TRINTA ANOS DE AMOR A FLORESTA

TRINTA ANOS DE AMOR A FLORESTA

Por Aderson Machado

Cheguei em Floresta meio que por acaso. Havia passado no concurso do então DNER, em 1978, e, ao ser admitido, fora lotado na cidade de Ouricuri. Acontece que um colega que passara no mesmo concurso, e que fora lotado em Floresta, me propôs uma permuta, isto é, ele iria para Ouricuri, e eu para Floresta. Mesmo sem conhecê-la, aceitei de pronto, ao saber que esta cidade era mais perto da capital em relação à primeira. Como não conhecia nenhuma das duas, o fator distância de Recife foi fundamental para que eu aceitasse a troca, a qual foi acatada pelo Chefe do Serviço de Pessoal do DNER.

Cheguei em Floresta no dia 05 de dezembro de 1978, aí por volta de meio-dia, e estou nesta cidade até este ano de 2008, ano no qual comemoro meus trinta anos de convivência e trabalho nesta mui querida cidade sertaneja.

Pois bem, cheguei, fiquei, e gostei. É a tal coisa: quem bebe da água do Velho Chico nesta Terra acolhedora, não quer mais saber o caminho de volta pra sua Terra Natal. Ademais, se deliciar das sombras dos Tamarindos seculares, contemplar o seu imponente casario, é mais um estímulo para quem aqui chega, isso sem falar na recepção calorosa dessa gente acolhedora, que habita a terra de Pereira Maciel.

Esses trinta anos, é bom frisar, para mim passaram muito rápidos, porquanto aqui fui muito bem recebido, acolhido e querido! O que eu poderia querer mais dessa gente?

Na verdade, assim que aqui cheguei, fui logo absorvido pela vida social. Festas, comemorações, serestas, engajamento na vida religiosa, tudo isso me inebriou de um clima de florestanidade que toma conta de mim até os dias de hoje.

Desde criança eu já nutria uma paixão pelo Rádio. E foi exatamente aqui que pude colocar em prática essa vocação. Foi no ano de 1987 que eu e mais alguns colegas fundamos uma Rádio, tipo fundo-de-quintal. Era a Rádio PARAÍSO-FM, que fez muito sucesso nessa época, e foi até notícia em uma reportagem do jornal “O Globo” – um dos maiores jornais deste país. Esse fato muito me orgulhou, e, por via de conseqüência, foi também um orgulho para toda a população de Floresta, pois esta cidade era citada de forma positiva, simplesmente pelo fato de ter uma Rádio que proporcionava entretenimento musical e informação a todos os seus ouvintes.

E por falar em Rádio – uma coisa que faço por puro prazer -, é dispensável dizer de minha contribuição ao povo florestano nesse setor, pois se trata de um fato público e notório. E é bom lembrar que já faz 21 anos que milito nele, fato que me tornou uma pessoa bastante conhecia, tanto na cidade, quanto na zona rural.

Minha identificação com esta cidade sertaneja não diz respeito apenas pelos anos de convivência e receptividade positiva por parte de seus habitantes. É que aqui plantei uma semente: construí duas famílias, advindo daí uma prole de cinco filhos.

Existe uma particularidade marcante entre mim e muitos florestanos natos com idades semelhantes à minha. É que eles têm menos tempo de convívio na cidade do que eu, simplesmente por terem morado ou estarem morando em outros logradouros. Assim, continuo cada vez mais um florestano autêntico, com todo orgulho que tenho direito.

Um fato marcante nestes meus trinta anos de Floresta é o meu não-envolvimento com a vida política da cidade. Assim sendo, sou amigo de todos, independente de cor partidária. A propósito, nunca me envolvi com política na minha Terra Natal, e não seria aqui que iria fazê-lo. Afinal, a política partidária nunca foi o meu forte.

O meu engajamento na vida social de Floresta se fez sentir quando comecei a freqüentar os bares e clubes da cidade. Na época em que aqui cheguei as opções em termos de bar eram poucas. Na verdade, o bar mais solicitado era o Bar e Sorveteria do saudoso “Seu Dedé”, que era o verdadeiro “point” de encontro dos rapazes e moças, não só de Floresta, mas de todas as pessoas que visitavam a nossa cidade. No meu caso foi o primeiro bar que freqüentei e onde costumava tomar aquela cerveja bem gelada, ouvindo as músicas do mais novo lançamento do Rei Roberto Carlos, que ainda hoje me recordo como se fosse ontem. A propósito, uma dessas músicas que mais me chamaram a atenção foi Lady Laura, por tocar muito na minha sensibilidade...

