ALIENAÇÃO INTELECTUAL

Alguém disse em uma reunião sindical, e eu gravei bem tal afirmação: "Uma revistinha da Avon faz mais sucesso na sala dos professores que a sua propria vida funcional". Quem disse isso, disse num tom de indignação. A capacidade de se indignar deveria ser a principal para quem lida com o conhecimento, porém muitos professores já perderam essa capacidade. O que mais resta , se a alienação está na própria escola? De dez professores, um tem maior clareza desse momento caótico em que estamos vivendo. Vive-se hoje na sala dos professores um clima horrível promovido pela politicagem neoliberal que aos poucou foi minando a capacidade de resistência do "Corpo Docente". Criou-se uma espécie de "bolsa de valores" na educação, a cabeça dos alunos é leiloada, e a escola que promover mais alunos ao final do ano letivo, ganhará um BÔNUS maior, o professor, passa a trabalhar em função disso e age como um cambista. Há casos onde professores trabalham até sem condições de saúde só pra não perder o bônus do início do ano.

O pior de tudo isso é que ao invés se de unir para lutar por um salário melhor, cada um passou a disputar o bônus. Essa disputa irracional e alienada vem enfraquecendo a histórica luta dos professores e por consequência acaba resultando na perda dos direitos conquistados. A alienação parece tomar conta das escolas, principalmente as da capital, alguns professores parecem anestesiados. Inertes ao Neoliberalismo tamas como globalização da economia mundial, privatizações e terceirizações parecem longe do alcance intelectual de grande parte desses profissionais que quase não percebem os perigos que rondam a educação pública brasileira. Os ventos da filosofia neoliberal que sopram aqui tentam cada vez mais nos empurrar para as terríveis garras das potências imperialistas. Esses ventos, ganharam forças a partir de 1990, com apoio dos governos antipatriotas que solapam a vida funcional e profissional dos professores, e arrasam com os direitos conquistados dessa categoria, que alienadamente aceitou a municipalização do ensino, a começar pela 1ª a 4ª série em varios municípios, e mais atualmente, de 5ª a 8ª séries. pouco se fez para impedir esse furacão impetuoso. Parte da culpa é do professor hoje dividido entre uma política de bônus, o título de efetivo alcançado em concurso e a municipalização. Tudo isso acaba por fragmentar o grupo e na hora de lutar para manter os nossos direitos cada professor aparece com seu discurso individualista: "eu trabalho na prefeitura, e fica difícil entrar nessa briga" ou, "eu já sou EFETIVO, quem tem que brigar são os ACTs" e os ACTs dizem: "O sindicato não me ajudou quando precisei dele em algum momento". Não são todos, mas esses discursos individualistas é a bestialização de uma categoria que está assistindo os seus direitos indo pro ralo sem nada fazer. Quem faz esses discursos não enxerga a luta da categoria como algo coletivo, muitos só olham para o próprio umbigo. Será que esqueceram das nossas conquistas?

Só pra lembrar aqueles que insistem na idéia absurda de que não dá mais pra ir as ruas em caso de uma greve:

- 1998: Decreto 42.965 possibilitava o desligamento automático dos ACTs. Em 13 dias de greve o Decreto foi revogado.

- 1999: Projeto de Lei (PLC 11) propunha a exclusão dos ACTs e aumento da alícota para previdência estadual. Após grandes manifestações do funcionalismo o governo paralisou a tramitação do projeto.

- 2005: Projeto de Lei (PLC 26) permitia a demissão dos ACTs ao final do ano letivo. O governador Geraldo Alkimin foi obrigado a retirar o projeto do Legislativo depois de greve e passeatas dos professores.

- 2007: O Novo Sistema de Previdência Social -SPPREV- propunha que o0s ACTs migrassem para o INSS, mas depois de sairem às ruas, os professores obrigaram Alkimin a auterar o projeto.

Todas essas medidas pretenciosas do governo caracterisaram uma perceguição ferrenha encima dos professores. Os governos psdebistas parecem odiar essa sofrida categoria que tanto contribui para o avanço do país. A nossa luta é para derrubar o decreto 53037. Apesar da greve de 15 dias decretada em 13 de junho de 2008, o governo segue irredutível, fazendo apenas algumas alterações no decreto.

O golpe continua: o que muda com a alteração do decreto? Apenas algumas coisinhas e, o númro 161 no lugar de 037

Decreto 53037- Professores que acumularem mais de 10 faltas, de qualquer natureza (inclusive com atestado médico) ficam impedidos de optar pela remoção com base no artigo 22. Professor que usufruir de licença médica, licença prêmio (exceto licença gestante) ficam impedidos de fazer uso do artigo 22. Os professores passarão por uma avaliação de processo celetivo de âmbito regional para poder ter suas aulas atribuidas. Professores que ingressaram agora terão que esperar três anos (estágio probatório) para poder fazer uso do direito de uso do artigo 22, ou seja, remover-se para uma escola diferente daquela que assumiu. E se a família estiver lá no interior?

