Noivas do Cordeiro
Esta semana Lia Luft escreveu em seu artigo mensal para a Revista Veja sobre Três destinos femininos. Um destes destinos se refere a Noivas do Cordeiro. Ela relata que participou como narradora de um documentário feito sobre essa comunidade rural mineira. Mesmo sendo aqui das alterosas eu só tomei conhecimento dessa história recentemente através de uma reportagem feita pelo Estado de Minas.Quando li a reportagem meu espanto foi imenso. Lia comunga do meu espanto. Ao ler o texto que escreveu resolvi pesquisar na Net e também escrever sobre o assunto que só agora está se tornando conhecido.
No século XIX uma jovem moradora do povoado de Roças Novas casou-se com um descendente de franceses, Arthur Pierre. Seu nome era Maria Senhorinha de Lima. Nem bem casou-se e já havia se arrependido. Após três meses de vida em comum ela abandonou o marido e foi viver com Chico Fernandes. Considerando-se o tempo e o espaço onde tudo aconteceu a Tradicional Família Mineira entrou em ação. Como uma mulher ousava fazer isso? A Igreja a excomungou e ela tornou-se uma pária. Prostituta. Como se atingido por um raio o preconceito se alastrou e envolveu toda a sua descendência. Filha de prostituta, prostituta é. E a coisa ficou feia por várias gerações obrigando-os a viverem de forma isolada, sem contato com outros povoados e cidades da região. Nem se tivessem doença contagiosa seriam tão segregadas.
Já no século XX, na década de 40, um pastor evangélico, Anísio Pereira, se apaixonou por uma dessas mulheres mal faladas. Mudou-se para lá e casou-se com ela. Ou casou-se com ela e mudou-se para lá. A ordem eu desconheço mas não tem nenhuma importância para o desenrolar da história. O importante é que fundou uma Igreja - a Igreja Evangélica Noivas do Cordeiro,nome que também passou a ser o da comunidade. A adesão a nova Igreja foi total: abandonados pela Igreja Católica, buscavam um resgate espiritual. Mas, em vez de melhorar, tudo piorou. Além da rigidez da nova religião o preconceito aumentou já que o catolicismo predominava nas regiões vizinhas. Compreendendo que não haviam tido nenhum benefício as mulheres foram se afastando e acabaram dando um fim na Igreja. Sem dogmas, mas não sem fé, continuaram a viver.
Noivas do Cordeiro está situada na região central de Minas, na área rural de Belo Vale, a cem quilômetros de Belo Horizonte. Ali vivem cerca de aproximadamente 250 mulheres e suas famílias. Os homens, quando chegam a idade adulta saem para trabalhar e só voltam nos finais de semana. A comunidade é mantida pelas mulheres que se organizaram em associação, onde tudo é de todos. Direitos e deveres iguais. Uma sociedade igualitária.
Foram anos e anos de luta para tornar as suas vidas mais fáceis. Párias não têm direitos. Tudo era muito difícil: escola, saúde, emprego, integração social.Auto-isoladas,criaram um mundo próprio estabecendo as próprias regras.Depois da reportagem do Estado de Minas as mudanças começaram. Hoje, estão se globalizando: TV, internet, são conquistas recentes. Agricultoras e artesãs, fabricam tapetes, colchas, bolsas e outros artigos de fuxico além de roupas íntimas: calcinhas e sutians vendidos de porta em porta e comprados com desprezo ou até asco (nem de graça compro delas) graças a exposição na mídia estão se tornando objetos de desejo.
Se quiserem saber mais é só procurarem no Google. São vários os links que tratam do assunto e foi neles que pesquisei. O documentário foi passado pela GNT e provavelmente será reprisado. No entanto fico aqui pensando: com o tempo a individualidade da comunidade se esfacelará. Noivas do Cordeiro será apenas mais um lugar onde todos querem ter direitos mas nenhum dever. Terá valido a pena?
