Dinamarca, um País Menos Desigual

Estive recentemente em Copenhagen, na Dinamarca. Sempre quis conhecer um país nórdico ver como era a vida nessas sociedades, tidas como as menos desiguais e com os maiores níveis de desenvolvimento. A Dinamarca não é das maiores populações, nem das maiores economias do mundo. No entanto, tem o quinto melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Isso é por uma combinação de renda alta por pessoa, alto desempenho em educação e acesso à saúde. São coisas que se sabe por leitura, eu queria saber se dá para ver.

 

A resposta é positiva. Começa a aparecer nas habitações. Não é só a inexistência de favelas, olhando não consegui perceber quais eram os bairros mais ricos, todos parecem bons lugares para se viver. A cidade é bonita e muito limpa. Tem diversos canais em que se vê o fundo e não se vê lixo, mesmo com muita gente e barcos transitando.

 

Outra grande diferença está nas pessoas. Imagine as que você vê num shopping chique no Brasil, ou num aeroporto, é o que parece andando pelas ruas. Gente bem vestida, aparentemente saudáveis e despreocupadas. Como em todo lugar, deve haver pobres, mas não são evidentes, vi muito poucos mendigos. A população é mais velha, porém, em boa forma, muitos andando de bicicletas ou correndo. Quase todo mundo fala no mínimo duas línguas, não vi ninguém que não falasse inglês. Há grande maioria de brancos, são bem altos, muitos loiros de olho azul. No comportamento, são muito na deles, não puxam papo, se pede ajuda recebe da forma mais prática e rápida possível, sem contato ou conversa além do necessário. Como em toda Europa, tem turistas de todo mundo, ouve-se muitas línguas diferentes nas ruas.

 

Os transportes são excelentes, metrô, trens e ônibus são usados por todos, com boas orientações e opções de bilhetes adequadas a toda necessidade. Há faixas para bicicletas nos dois sentidos de quase todas ruas, é o transporte símbolo da cidade, até gente de terno as usa. Há carros e dos bons, são menos usados do que transporte público.

 

A sensação de segurança é total, anda-se com celular na mão sem medo. Não é que não haja crimes, é que são marginais, exceções, não ocupam parte importante do noticiário. Anda-se a pé pela cidade, mesmo mais tarde da noite. Há festas, no entanto, mesmo no fim de semana terminam cedo, meia noite é silêncio garantido.

 

Outra grande diferença é que a população não só ocupa, ela vive nos espaços públicos. Há muitos parques limpos, cheios de gente com crianças e fazendo piqueniques, correndo. O calor é raro por aqui, eles valorizam demais e mesmo com menos de 20 graus os canais estavam cheios de gente tomando sol e se banhando. Há banheiros públicos próximos, para se trocar pode-se tirar a roupa e por biquíni ou sunga na rua, fazer topless, ninguém liga. Museus e passeios são fáceis e para eles baratos.

 

Eu ouvi em algum momento que eram socialistas, não é verdade. Tem inúmeros pequenos negócios e muitas multinacionais estão lá. Economia de mercado com impostos melhores, na maioria pessoais, que podem ser dosados à capacidade de cada um, mais ricos pagam mais. Um capitalismo mais humano, nada de expropriação de bens ou restrições significativas à liberdade. Algo importante é o respeito às normas, andamos muito de transporte público só uma vez fiscais que visitam por amostragem pediram bilhete. Não se vê gente sem passagens, imagino que seja reprimido.

 

Embora extremamente civilizado, não é o paraíso. Primeiro, porque é um lugar caro, mesmo para padrões europeus, nem banheiro é de graça, passar muito tempo sem renda em moeda local é inviável. Segundo, mais da metade do ano as temperaturas ficam do abaixo de zero até 15 graus, tem épocas de dias curtos. Terceiro, é necessário mudar a mentalidade, ter uma disciplina maior do que estamos acostumados, é esperado e cobrado das pessoas um respeito às regras maior, as pessoas olham estranho se atravessa fora da faixa, não se aceita não seguir a ordem para atendimento, há vagões de trens em que não se pode conversar.

 

Fico sempre comparando outros países e pensando se eu preferiria viver lá se pudesse. Não seria minha opção, principalmente porque aprendi que ter as pessoas que se ama próximas é muito mais importante do que o lugar onde se vive. Outro motivo é o que tenho de bom, minha formação superior, experiência profissional, conhecimento de línguas e ser servidor público não tem muita importância nem faria eu viver bem lá, todo mundo tem isso. Mas, por incrível que pareça, algo que pesa é que não teria propósito em lá viver, nada tenho a oferecer como cidadão para este país.

 

Tenho um sonho de um Brasil menos desigual, mais desenvolvido, queria ter aqui coisas de lá e embora as chances de eu poder contribuir para isso sejam limitadas, elas existem. Ajudo em pouco, com o trabalho que faço, tratando bem as pessoas com quem convivo e com ideias. Por exemplo, com este texto pretendi compartilhar a experiência e que existem lugares melhores para se viver e podemos aprender com eles e buscar que suas boas experiências sejam aplicadas aqui. Não verei o suficiente para ver nosso país desenvolvido, entretanto, tenho visto melhoras e o mundo lá fora é prova de que pode ficar bem menos desigual e que todos ganhariam com isso.

 

Foi pouco tempo, valeu a pena, para mim ficou claro aquele mundo de que ou você é rico ou é nada que existe no modelo americano de vida que é nossa maior referência e que as nossas elites acham que é o certo, não é a única alternativa. Tenho certeza de que a forma como os dinamarqueses vivem é bem superior.

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 05/10/2024
Reeditado em 06/10/2024
Código do texto: T8167092
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