Os donos dos pais
Vivemos tempos invertidos onde os filhos deixam seu lugar para ocuparem o lugar dos pais, tornando-se donos de seus progenitores. Mandam e desmandam a seu bel prazer. Muitas vezes, até tratando muito mal, maltratando física e psicologicamente.
Não mais se restringem a prender os pais nas famosas casas de repouso ou asilos. Quem dera um lugar desse para tantos pais aprisionados e amedrontados.
Tomam tudo o que eles ganharam com o suor de seu trabalho e se acabam em festas e prazeres da vida. Sem nenhum remorso. Como se os pais fossem grandes otários.
Se deixaram bens, com sua morte é o momento de dilapidação do patrimônio familiar, com brigas que chegam às raias da justiça. Um dos campos de maior demanda no meio jurídico é o de herança. Como herdeiros brigam. Eram donos dos pais, e agora se matam pelo pouco que lhes restou.
Quando não estão mortos, os pais ficam sempre aguardando a boa vontade de seus reis e príncipes, criados nababescamente, para levarem pelo menos ao médico. Até o cuidado nos momentos de dor e doença dependem da boa vontade de seus donos, verdadeiros patrões.
E quando ousam sinalizar o desejo para dar um pequeno passeio de carro, todas as possibilidades ficam indisponíveis, pois não há tempo na vida desses pequenos reis. Mesmo que o carro não seja deles, os pobres pais não podem disponibilizar para um pequeno passeio para aliviar a solidão da velhice.
Mas velhice! Eles não são velhos, mas foram envelhecidos pelos filhos. Envelhecidos e incapacitados! Essa é a mais pura verdade. Assim fica mais fácil a apropriação dos pais pelos filhos.
É muito interessante como os filhos aos poucos vão envelhecendo os pais. E chega o momento que só resta mesmo a interdição, pois já foram totalmente incapacitados.
Enfim, o mundo atual dessa humanidade criou filhos pervertidos. São perversos, sem pena, sem consciência pesada. São perversos porque precisam descartar o quanto antes seus progenitores. Foda-se a moral. Foda-se a religião. Foda-se o mundo.
A sede de domínio ultrapassa qualquer moral, qualquer dogma de fé. O domínio é coisa do demônio que se instalou na educação dessa geração de seres perversos.
O castigo virá sob a forma de conflito! Então fica a autodestruição. Nem filhos querem ter para não correrem o risco de serem dominados depois. Com sua morte, os donos do mundo se acabam definitivamente no caixão. Nada mais continua. Tudo está consumado.
Requiem!
Requiem!