A atualidade da análise sócio-política social de Hans Magnus Einzensberger
 
 
Recentemente assistimos na  TV a prisão do líder sérvio Radovan Karadizik que se escondia sob a figura de um bom velhinho  inofensivo, mas que era na verdade  a face mais terrível do mal surgido na Sérvia à república hegemônica dentro da frágil unidade da Iugoslávia, país ex- satélite da URSS,  unido à força pelo Marechal Tito logo após a II Guerra Mundial (1939-45). Com a queda do comunismo no Leste Europeu, a Iugoslávia não conseguiu manter sua unidade política e territorial, já que dentro do ponto de vista cultural é um caldo de culturas de diferentes matrizes  não integradas a "mãe Servia". Com a "Nova Ordem"   veio à tona o nacionalismo sérvio como resposta a essa situação. Karadizic e Slobodan Milosevic reencarnam o terror de estado praticado  nas  repúblicas mulçumanas que pretendiam se separar da Iugoslávia, são de triste memória os inúmeros massacres cometidos tanto na Bósnia-Herzegovina quanto na Croácia, que nos traz a memória o terrorismo praticado pelos nazistas. Esse tema do nacionalismo revivido na Europa, logo após a Queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991) gerou um debate na Europa Ocidental e no mundo sobre o caldeirão de ódios que emergiram do esfacelamento da Iugoslávia. A Europa  foi  durante o século XX palco dos conflitos mais sangrentos da história, mas que no fim do mesmo  século XX caminhava para a  integração e a paz sob o manto da União Europeia. Hans Magnus Einzensberg, autor da coletâneas de Ensaios "Guerra Civil" foi uma dessas vozes lúcidas que se levantam para tentar entender e dar sentido a um mundo contraditório: marcado pela globalização e pela falsa sensação de paz; mas na verdade explodindo em conflitos. Felizmente esse banho de sangue perpetrado pelos Sérvios teve fim e a prisão de Karadizik  encerra um ciclo. Entretanto  o "ovo da serpente" continua a ser gestado no velho continente, sobretudo com as novas regras de tratamento dado aos imigrantes ilegais definidas pelo Parlamento Europeu que torna mais duro o tratamento dispensado aos imigrantes. Infelizmente essa situação se estende ao mundo todo, as cercas construídas na fronteira entre os EUA e o México, o muro que  separa judeus dos palestinos na Faixa de Gaza, é um afronta  a liberdade de ir e vir. Nesse mesmo raciocínio podemos pensar na brazilianização  do mundo com o aumento das  favelas em torno das  grandes cidades e nestas,  o surgimento de zonas deflagradas. Eizensberg fala num mundo produtor de superfluidade de população - há gente por demasia não incorporada ao chamado mercado global. O autor de Guerra Civil aborda a questão da violência   com extrema lucidez. Violência autonomizada, fora de qualquer justificativa teórica ou de qualquer legitimidade que a justifique, tanto os massacres cometidos pelos Sérvios, liderados pelo "bom velhinho" capturado, bem como as ações de grupos organizados sejam os  Holigans e sua violência gratuita; sejam as ações dos narcotraficantes das FARC, que sob o verniz ideológico de revolucionários e em nome da causa, matam e sequestram aqueles que em teses deveriam dar  proteção; ou os traficantes das favelas dos morros cariocas que tem leis próprias, bem como  as milícias que julgam, condenam e executam seus desafetos, sob o argumento de "proteger" as comunidades pobres do julgo dos traficantes. Mas é possível ir além, os combatentes dessa guerra civil atual, são segundo Einzensberg cada vez mais jovens abnegados e autistas que num piscar de olhos cometem sua série de assassinatos.  Essa guerra civil está instalada no cotidiano deflagrado das cidades, sejam elas na América Latina ou na Europa ou EUA;   Estaríamos vivendo segundo o autor na anti-utopia de Thomas Hobbes, uma  guerra  globalizada  de todos contra todos.  Acrescente-se a isso os efeitos políticos e sociais dessa grave crise gerada pelo setor imobiliário americano, a recessão mundial, o desemprego que será combustível para atiçar ainda mais este estado de coisas e o preocupante serão as respostas políticas as demandas criadas por esta crise. Como diz Tom Zé em sua letra “quem é que tá botando piolho na cabeça do século?"
 
 
Labareda
Enviado por Labareda em 29/10/2008
Reeditado em 13/06/2014
Código do texto: T1253615
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