Reforma Ortográfica. Por quê? Para quê?
Quanto mais vivo, mais me espanta a diversidade social letrada deste mundo. O parlamento português aprovou, em maio de 2008, o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa; desta forma, Portugal se une ao Brasil que, em 2007, ratificaram o protocolo, o que já garantia sua entrada em vigor. É meu querido leitor, é isto mesmo, vamos ter que retornar às escolas e dizer aos nossos alunos, há 500 anos enganados, de que tudo o que eles aprenderam e alguns apreenderam, não irá valer mais. (risos) Está errado!
Para a determinação entrar em vigor no Brasil, o próximo passo será a assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1.º de janeiro de 2009; será que ele irá assinar? O prazo estimado de adaptação para os brasileiros é de três anos, mas a REVISÃO já está valendo. A reforma ortográfica, portanto, só será OBRIGATÓRIA a partir de 2012.
Adoro este termo OBRIGATÓRIO! Ou seja meus queridos a partir desta data o trema permanecerá somente em nomes próprios; o hífen não será mais usado quando o segundo elemento começar com ‘r’ ou ‘s’, devendo essas letras serem duplicadas, como exemplos: antissemita e contrarregra; e não será mais usado quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente, por exemplo: extraescolar e autoestrada. O acento circunflexo não será mais usado nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e em palavras terminadas com hiato ‘oo’, como em enjoo e em voo.
Sinceramente não sei em que isso implicará de benefícios ao desenvolvimento da escrita e da leitura da Língua Portuguesa no País. Reforma ortográfica para quê? Se sabemos que a oralidade não será transformada. Essa reforma não pode ter saído da mente de algum brasileiro, pois com certeza nosso povo está ocupado demais tentando sobreviver nesta terra de ninguém, e não tem tempo de pensar nestas futilidades da vida cotidiana. Saussure e Chomsky devem estar remexendo em seus túmulos de tanto nervosismo. Nestes casos devemos nos apoiar ao bordão SLS (Só a Lingüística Salva) e olhe lá!
O ministério da Educação já autorizou a mudança do livro didático adequando-os às novas regrinhas, como se já não bastasse as que temos. Ainda tentam descobrir o motivo pelo qual o brasileiro escreve tão mal e usa sua liberdade de expressão na oralidade. É preferível que assinassem algum termo para se trabalhar verdadeiramente a logosofia nas salas de aula, quem sabe assim não teríamos seres humanos melhores, com oportunidade de adquirirem um livro para ler e aprofundar seus conhecimentos educativos e além destes, o conhecimento de sí mesmo, que implica o domínio pleno dos elementos que constituem o segredo da existência de cada um, respeitando o outro e adquirindo respeito a partir desta relação.
Observando toda esta polêmica em torno da reforma ortográfica é que paro para pensar se estamos educando os nossos alunos para uma vida social ou para se aprofundarem no universo de sujeitos, acentos agudos e circunflexos, predicados, orações subordinadas substantivas objetivas diretas e indiretas. Desde que me entendo por “gente”, o que não faz muito tempo, o ato de ensinar Português na escola é atrelado ao ensino fundamentalmente gramatical de uma língua regrada. Embora os educadores tentem trabalhar diversos saberes, provocando uma interdisciplinaridade, a prioridade ainda é o ensino da gramática tradicionalista normativa, o que provoca uma apatia em relação à disciplina.
O brasileiro lê mal sim; mas é por falta de acesso aos saberes lingüísticos básicos para exercer o seu papel enquanto protagonista da sua vida diante da sociedade em geral. Lê mal porque está muito ocupado decorando fórmulas, nomenclaturas e conteúdos desnecessários para a sua vida cotidiana. Estamos deixando nossas crianças cada dia mais alienadas, sem ter noção do seu papel social até mesmo na micro-sociedade em que vive, que é a sua família. E dar as condições sócio-econômicas de uma pessoa, como desculpa, é um refúgio ineficaz, pois os fatores econômicos interferem pouco no que diz respeito a evolução de leitura do mesmo, prova disso é que grande parte dos alunos de escolas particulares têm tanta dificuldade quanto os alunos de escola pública em compreender textos e dissertar algo produtivo.
Enfim, mais importante do que normatizar ainda mais a língua, poderíamos iniciar uma reflexão precisa sobre as questões de gêneros textuais, que são imprescindíveis para a democratização sócio-cultural, migrando os conteúdos adquiridos dentro do espaço escolar para uma prática efetiva dos mesmos, oportunizando a atitude criteriosa de ler, ouvir, interpretar e escrever.
Sabe quais notícias eu gostaria de ler no jornal de amanhã? Governo assina a reforma geral do seu próprio governo.