Ainda em se tratando de música, nessa época estavam na crista da onda as músicas de Discoteque, principalmente as que faziam parte da trilha sonora do filme Os Embalos de Sábado à Noite, cujo ator principal era John Travolta.

Havia também uma Boite, que ficava perto do atual Banco do Nordeste, onde o repertório musical mais executado era exatamente essas músicas de embalo. Eu era um grande freqüentador dessa Boite, porém só ia lá pra namorar e beber. Dançar esse tipo de música, nem pensar! Não tinha habilidade para tal.

Em termos de bailes, aí sim, o meu Clube Preferido era o Grêmio 3 de Julho, onde vivi grandes emoções. Uma das primeiras bandas musicais que “curti” no Grêmio foi a Super Som Terceiro Grau, da cidade vizinha de Belém do São Francisco, comandada pelo saudoso cantor Gildo Moreno, o qual, anos depois, se tornou um grande amigo meu.

Por falar em Grêmio 3 de Julho, no ano de 1980 a ele me associei. Lá havia uma quadra poliesportiva, onde costumava, todas as noites, jogar futebol de salão, hoje conhecido como Futsal. Confesso que nunca fui um craque nesse esporte. Jogava apenas por prazer e também para manter a forma física. Nada mais.

Um outro Clube que gostava de freqüentar era o BNB-CLUBE, mormente nos finais- de- semama. Lá foi onde eu recomecei a praticar um esporte muito preferido nos meus tempos de estudante, quando ainda fazia o ginásio: o Ping-Pong. A propósito, ainda hoje eu pratico esse esporte, e, diga-se de passagem, com certa habilidade!

No BNB-CLUBE participei de muitas festas, só chegando à minha casa quando o dia já estava amanhecendo. Nos anos 80 eram famosas as festas juninas nesse Clube. O pessoal de toda a região vinha prestigiar o São João do BNB-CLUBE, pois já se tornara tradicional, posto que a Banda que tocava todos os anos no BNB era nada mais nada menos do que a Banda do hoje consagrado sanfoneiro, cantor e compositor, Flávio José. Nessa época, por sinal, o cantor em apreço ainda não era conhecido nacionalmente.

Atualmente, em termos de Bar, o mais famoso é o BETINHO BAR. Ele é conhecido em toda a região, e até na capital pernambucana, posto que muitas pessoas de Recife, ao passarem por Floresta, são orientadas a conhecerem esse logradouro, pois se trata, na verdade, do “point” de encontro da juventude florestana, bem como de famílias e casais enamorados.

A propósito, conheci o BETINHO BAR nos seus primórdios. Tratava-se de um pequeno quiosque que aos poucos foi crescendo, crescendo, até se tornar um ambiente amplo, com uma boa infra-estrutura, capaz de atrair os turistas que visitam a Terra dos Tamarindos. É bom lembrar que, principalmente no verão, esse Bar é bastante freqüentado, diariamente.

Floresta é famosa por suas Igrejas Centenárias. A principal delas é a Igreja do Rosário, que, por sinal, deu origem à cidade. Ela data do ano de 1777!

Outras Igrejas que merecem ser mencionadas são: Igreja Santana, Igreja da Ermida – esta inaugurada na virada do século XIX para o século XX -, Igreja de Nossa Senhora Aparecida – conhecida como a Igreja de seu Artur Pedro.

Como Floresta possui Diocese, a sua sede foi construída em estilo arquitetônico moderno, no mesmo lugar da Igreja original. Esse fato, na época, não foi bem aceito pela maioria dos florestanos, porém, com o passar dos anos, o povo foi se “acostumando”. De qualquer maneira, o estilo arquitetônico da Catedral contrasta com o casario, em estilo barroco, o que é uma das principais características da cidade de Floresta. Aliás, já “batizei” esse conjunto arquitetônico como sendo o casario imponente da cidade.

Floresta se orgulha de seus homens ilustres que, ao longo dos séculos, têm se destacado em todos os ramos de atividades, como, por exemplo, na política, na música, na literatura, nos esportes, etc. Em suma podemos dizer, com muita propriedade, que Floresta é uma Terra de homens inteligentes. Afinal, os meus trinta anos de convivência aqui são mais que suficientes para comprovar esse fato. É dispensável dizer que me sinto orgulhoso, deveras, em conviver no meio dessa gente talentosa.

