Sexteto existencial
Se quisermos compreender o que move a existência humana, basta entendermos a dimensão do significado de seis verbos, com equivalentes em todas as línguas faladas no planeta. De uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, tudo gira em torno do SER, do ESTAR, do FAZER, do TER, do PENSAR e do SENTIR.
Quando alguém se propõe a conhecer as próprias potencialidades ou os próprios limites, em busca de crescimento, paz, prosperidade, está necessariamente indo ao encontro do SER. Quisera este fosse o ponto de partida e de chegada para qualquer pessoa! Afinal, o que costumamos chamar de felicidade nada mais é do que a descoberta do caminho certo que desvela o SER, que o torna isento de máscaras, de amarras, de sujeiras.
Já a principal característica do ESTAR é ser transitório. Ele nos permite experimentar, rever conceitos, reavaliar nosso próprio SER. Uma pessoa está pobre ou rica, está doente ou sã, triste ou alegre. Quando se compreende esta situação de mobilidade do ESTAR fica mais fácil ter esperança, acreditar que as adversidades de hoje podem não mais existir amanhã. Parece simplória tal explicação, mas não é se pensarmos que muitos suicídios acontecem porque aqueles capazes de cometê-los confundem “estar angustiados” com “ser angustiados”.
Quanto ao FAZER, é básico compreendermos que ele representa apenas um meio para conseguirmos a sobrevivência; para encontrarmos um caminho real e prático capaz de canalizar nossa destreza, nossa criatividade. Há, no entanto, os que se escravizam pelo excesso de FAZER, pelo menos no que diz respeito ao tempo disponível para sua realização. O trabalho, que é a mola-mestra da sobrevivência individual e coletiva, não pode ser visto como o principal sentido da existência. O FAZER existe para construir o SER, e não o inverso.
O verbo TER, que também deveria girar em torno do SER, termina sendo o centro das atenções, das aspirações pessoais e profissionais, das discórdias, das fatalidades. Mata-se e morre-se pelo TER (riqueza, poder, prestígio...), embora ele devesse ser tão-somente uma condição elementar. Os bens materiais para a sobrevivência – moradia, alimentação, vestuário, educação, meios de locomoção, lazer, entre outros – são essenciais, mas a vida é muito mais do que isto.
Fechando esse sexteto existencial, o PENSAR e o SENTIR são pontos de equilíbrio para os anteriores. Razão e emoção, cérebro e “coração”: eis os instrumentos disponíveis para uma infinidade de escolhas que temos que fazer a vida inteira. Saber dosar os sentimentos (reforçando aqueles tidos como positivos, como o amor, a compaixão, a alegria) é tão importante quanto pensar a respeito deles e de suas conseqüências. PENSAR tem a ver com o comportamento do presente e com os planos para o futuro; tem a ver com as aprendizagens e com o que se pode fazer com elas. SENTIR, por sua vez, é a válvula de escape da euforia, da angústia, do choro e do riso – características que distinguem tão bem o ser humano dos outros animais.
Radiografado o ser humano a partir desses seis verbos, resta apenas afirmar que por trás e acima de todos eles está o espírito. Desta fonte transcendental surge o canal com Deus, com o ideal divino de perfeição. Algo que extrapola toda a nossa compreensão de ser, estar, fazer, ter, pensar, sentir e de tudo mais que nos torna meras criaturas.