Quanto à Licença Prêmio? É um direito que os professores do Estado têm de após cinco anos sem faltar, poder gozar de uma licença de 90 dias, podendo tirar em dinheiro ou em descanço. Mas que prêmio? Parece mais uam punição, quando o decreto coloca que o professor(a) não poderá usar o seu direito de REMOÇÃO com base no artigo 22, já não podemos mais interpretar como prêmio, sem contar que o professor perde cerca de 400 reais se resolver tirar em descanço os 90 dias: caaem os bônos, gratificações GTCN e uma série de coisinhas que farão falta no salário. Eu particularmente tirei 45 dias e me ferrei. Fui pra Minas Gerais e o dinheiro acabou, depois fui ver a folha de pagamento e percebi o rombo. Tenho mais 45 dias, por que não sou de faltar na escola, tenho um compromisso com a Educação, mas sinto-me penalizado. vou tirar os 45 dias porque sei que se eu não tirar, ficará o restante de minha licença para o governo, como é um direito adquirido, vou gozar os 45 dias que me restam, como trata-se de uma licença já vencida, não posso pegar em dinheiro.

Quanto as faltas médicas. E se o professor(a) estiver com um problema sério? E os pré-natais? Uma gestação dura 9 meses, durante esse período a professora irá precisar ir ao médico até o dia em que precisar se afastar. Então os atestados não valem mais? O decreto limita os atestados a apenas UM por MÊS e 6 por ano. Absurdo! Não se pode mais ficar doente.

Decreto 53161: o que muda? Quase nada: apenas aumentou de 10 para 12 faltas para que o professor deixe de fazer uso do direito de remoção que conta no artigo 22. Será que não é uma medida truculenta essa? E se o professor precisar faltar 12 dias no ano, por algum incidente qualquer? A final de contas, é um trabalhador, ser humano que tem os mesmos problemas que um trabalhador comum. Será que deverá morrer na sala de aula? Reflita...

Quanto à licença prêmio e gestante: o professor que gozar de licença prêmio e licença gestante não perderá mais o direito de remoção pelo artigo 22. Menos mal, né?

Quanto ao direito de pegar aulas: a prova seletiva continua e será aplicada a todos os ACTs por região. Será considerada classificatória incluindo o tempo de serviço, no entanto, quem não passar... Para ser professor o profissional da educação foi avalidado toda a vida, a começar pelo Ensino fundamental e médio mais 4 anos numa faculdade. O professor é resultado de um processo educacional e não de apenas uma avaliação de cunho duvidoso. É como se a escola por onde o professor se formou fosse incompetente. Desconsiderar-se todo um processo, joga-se no lixo o trabalho de mestres universitários pelos quias todo professor teve que passar para chegar a ser professor. Do que vale ter estudado tanto?

Quanto ao estágio probatório: professores que ingressaram recentemente vão poder se remover, e fazer uso do artigo 22.

Poucas mudanças, mas o decreto, é ainda punitivo quando limita o direito de se fazer um tratamento médico que exija mais que um atestado. O governo praticamente exigiu que os médicos dos servidores públicos passassem a negar pedidos de licenças médicas, exceto as gestantes.

Apesar da fragmentação propositalmente promovida por esses cramunhões do poder, é preciso romper com o véu da alienação que paira sobre a educação, e através de debates e discussões saudáveis, convencer os companheiros, que ainda não compreendem a luta, como o único instrumento legal e democrático, capaz de manter viva a cidadania e os direitos que possuimos. É para isso que os mais conscientes precisam trabalhar. É uma missão dos professores de História, Filosofie e Geografia levar um discurso mais crítico aos outros companheiros, fazer análise de conjuntura e fazer com que os colegas que argumentam contra as manifestações e as greves promovidas para derrubar essas medidas indecentes desses carcamanos corrúptos que não querem ver a educação triunfar para que eles possam permanecer intactos no poder, mesmo sendo acusados de desviarem verbas da educação ou de queimar valores autíssimos com elaboração de revistas inúteis reconhecidas supostamente como propostas pedagógicas como aconteceu a partir de março desse ano. Nem tempo pra revisão eles tiveram do material que contém erros grotescos. No planpo de História consta Neoclassicismo ao invés de Neoliberalismo; na proposta de Inglês consta várias vezes a palavra ENCINO ao invés de ENSINO, entre outros erros gramaticais no decorrer da proposta. Suspeita-se que a verba consumida no material seja maior que o que se produziu e se comprovado, a secretaria de Educação terá que dar conta.

