Mansidão

Na significação dicionarizada, a mansidão é um estado de espírito de alguém que tem controle e domínio sobre seu temperamento e mantém sob limites éticos suas atitudes. Frente a dramas intensos, consegue ter calma. Arranja paciência, quando alcançado por situações irritantes.

Lidar com a vida é lidar com afetos, essas sensibilidades da alma que se revelam de mil e um modos de ser, no que se incluem a mansidão e a violência, uma impedindo a outra. Não é desvario, há os mansos de coração e de ação, há aqueles que conseguem, de algum modo, domesticar a paixão, submeter a domínio seus interesses e vontades, aproximando-se da candura, da pureza, da mansidão.

Uns se espelham em transcendências e se ajustam no plano da brandura:

“Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração [...]” - Mateus 11,29.

Outros constroem sua própria ternura e se tornam espelho:

“Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira [...]” – Mahatma Gandhi (1869-1948).

Meio a caminhada, numa ou noutra hipótese, espelhando-se na transcendência ou construindo a própria brandura, enfrentamos, sempre, embates de toda ordem, porque somos corpos em ação, corpos em contatos permanentes, a cooperar ou a competir, possibilitando momentos alegradores ou paixões desenfreadas.

É nesse contexto de embates de toda ordem que faz surgir as excepcionalidades, que abandonam demarcações e criam horizontes e novas potências de agir, superando condicionamentos e possibilitando grandezas como a do exercício da mansidão.

Isso importa reconhecer que na mansidão o homem está indo para além de si, ao se libertar das contingências de seu tempo, como na figura postulada pelo filósofo Nietzsche (1844-1900): “[...] lança a flecha do seu anseio por cima do homem”.

O grande homem que Nietzsche queria é aquele que, com os olhos fitos num ideal, coloca toda a sua vontade e toda a sua ação ao serviço da grandeza humana. Temos muitos exemplos: Cristo, Buda, Mahatma Gandhi e, entre nós, Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Machado de Assis, Irmã Dulce, e quantos mais?

Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 07/06/2020
Código do texto: T6970673
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