O MUNDO PAROU
Meus amigos, por acaso já pararam para pensar, como uma coisa invisível, comanda os destinos de todo um planeta?
Antes desta coisa, que apelidaram de Covid 19, ter surgido, as pessoas viviam numa roda viva, quer isto dizer que as pessoas não tinham tempo para nada, principalmente para os outros, tão mergulhadas que estavam nos seus próprios afazeres. A sua pesadíssima "agenda", não as deixava enxergar um palmo á frente do nariz. Eu não acredito nisto, há sempre tempo quando a gente quer. O problema é que as pessoas se iam distanciando cada vez mais umas das outras, por egoísmo, má vontade, arrogância, inveja, comodismo, individualismo, numa apatia social que confrangia. Escudávamos-nos em compromissos inadiáveis, quando absolutamente tudo pode ser adiado, exceto a doença.
Viviamos demasiado atarefados com superficialidades, mau humor, descurando valores irrefutáveis.
Esta coisa que não se vê, veio mostrar-nos a nossa insignificância, que na verdade não somos nada. Independentemente do dinheiro, do estrato social, estamos todos na mesma plataforma, igualados no mesmo lote.
O mundo parou, independentemente da agenda de cada um. Tudo passou a ser irrelevante.
O planeta foi bafejado por uma onda de sossego, que lhe permite reduzir consideravelmente o nível de poluição infligida pela ganância e inconsciência do homem, porque os seus habitantes adiaram tudo, tudo o que dantes não podia ser adiado e agora estão recolhidos em casa, com tempo para a família.
Mas será este tempo para a família saudável? Não creio, porque o espectro da Covid 19 está bem patente nas nossas vidas, semeando o medo em cada milímetro de superficie, condicionando a nossa maneira de ser, proibindo a aproximação, impedindo manifestações de afeto, se bem que não precisamos de nos tocar, para saber que nos amamos. Todos nós entendemos a situação vigente.
No entanto, quando tudo estiver terminado, quero acreditar que repensaremos e revalidaremos a maneira como vivemos.
O mundo parou. Fecharam as escolas, suspenderam-se as gravações cinematográficas, a justiça fechou as portas, as empresas pararam a laboração. Apenas trabalha quem o pode fazer a partir de casa. Apenas funcionam, por ora, supermercados e farmácias, com entrada de clientes controlada e trabalhadores chave, para que a engrenagem não pare.
Os grandes heróis desta odisséia são os profissionais de saúde, trabalhando sem parar em Unidades Hospitalares, imbuídos de espírito de missão, colocando as suas vidas em risco.
Covid 19 entrou nos Lares de idosos, não é justo. Mas haverá algo justo exatamente no meio deste pandemónio?
Covid 19 entrou nas prisões. Prisioneiros perigosos estão sendo libertados. Ninguém merece ser vítima desta coisa assassina, mas outro problema se levanta com criminosos à solta.
Contudo esta molécula azóica, veio fazer-nos perceber que as relações humanas, baseadas na entreajuda, na boa vontade, na compreensão, na tolerância, no amor, são imprescindíveis. Veio fazer-nos ver que individualmente, não somos nada. A nossa força está na involvência de todos, conscientemente unidos no mesmo propósito.
Numa guerra, há sempre vítimas. Relembro a célebre frase de Marquês de Alorna, aquando do devastador terramoto de Lisboa em 1755, quando o Rei D.José lhe perguntou o que se havia de fazer perante tamanha catástrofe. Ele sábiamente respondeu: Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.
Enterrar os mortos, é esquecer o passado, não há nada a fazer. Cuidar dos vivos é cuidar do presente, é sinal de reconstrução, caminhar para a frente e fechar os portos, é estar de atalaia a novos perigos, redobrar o cuidado para que possamos endireitar o que sobrou.
Os conselhos do Marquês de Alorna a D.José foram duma indiscutível sabedoria, os quais serviram para reconstruir a cidade de Lisboa. Adaptam-se agora perfeitamente á situação que vivemos, de modo a reconstruirmos também as nossas vidas.
Há guerras e guerras. Estávamos acostumados a guerras com Kalashnikovs e soldados entrincheirados. Passámos pela terrível experiência da bomba atômica. A destruição de Hiroshima e Nagasaki ficaram na história.
Esta é uma guerra de contornos diferentes. É uma pandemia, o inimigo é invisível, prejudica a saúde, apoderando-se dos pulmões. Sem pelo menos um pulmão, não respiramos, sem respirar, morremos.
Fé em Deus, confiança no esforço e entrega sem precedentes do corpo médico, esperança em dias melhores e uma mente positiva são as chaves para abrir as portas para o sucesso.
União e cuidado são fundamentais. Fique em casa. Não negligencie as recomendações da Organização Mundial da Saúde, amplamente divulgadas pelos organismos governamentais de cada país.
© Maria Dulce Leitão Reis
31/03/2020