Reencontro
A vida é encontro.
O encontro é o contato gerado na convivência.
O encontro acontece porque tudo estar no universo, numa interdependência ampla entre as espécies vivas e tudo o mais que existe, numa mistura de suaves relações e de choques que alcançam violências fatais.
Em certa condição, face a recursos dominados por saberes e criatividades, conseguimos regular boa parte dos encontros, ao sabor de nossos interesses.
Nesse modelo de comando do encontro, na condição de agente ativo, a vida se mostra regrada pelo sujeito da ação, observados consentimentos sociais estabelecidos ou em confronto com esses valores já constituídos, a gerar novos horizontes, alargando limites de convívio.
A intensa dinâmica de tudo que há, independentemente de todo conhecimento desenvolvido e de qualquer nível de esperteza, surpresas de encontros inesperados acontecem, em forma de impactos a nível individual e social.
A intensidade desses encontros inesperados, em boa parte, impossibilita a realização de projetos, impede a concretização de compromissos, por desnortear o sujeito da ação.
A resposta é, quase sempre, de tristezas.
A nossa base de apoio fica instável e confusões emocionais se estabelecem, permitindo que temores tomem conta das decisões.
Um abismo à frente parece se abrir.
Mesmo assim, é preciso reagir, é preciso viver.
Para isso, é necessário revisar modos de ação, fazer novos arranjos para outros planos, procurando domar a força desorganizadora do encontro inesperado que desconfigurou o projeto inicial.
Tomando-se consciência do choque e da necessidade de se continuar vivendo, o passo seguinte é buscar o reencontro com o objetivo original, aquele que foi interrompido por forças imprevistas.
Reencontrar é uma espécie de ressurgimento.
É no reencontro que a esperança é ressuscitada.
O encontro repentino, que possibilita transtornos, não traz em si apenas um dado de tristeza, esse embate de súbito, que destrói ou anula a sequência de projetos, tem seu lado positivo, a face que põe a vida em alerta.
É o alerta que procura aguçar sabedorias, isto é, é o cuidado em compreender bem o tempo presente e os seus percalços, utilizando com argúcia energias criadoras de soluções e de constituição de barreiras de proteção.
É nesse sentido que o poeta Vinicius de Moraes afirma com audácia: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”
No reencontro, a ação é retomada após os desvios forçados. No reencontro, a gestão de interesses produz efeitos prazerosos à vida.