A solução, com certeza, não está em tirar direitos adquiridos dos trabalhadores (ainda mais, pelo Partido dos Trabalhadores, seria uma vergonha). A solução está em equacionar melhor a cobrança de impostos e o investimento do dinheiro público. Somos um país rico, mas administrado com extrema incompetência. Não se acusa, aqui, a Lula que subiu ao governo com uma bandeira visivelmente ideológica, mas apenas temos que reconhecer que apenas a sua popularidade não funciona. Precisamos, além de uma liderança segura do setor público, de grandes administradores do capital público, com noção mínima de custo benefício para o país, para todos.

CRUZ, Ana da. Corrupção, má administração. Quando falar disso será exceção? (Artigo). Recanto das Letras, 2008. Disponível em URL: [http://www.recantodasletras.com.br/autores/anadacruz]

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Ana da Cruz
Enviado por Ana da Cruz em 04/11/2008
Reeditado em 23/11/2008
Código do texto: T1264522
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