Café sem açúcar sim, amargo não
CAFÉ SEM AÇUCAR SIM, AMARGO NÃO.
Há certas coisas que acontecem em nossa vida que nos deixam indignados e até tristes por não conseguir entender. Nem tanto pelo fato de acontecerem com a gente, mas agravam-se por serem nossa preocupação diária de tentar corrigi-las, por força da profissão que abraçamos ou até por hábito.
Eu e minha esposa, por força das circunstâncias às vezes somos obrigados a fazer nossa refeição fora de casa, quando estamos trabalhando . Um dia desses depois de visitarmos um cliente resolvemos ir ao restaurante, que já havíamos ido algumas vezes, não só pela boa comida servida ali, mas pelo bom atendimento que se dá. Depois de nos deliciarmos com gostoso e belo prato de macarrão ao sugo, o garçom que já nos conhecia, nos ofereceu um café que não aceitamos, deixando o rapaz desconsertado, pois sempre tomávamos um expresso sem açúcar. Ele sabia que éramos fanáticos por café, mas lhe explicamos que estávamos dispostos a aproveitar o tempo que nos restava para o próximo compromisso, de irmos experimentar o café em uma cafeteria que um amigo havia nos recomendado.
Pagamos a conta e seguimos em direção à tal cafeteria que nosso amigo indicara. Segundo ele, o café daquele lugar era “divino”. Caminhamos alguns quarteirões e chegamos. Ao entrarmos naquela loja o cheiro de lá era muito bom. Queria logo experimentar o tal cafezinho e sem açúcar, como sempre tomamos.
Procuramos uma mesa para sentarmos e assim podermos repassar a pauta do nosso próximo trabalho saboreando essa bebida maravilhosa. Não foi difícil encontrar, pois a loja estava vazia. Acomodamos-nos e conversávamos enquanto olhávamos o cardápio, vendo de quantas maneiras se pode deliciar o café. Observei que outros clientes já o saboreavam em suas mesas, mas notei que alguns minutos passaram e ninguém veio nos atender. Então acenei para uma garota que estava em pé ao lado do caixa conversando com uma outra colega. Mesmo a distancia, não pude deixar de ouvir o comentário infeliz da garota: - “Tem cliente folgado” - e não imaginei que o folgado a que ela se referia era eu. Quando pedi que ela anotasse nosso pedido recebi a seguinte resposta: -“O senhor tem que tirar ficha no caxa”.
Pedi desculpas pela minha ignorância das regras da casa e me dirigi a um pequeno balcão onde era o caixa. Para minha surpresa a mesma garota do comentário veio me atender. A “miss simpatia” cobrou e de posse do meu ticket saiu e foi na direção da máquina de fazer café. Imaginando que finalmente iria experimentar esse recomendado café, voltei à mesa e continuei a conversa com minha esposa enquanto esperava nossa encomenda. Até comentamos discretamente sobre o atendimento nada recomendado que estávamos tendo ali.
Minutos depois voltei ao balcão para ver o que estava acontecendo e ao me aproximar percebi duas xícaras sobre o balcão. Perguntei sobre meu pedido e ouvi a seguinte resposta: -“Tá pronto faz tempo, você que não veio pegar”. Bastante chateado disse que imaginava que ela fosse levar à mesa... a “simpática” garota retrucou: - “ Minha obrigação não é servir mesa, eu atendo o balcão. Quem serve não veio e a outra da manhã não quis ficar no lugar dela, não posso fazer nada.”
Peguei as xícaras de café morno, quase frio e levei para a mesa. Fiquei olhando para o café e não tive coragem de tomar. Minha esposa também estava decepcionada com o atendimento da cafeteria que nosso amigo recomendou. Mas, para justificar seu apelido de fanática por café, assim mesmo ela o tomou. Ficamos sentados mais alguns minutos a observar como eram atendidos os outros clientes e tentando saber onde estava o erro. Enquanto isso um rapaz simpático entra na loja, cumprimenta a todos os clientes e pergunta em voz alta às funcionárias se tudo estava bem. As duas garotas responderam com sinal de positivo. Imaginei que seria o proprietário ou o responsável pela loja. Saí da loja sem tomar o café e pensando quantas vezes critiquei os enormes cartazes com as frases que dizem “ficha no caixa”. Elas são frias e até deselegantes, mas pude ver o quanto elas são suaves comparado ao atendimento que tivemos, pois naquela loja tão bonita faltou como falta em muitos estabelecimentos comerciais um bom atendimento. É muito triste ver que um simples cartaz possa substituir uma pessoa, isso é muito triste mesmo...
Dias depois voltei à loja e conversei com o proprietário. Além de lavrar meu protesto, pude oferecer-lhe nossos serviços de consultoria de gestão de pessoas. Ele alegou que estava com algumas dificuldades com os novos funcionários contratados. Deixei com ele nosso cartão de visitas, mas até hoje ele não nos procurou. Espero que pelo menos ele tenha procurado um colega nosso.
O que podemos aprender com esta história:
A pessoa que trabalha no setor de atendimento ao público deve se preocupar constantemente com os seus modos e delicadeza no tratamento com o cliente e a empresa por sua vez deve sempre treinar os colaboradores, pois há três grandes motivos para isso:
Primeiro - Deve lembrar que cada centavo que a empresa recebe provém dos clientes e que, portanto, ela foi criada com o objetivo de satisfazer as necessidades dos clientes e você foi escolhido para serví-los, dentro daquilo a que se propuseram seus gestores.
Segundo – Nunca esquecer que cliente feliz com o atendimento volta sempre e recomenda o local, gerando mais renda e bons frutos de paz, amor e tranqüilidade no nosso trato diário com as pessoas, além de garantir sua permanência no emprego.
Terceiro - Não podemos esquecer que todos somos seres inteligentes e dotados de raciocínio, e para honrarmos esta condição, é necessário cumprirmos os princípios de fineza e educação onde quer que estejamos. Sobretudo porque podemos trocar de posição, atendendo ou sendo atendidos, sem esquecer que no nosso ambiente de trabalho é onde passamos, às vezes, mais tempo do que com nossos familiares. O tempo não é propriedade de ninguém, mas é um tesouro para quem sabe aproveitá-lo.
Um dia quero voltar àquela cafeteria, e quem sabe conseguir tomar esse café. Ao amigo que nos recomendou ainda não dissemos nada, afinal o café serve para fazer amigos.
Posso dizer que continuamos a gostar de café sem açúcar sim, amargo não.