Esta semana Lia Luft escreveu em seu artigo mensal para a Revista Veja sobre Três destinos femininos. Um destes destinos se refere a Noivas do Cordeiro. Ela relata que participou como narradora de um documentário feito sobre essa comunidade rural mineira. Mesmo sendo aqui das alterosas eu só tomei conhecimento dessa história recentemente através de uma reportagem feita pelo Estado de Minas.Quando li a reportagem meu espanto foi imenso. Lia comunga do meu espanto. Ao ler o texto que escreveu resolvi pesquisar na Net e também escrever sobre o assunto que só agora está se tornando conhecido.
No século XIX uma jovem moradora do povoado de Roças Novas casou-se com um descendente de franceses, Arthur Pierre. Seu nome era Maria Senhorinha de Lima. Nem bem casou-se e já havia se arrependido. Após três meses de vida em comum ela abandonou o marido e foi viver com Chico Fernandes. Considerando-se o tempo e o espaço onde tudo aconteceu a Tradicional Família Mineira entrou em ação. Como uma mulher ousava fazer isso? A Igreja a excomungou e ela tornou-se uma pária. Prostituta. Como se atingido por um raio o preconceito se alastrou e envolveu toda a sua descendência. Filha de prostituta, prostituta é. E a coisa ficou feia por várias gerações obrigando-os a viverem de forma isolada, sem contato com outros povoados e cidades da região. Nem se tivessem doença contagiosa seriam tão segregadas.
Já no século XX, na década de 40, um pastor evangélico, Anísio Pereira, se apaixonou por uma dessas mulheres mal faladas. Mudou-se para lá e casou-se com ela. Ou casou-se com ela e mudou-se para lá. A ordem eu desconheço mas não tem nenhuma importância para o desenrolar da história. O importante é que fundou uma Igreja - a Igreja Evangélica Noivas do Cordeiro,nome que também passou a ser o da comunidade. A adesão a nova Igreja foi total: abandonados pela Igreja Católica, buscavam um resgate espiritual. Mas, em vez de melhorar, tudo piorou. Além da rigidez da nova religião o preconceito aumentou já que o catolicismo predominava nas regiões vizinhas. Compreendendo que não haviam tido nenhum benefício as mulheres foram se afastando e acabaram dando um fim na Igreja. Sem dogmas, mas não sem fé, continuaram a viver.
Noivas do Cordeiro está situada na região central de Minas, na área rural de Belo Vale, a cem quilômetros de Belo Horizonte. Ali vivem cerca de aproximadamente 250 mulheres e suas famílias. Os homens, quando chegam a idade adulta saem para trabalhar e só voltam nos finais de semana. A comunidade é mantida pelas mulheres que se organizaram em associação, onde tudo é de todos. Direitos e deveres iguais. Uma sociedade igualitária.
Foram anos e anos de luta para tornar as suas vidas mais fáceis. Párias não têm direitos. Tudo era muito difícil: escola, saúde, emprego, integração social.Auto-isoladas,criaram um mundo próprio estabecendo as próprias regras.Depois da reportagem do Estado de Minas as mudanças começaram. Hoje, estão se globalizando: TV, internet, são conquistas recentes. Agricultoras e artesãs, fabricam tapetes, colchas, bolsas e outros artigos de fuxico além de roupas íntimas: calcinhas e sutians vendidos de porta em porta e comprados com desprezo ou até asco (nem de graça compro delas) graças a exposição na mídia estão se tornando objetos de desejo.
Se quiserem saber mais é só procurarem no Google. São vários os links que tratam do assunto e foi neles que pesquisei. O documentário foi passado pela GNT e provavelmente será reprisado. No entanto fico aqui pensando: com o tempo a individualidade da comunidade se esfacelará. Noivas do Cordeiro será apenas mais um lugar onde todos querem ter direitos mas nenhum dever. Terá valido a pena?