Em se tratando de religiosidade, participei, por mais de vinte anos consecutivos, dos festejos ao nosso Padroeiro – O BOM JESUS DOS AFLITOS. Representava o então DNER nas novenas ao nosso Padroeiro, e, em 1999, tive a honra de ser escolhido pelo Pe. Nicolau para, juntamente com minha esposa, ser o Casal Presidente da Festa. Aceitamos o convite, e, graças ao BOM JESUS, fizemos, com a ajuda de muitos parceiros, uma grandiosa festa, ainda hoje lembrada e elogiada por grande parte da população florestana.

Um ano antes desse fato, recebi, orgulhosamente, na Câmara Municipal, o Título de Cidadão Honorário de Floresta. A votação foi por unanimidade, porém faço um agradecimento especial ao grande amigo Jarbas Bedor Jardim, ele que fora o autor do Projeto que me concedeu o Título em apreço.

Mesmo não conhecendo profundamente a história do município de Floresta, tenho conhecimento de que a primeira Reserva Biológica do Brasil fica situada no nosso município, que é a RESERVA BIOLÓGICA DA SERRA NEGRA, que dista 60 km da Sede do Município. Ela foi criada no ano de 1950, e até hoje está preservada pela União. Esse fato, acredito, é digno de orgulho para todos nós.

O município de Floresta é cortado por dois importantes córregos: o Rio Pajeú, e o Riacho dos Navios. Ambos fizeram parte das canções do Gonzagão. A propósito, Luiz Gonzaga fez uma menção a Floresta através da música MEU PAJEÚ, quando ele diz: “No dia que eu voltar/Vou fazer uma seresta/Vou rezar uma novena/Ao Bom Jesus da Floresta”.

O nome Riacho dos Navios é explicado pelo fato de existir, às suas margens, mais precisamente na Fazenda Algodões, uma grande pedra com a forma de um navio. Por sinal, nesses trinta anos que aqui resido, ainda não conheci essa pedra, a não ser por foto! Em função ainda dessa pedra, a cidade é chamada, impropriamente, por muitos, como Floresta dos Navios.

No campo educacional, em 1985, tive o prazer de dar a minha contribuição como professor do tradicional Colégio Diocesano de Floresta. Fora convidado pelo então Diretor, o Dr. Quirino de Souza Neto. No ano seguinte ensinei, interinamente, no Colégio Estadual Deputado Afonso Ferraz. Em ambos os Educandários lecionei a cadeira de Física.

Consoante o exposto, participei, ativamente, ao longo desses meus trinta anos de Floresta, dos eventos sociais, religiosos e culturais. Tudo que fiz foi com muito amor e de uma forma por demais espontânea, isso em função de me considerar um autêntico florestano, independente mesmo do Título que recebi há dez anos! E gostaria ainda de frisar que quando nascemos não temos a oportunidade de escolher o local de nascimento, porém, quando nos tornamos adultos, aí sim, podemos escolher um lugar para morar. E esse lugar, para mim, foi exatamente Floresta, onde estou há trinta anos!

A propósito, logo ao chegar nesta Terra maravilhosa, me senti muito à vontade, posto que fui bem aceito por todos, e, assim, me senti como se estivesse em minha própria casa. Na verdade fiz de Floresta o meu segundo Lar, e é por isso que até hoje estou aqui morando e trabalhando. É bom frisar que, como funcionário público federal, tive a oportunidade de me transferir para o meu Estado de origem, opção essa que sempre rejeitei.

Eu teria um outro motivo para voltar para o meu Estado de origem. É que minha esposa e meus filhos lá estão, por motivos de estudos, e minha presença junto deles seria muito importante. Mas, como falei acima, essa seria uma decisão muito difícil pra mim, após se passarem três décadas.

Se isso vier a acontecer, uma coisa é certa: Floresta jamais sairá de meu pensamento, onde quer que eu esteja, porquanto foi aqui que comecei minha vida profissional, aqui eu procriei, aqui me acostumei, construí um sem-número de amizades e sou querido por todos. É a tal coisa: aqui cheguei, gostei, e fiquei!

Por fim, quando vou sair daqui só o tempo e as circunstâncias dirão. Vamos esperar para ver!

Floresta/PE, 24 de agosto de 2008.

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Aderson Machado
Enviado por Aderson Machado em 28/08/2008
Reeditado em 29/05/2010
Código do texto: T1150714