Vê se pode, já cogitaram jogar os ACTs (Admitidos em Carater Temporário) para cooperativas, e estas, ficariam responsáveis pelo ensino, pelo pagamento e contratação dos professores. Graças as assembléias realizadas, essa e outras propostas indecentes foram derrubadas, salvando os empregos dos ACTs. Mas a persegção neoliberal não acabou! Estão ai as revistinhas, que lembram a cartilha "Caminho Suave", que obriga os professores seguirem a risca o que esta lá. Quem é alienado achou essas revistas uma boa maneira de camuflar o seu trabalho, porque nem o professor entende nem o aluno o que está se passando, uma vez que aparecem textos fragmentados, autores desconhecidos e de nenhum acesso nas escolas públicas, totalmente fora da realidade das escolas e dos alunos. O professor continuará fingindo que ensina, e o aluno fingindo que aprende. Isso é um absurdo! A Constituição Federal garante a liberdade de cátedra do professor, a liberdade de pesquisar e ensinar, essa revista mal elaborada prende o professor ao conteúdo que uma secretariasinha decidiu que seja bom para os alunos, sem conhecer a realidade das escolas. Liberdade para ensinar e aprender, é isso que faz do professor um profissional mais interessante. Não dá pra ficar preso a uma proposta elaborada verticalmente, sendo que o nosso país é um caldeirão borbulhante de culturas diversas que precisam ser trabalhadas em sala de aula. A imposição cultural curricular é a mesma imposição cultural imposta no passado, começando pelos europeus representados pelos jesuitas, passando pela escola tecnicista e pelos militares da época da ditadura que agora se repete através dessa proposta elaborada em forma de revista. Tem mais: o decreto maldito 53037 alterado para 53161 não foi derrubado nem as nossas reivindicações foram atendidas, e como gfo governo não cumpre a lei, o nosso DISSÍDIO COLETIVO será analisado pelo TRT que dia 14 reconheceu a legitimidade de nossa greve. Se o governo não quis nem ver as propostas dos professores em greve, agora quem analisará é a justiça que já se pronunciou favorável a nossa luta. Só falta agora os professores que não lutaram e voltaram correndo pra sala de aula compreenderem que essa ´pe uma luta de todos!

Precisamos além do mais, compreender que a proposta atual é mais uma forma, não só de alienar ainda mais os que já são alienados, mas é também, uma maneira de responsabilisar os professores pelo caos do ensino, livrando o governo, de ser responsabilizado pelas desastrosas medidas que o tucanato tomou, ao longo de 30 anos de sucateamento da coisa pública, em São Paulo. Eles, os tucanos, sempre viram a educação como GASTO e não como INVESTIMENTO. Eles, só valorizaram, o capital monetário, parece que desconhecem, o significado de CAPITAL HUMANO, e assim, violam os Valores Humanos, o que explica um pouco o crescimento da violênca, dentro e fora das escolas.

Os cortes de gastos com educação só têm piorado as coisas. Cortam gastos hoje, e no início do ano, dá-se um bônus aos professores para camuflar a realidade do ensino. Isso não melhora, só piora o ensino em São Paulo. Professor não é cambista, e nem as escolas, são bolsas de valores. Educação não é leilão, onde a cabeça do aluno é negociada em troca de bônus ou prêmio, porque, depois, toda a sociedade será penalizada por essa irresponsabilidade governamental.

Salário sim, bônus não!

Promoção sim, empurrão, não!

Queremos um cidadão bem formado, e não um cidadão deformado.

Os professores precisam ser críticos e esclarecidos, conhecer os seus direitos e lutar por eles. Os professores precisam compreender que o decreto 53037, alterado depois da greve iniciada em 13 de junho para 53161 é um golpe conta a cidadania e saber, que professor consciente, é aquele que está efetivamente em sala de aula, não vive de licença e é responsável para assumir a sua função. No entanto, é também esse o perfil de quem não foge da luta, e, se é aula, lá está esse professor ou professora, dando o melhor de si para os alunos. Mas, se é hora de ir para as ruas, lá está ele ou ela também, consciente do papel que representa na sociedade.

Tem professor(a), que vive mais de licença do que ministrando aulas, e ainda tenta desarticular um movimento em época de luta, quando convocado, irresponsavelmente foge da luta, no entanto, nunca está em sala de aula quando sabe, que os alunos dependem dese profissional. É preciso romper com a alienação, e assumir o compromisso de SER professor e não de ESTAR professor.

O SER é fundamental para que a genmte possa atuar com responsabilidade; não se curvar às imposiçoes truculentas do governo e estar na sala de aula, ministrando as melhores aulas possíveis sem jamais fugir na hora da luta!

Tenho dito...