Educação virou leilão

“O objetivo da sociedade deve ser o progresso das pessoas, não o progresso das coisas. Ou será que a riqueza é tudo e os homens não são absolutamente nada?” (Jean Charles de Sismondi).

A educação é a base de tudo. Nem precisa ser especialista para dizer isso. Aliás, o que tem de “especialistas” para dar palpites, é brincadeira. A quantidade de teóricos e especialistas no assunto educação é muito grande, eles apresentam teorias reformuladas, reescritas e que não são deles como se fossem os autores de tais teorias, mas quando vamos puxar o histórico das idéias que defendem vemos que os papas de tais teorias se encontram na França. O construtivismo, por exemplo, há pelo menos três tipos de construtivismo: Educacional, filosófico e o sociológico, e, o próprio construtivismo educacional é dividido em pessoal e sócio-cultural. O construtivismo pessoal tem origem em Jean Piaget e é atualmente apresentado com mais clareza atualmente por Ernst on Glasersfeld. O construtivismo social tem origem em Levy Vigostsky. Enfim, o que muitas vezes se tem é uma releitura de velhas teorias que foram adotadas nos países ricos da Europa e Estados Unidos, e como aqui nada se cria, tudo se copia, tais teorias foram implantadas no Brasil, especificamente, no Estado de São Paulo onde a educação vem sendo sucateada pelos governos estaduais.

Os professores até hoje sentem saudades de Franco Montoro. Nunca foram tão pressionados e maltratados. O desrespeito começa pelo governo que introduz uma política de prêmios e punições conhecida por política de bônus. Não parece loucura? O governo Mario Covas pensou em PINTAR as escolas conforme o desempenho que apresentassem, se a escola teve um baixo desempenho receberia uma cor para identificá-la ou classificá-la como boa, média, regular ou péssima. Uma seria pintada de VERDE, AZUL, AMARELO, ou VERMELHO. Imagine que loucura! Vê se pode. Fala-se tanto em INCLUSÃO e contradiz-se com a política de bônus e com essa classificação de cada escola. Em São Paulo está tramitando um projeto que visa bonificar as escolas em até 2,4 salários mínimos se estas apresentarem 100% de bom desempenho. Cem por cento? Impossível! Seria isso a perfeição do ensino. È claro que isso vai gerar uma discriminação muito grande entre as escolas, o que já acontece com o bônus de janeiro oferecido aos professores e gestores das escolas. Mas isso melhora a educação? Não! Os números de aprovados pelas escolas são apenas números camuflados, ou seja, os alunos passam de uma série para outra sem progredir realmente e a escola assim irá apresentar um número menor de notas vermelhas para ser bonificada no início do ano letivo. Pelo jeito não há intenção de melhorar a educação desse jeito. Enquanto isso a indisciplina dos alunos só aumenta, aumentam também as pressões sobre os professores, as exigências vão sufocando esses heróicos profissionais. Segundo denuncia o sindicato APEOESP, o projeto de bonificar as escolas com até 2,4 salários mínimos de bônus ao invés de melhorar irá prejudicar o andamento das escolas, pois a solução seria aumentar o salário e não premiar com bônus os professores e punir outros. O pior é que os professores precisam pelo menos fingir que acreditam nas Dez Competências de Perrenoud, pode ter dado certo na Suíça e não aqui. Todas as teorias foram estudas para os concursos, eu mesmo passei nos dois, um em 1998 e outro em 2000. De VIGOTSKY a PIAGET, e até o falecido FREUD eu tive que estudar. Os mais recentes teóricos apresentam suas teorias como se fossem uma receita mágica, e os dirigentes de ensino só faltam dizer: aplique isso que dará certo! Os supervisores falavam de COMPETÊNCIAS e HABILIDADES, mas ninguém que estava presente no concurso que efetivou vários professore, em 1998, sabia definir ou dizer qual a diferença entre competências e habilidades, era uma confusão mesmo. Não sabiam explicar a progressão continuada, por isso tem diretor que na época até exigiu, que os professores refizessem as suas notas, para eliminar as vermelhas, e os alunos, passavam automaticamente e não aprendiam PROGRESSIVAMENTE, como prevê a teoria da Progressão Continuada. Será que uma teoria experimentada em um país rico funcionaria num país subdesenvolvido e com uma mentalidade ainda colonialista? Nem lá na França o construtivismo funcionou!

