Boicote, sr. Malafaia?

Ao ler sobre o que aconteceu com Thammy, me veio à cabeça uma frase que certa vez escutei numa entrevista: "quando duas pessoas do mesmo sexo trocam agressões, isso se torna entretenimento. Quando trocam um gesto de carinho, geram repulsa". Um torneio de MMA enlouquece uma multidão e pode gerar lucro alto a seus organizadores. Não por acaso marcas populares apoiam esse tipo de barbaridade. Se estas pessoas estivessem de mãos dadas na praça, o carinho entre eles(as) causaria repulsa e até manifestos violentos relacionados ao preconceito.

Os espetáculos de porrada, os poucos segundos em que tenho o desprazer de percebê-los na tela antes de mudar de canal ou desligar a TV me fazem inevitavelmente lembrar sobre a selvageria humana. É este justamente um dos aspectos mais perturbadores de nossa natureza, existente desde sempre, independente de época ou cultura, talvez desde muito antes dos fechas no coliseu atiçarem as emoções do público romano. A ode ao massacre. Penso que cada um de nós deveria se esforçar para ficarmos o mais distante possível deste comportamento de criaturas ávidas por quebra-quebra e discórdia, inspirando-nos em bons exemplos, inclusive os diversos evidenciados na atual quarentena.

Mas aí, volta e meia nos deparamos com atitudes como a do pastor Silas Malafaia. Pode discordar? Natural que sim. Pode criticar? Pode também. E mesmo dizer ao público, especialmente o religioso, que faria de outra forma, teria outro comportamento? Sim. Poderia opinar abertamente, com a liberdade que gozamos, porém com o devido respeito e sempre aberto às opiniões contrárias. Seria este o caso do pastor? Creio que não preciso responder.

Felizmente o protesto foi um tiro pela culatra e as ações da Natura dispararam. Dispararam! Foi um tiro mesmo. Quem diria? Pastor Malafaia, contra a própria vontade, se tornou um garoto-propaganda voluntário da Natura! Mesmo assim, não deixo de me preocupar com esse tipo de atitude. Se o boicote tivesse surtido efeito, imaginem quais seriam as próximas ordens do general ao batalhão? Talvez semelhantes ou até piores que as ordens dadas pelo... capitão. Invasões, por exemplo. Imaginem se os episódios de agressão a outros grupos religiosos, ou mesmo pessoas não religiosas, se multiplicassem? Mais uma bucha para se juntar às intermináveis ocasionadas pela polarização. Lembremos dos atos de hostilidade contra adeptos de religiões afro-brasileiras, algo lamentável, tanto quanto têm sido os ataques mais recentes aos evangélicos em Angola.

Cá entre nós, independente desta preocupação, se o boicote tivesse dado certo, eu tentaria ir ao encontro de Malafaia. Levaria uma lista com nomes de empresas para sugestão de boicote: aquelas que lucram horrores à base de trabalho escravo. Inclusive aquela rede presente nos shopping centers Brasil afora. A propósito, certa vez eu vi publicidade de uma viagem religiosa a Israel sendo divulgada pelo próprio Malafaia. Na volta passariam em Dubai. Justo Dubai! Eu perguntaria ao pastor se ele sabia que aproximadamente 250 mil pessoas vivem em condições subhumanas para sustentar aquele luxo todo. Feita a pergunta, sugeriria também deixar de lado estas visitas, apagar do roteiro. Boicote. Eu faria esta sugestão olhando para ele muito sério. Juro, muito sério.

Aos seguidores do pastor, eu perguntaria se existe uma, ao menos uma pessoa, que reflete sobre estas coisas que ele fala e se discordaria dele em algum momento.

E ao Thammy, resta desejar que seja um bom pai, que exerça um papel exemplar num país que muitos não o fazem, inclusos aí, me arriscaria a dizer, os moralistas que o atacam.

José Antônio Dias
Enviado por José Antônio Dias em 31/07/2020
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