Uma Carta Amiga Sobre a Guerra da Informação. Sin Perder La Ternura.
Caro amigo, recebi com entusiasmo a sua mensagem, é sempre bom saber o que se passa em cabeças brilhantes. Você, que é advogado na Argentina e tem consciência política, sempre haverá de ter um pensamento que nos interesse ao encararmos o modo como temos vivido nesse recanto do planeta, seja ele copérnico ou estúpido plano.
Sempre com muita clarividência, você expõe o pensamento de um terceiro gênero de poder em curso, por empresas que cuidam da circulação de informações pelo mundo, com a capacidade de amplificar todo tipo de ideologia, transformando-se, assim, nos grandes formadores da opinião pública em geral. E questiona sobre a capacidade dos Estados de controlar esse novo tipo de poder.
O que você me diz remete ao que hoje se chama de “Guerra Híbrida”. Vamos entender. Não se trata de uma “guerra clássica”, com artilharia e bombas. A Guerra Híbrida é aquela posta em marcha com base na informação, nas notícias e na capacidade de difundi-las no meio-alvo para obter os resultados almejados. Suas “bombas” não são explosivos físicos, mas a “instrumentalização informacional” que visa plantar as ideias de seu interesse e fomentá-las à internalização pelos indivíduos.
Veja que você me reporta refletir sobre um terceiro gênero de poder, para além da atual polarização entre capitalismo e socialismo, ainda que com todas as gradações possíveis, constituído pela “tecnologia informática”. E exemplifica com as maiores empresas do mundo que não produzem um único bem tangível, somente manipulam a informação que a sua própria tecnologia permite ocorrer.
Muito apropriada essa reflexão. No entanto, e por enquanto, não creio que ela seja assim uma terceira via, “supra estatal” como dizes. Os países dominantes, que hospedam essas empresas e que tem o poder militar mais belicoso e desenvolvido entre as nações do planeta, por óbvio devem ter as suas estratégias militares de fazer o uso desse poderio intangível. Não lhe parece? E as têm. Mais crível é que sejam eles os patrocinadores dessa guerra, que agora não precisa de motivos escancarados para a opinião mundial para ser posta em marcha.
É o que acontece, de fato. Não são poucos os relatos que, desde há algumas décadas, implementa-se cada vez um maior controle sobre a informação que circula no mundo e sobre os costumes dos cidadãos com base nas informações cotidianas que eles mesmo produzem, cada e cada vez mais registradas nos sistemas informáticos banais e comuns de toda ordem. Ou não?
E o número de investigações, reportagens e documentários sobre o uso de todo esse tráfego para influenciar eleições é, para mim, a mais cabal demonstração do uso dessa tecnologia invisível com fins políticos. Ou seja, se é com fins políticos e de dominação é guerra, indubitavelmente, sem provocar uma mísera expansão de qualquer partícula da pólvora.
Adicionalmente, não há mais a separação entre a guerra ocupacional e a política, entre tempos de guerra e tempos de paz, como nos últimos séculos passados. É outra a realidade nesses tempos onde a ideologia nunca foi tão discutida nos bares e nas mesas de refeição familiares, trazidas por uma circulação cibernética nunca antes vista.
De modo que cada indivíduo, inexoravelmente, passa a ser um combatente. O nefasto é que a serviço de alguém que ele não enxerga e que não tem a mínima ideia da sua existência. E suportado por elementos que estavam latentes há muito tempo, mesmo que já fizessem parte da coerção social ou da repressão do seu próprio meio.
Un abrazo y hasta la victoria.