Implantar uma teoria da Suíça num país subdesenvolvido e de mentalidade ainda escravista é como acreditar que implantar uma cabeça de uma pessoa bem evoluída culturalmente tivesse uma influência positiva e de sucesso em uma pessoa que nunca freqüentou uma escola. Então, se implantássemos um cérebro inteligente numa pessoa de baixo nível intelectual ela terá o mesmo sucesso da pessoa que doou aquele cérebro? Se implantássemos um coração de uma pessoa dócil, eliminaríamos toda a violência? Jamais. Portanto, implantar aqui uma teoria de um suíço (Philip Perrenoud) e acreditar que num país de 8,5 milhões de km quadrados de território e onde as cabeças são subdesenvolvidas seria um absurdo. Isso não quer dizer que o brasileiro não é capaz, a questão é outra. Precisa romper com o cordão umbilical que ainda nos prende ao colonialismo, precisa mudar a mentalidade, os nossos empresários ainda são descendentes dos senhores de escravos, por isso a jornada de trabalho ainda é muito puxada n(de 8 a 12 horas por dia nas fábricas, e se incluir as horas extras, isso vai pra 16), nossos governantes só pensam em exportação e reforçam o Pacto-Colonial que nunca foi rompido com a independência em 1822. Então, com todos os ranços do colonialismo, como aplicar com essa cabeça uma teoria da Suíça? Como aplicar uma teoria da França? É realmente muita pretensão acreditar que um corpo doentio irá ter saúde se nele implantarmos uma mente sadia. A idéia de “mente sã, corpo sadio” é verdadeira, mas mente sã em corpo debilitado é um paradoxo. Pra mudar a educação, é preciso primeiro fazer uma reforma estrutural, garantir renda e salário ao povo, distribuir melhor a terra e repartir melhor o lucro. Garantir uma estrutura socioeconômica poderá levar a uma melhor estrutura sociocultural da população. Um livro simples do Paulo Coelho custa 50 reais, como uma pessoa sem salário digno eira pegar gosto pela leitura? É preciso baratear os livros, o CD musical, o jornal, acabar com a dualidade educacional. Não é democrático que se tenha duas escolas, uma pra pobre (pública) e outra pra filhos de empresários (particular). Como universalizar assim o ensino? Cultura ainda é privilégio de poucos no Brasil!

Por conta disso, a formação profissional não garante mais emprego, nem a formação acadêmica. Veja o que diz a moda de viola:

“JÁ ESTÁ NO CABO DA ENXADA QUEM PEGAVA NA CANETA

QUEM TINHA A MÃOZINHA FINA, FOI PARAR NA PICARETA

JÁ TEM DOUTOR NA PEDREIRA DANDO DURO NA MARRETA.”

A escola fornece diploma, mas não garante conhecimento, não por culpa dos professores, mas por conta das medidas políticas tomadas pelos governos que forçaram a implantação do regime de ciclos e a progressão continuada que virou aprovação automática. Que profissional a escola está formando? Que cidadão? O aluno vai pra sala de aula com o MP-5 no ouvido, aciona celular bem na hora da explicação, jogam baralhos em sala de aula, ameaçam professores se forem repreendidos, eles gritam, assoviam, fazem batucada nas carteiras, fazem rodinhas para conversar, e não realizam mais as atividades exigidas. Os piores são largados aos cuidados da escola e dos professores. Escola Integral é creche para adolescentes de mais trabalhadoras. O professor tem que vigiar os alunos pra que não aconteçam coisas piores. Cada aula um tormento. O artigo 331 jamais é cumprido, e os próprios diretores não deixam que o professor ameaçado abra Boletim de Ocorrência pra não envolver a escola. Fica-se refém do aluno!

Quem pagará a conta? A sociedade. Veja, menos de 10% dos recém formados em Direito passam nos exames da OAB. Por quê? A fresposta está na formação Básica hoje muito sucateada pelas políticas governamentais. Então a saída para muitos é vender cachorro quente numa esquina. Será que o mercado informal terá espaço para a nova geração do MP-5, e modernos celulares? Essa geração do Orkut e do MSN, que abreviam tudo e escreve “aki” com “K” e “BLZ” ao invés de beleza repete esses erros e abreviações ao escrever uma redação, não sabem mais separar corretamente as sílabas de uma palavra nem classificá-las. Também, desse jeito, leiloando a cabeça do aluno e premiando o professor que promover mais, punindo os que por irresponsabilidade dos alunos, apresentarem índices elevados de notas insatisfatórias: como melhorar a educação?

Bonificar não é a solução!

Punir não é a solução!

Transformar cada escola numa bolsa de valor não é a solução!

Tudo isso é...

O caos!