A Ética de Aristóteles e a Contemporaneidade

A concepção de Aristóteles para a ética trata das ações do homem para o bem, admitindo a existência de um bem supremo. Para Aristóteles, o fim último da existência do homem é a felicidade e a vida boa. A felicidade é, pois, uma atividade acessível ao ser virtuoso que respeita os valores morais.

Aristóteles afirma que toda ação humana se realiza visando um fim. E, na sua concepção o fim que impulsiona a ação coincide com o bem e se identifica com o ele. Aristóteles também identifica que muitas das ações que o indivíduo executa são "instrumentos" para possibilitar a realizacão do fim intermediário. Quer ele dizer que há fins que são meios para um fim último, o bem último, que é a felicidade.

Com efeito, Aristóteles diz que a felicidade é aquele estado a que se aspirara por natureza. É sua concepção de que a felicidade está identificada com a vida, com a boa vida. E é assim que, ao diferenciar a virtude do vício, ele estabelece que quanto mais virtuoso o indivíduo for, pelo número de virtudes que pratica conscientemente, mais diretamente ligado à felicidade estará.

Pois a felicidade é o maior dos bens, é um bem em si.

É importante observar que Aristóteles tem na sua ética a compilação de dois sentidos da palavra grega “ethos”, um de "morada, casa familiar, lugar onde se habita" e outro de "modo de ser, do caráter de que o ser humano vai se apropriando ao longo de sua vida". Da mesma forma, Aristóteles idealiza duas formas de virtudes: as inatas (dianõetikaí) e as que são adquiridas pelo hábito (ethikaí).

Após essa breve consideração sobre a concepção de Aristóteles de ética, vamos analisar a sua compatibilidade na atualidade, pelo menos no nosso cotidiano mais próximo, onde percorremos a nossa existência.

A sociedade hoje é bem diferente daquela em que Aristóteles viveu, por óbvio. O número de pessoas é incomparável mas, mais do que isto, a multiplicidade de relações entre as pessoas nos mais diversos matizes, desde pessoais, profissionais, culturais e até relações de poder tornaram muito mais complexas as intrincadas ligações que formam, hoje, o conjunto de relacionamento do indivíduo. Com tantos interesses concomitantes nos emerge a questão da felicidade em si, pois ela deve representar, para o homem contemporâneo, um significado diferente daquele que Aristóteles idealizou.

Com efeito, na atualidade, não são todos os homens que concebem de forma clara o que é a verdadeira felicidade. Primeiramente, vejamos que a maior parte das sociedades ocidentais estão organizadas de modo capitalista. Isto traz um valor enorme para a propriedade individual e, mais, para a propriedade privada dos meios de produção.

Ou, seja, sem querer discutir sistemas de governo, o que há na nossa sociedade contemporânea é muito materialismo. Com isso, muitos, procurando a felicidade, anseiam acumular riquezas materiais, procuram cargos de reconhecimento, honras de diversas formas e se entregam ao prazer que se pode desfrutar com todas essas coisas. Conseguirão? Podemos questionar onde fica o viver de forma virtuosa, sem cometer excessos, que é como Aristóteles entendia ser a verdadeira felicidade.

Temos uma distância no tempo de mais de 2.300 anos entre essas duas épocas que servem para esta abordagem, uma “evolução” que foi sendo constituída paulatinamente ao longo do tempo, com suas idas e vindas, em termos de valores.

Apenas à guisa de exemplo, lembremos que Maquiavel teve o seu entendimento próprio de virtude – a “virtú” – no século XV para o XVI, em que o que importava era saber aproveitar as circunstâncias que aparecem e, com isso, saber agir no momento certo para alcançar seus objetivos. Podemos realçar que o pensamento de Maquiavel era bem voltado ao sistema de governo que, para si, tinha como objetivo a sua manutenção. Não é muito diferente do que se vê à nossa volta.

Voltemos ao nosso mundo contemporâneo. Apesar de vivermos num mundo materialista e nos depararmos, a todo o momento, com a necessidade de “ter mais” ao invés de “ser mais”, quantas vezes não nos perguntamos se ficamos realmente felizes com aquela nova aquisição? Ao mesmo tempo, vemos na sociedade diversas iniciativas que procuram incentivar ações virtuosas em busca do bem, o que conflui com a visão da ética aristotélica.

A bem da verdade, a nós cabe, pelo livre arbítrio que ainda temos, a escolha de que vida queremos para nós. E, sim, ainda temos pensamentos de que a felicidade se alcança com a boa vida e com os fins das ações virtuosas.

O pensamento de Aristóteles ainda vive.

Graco Jakal
Enviado por Graco Jakal em 22/03/2020
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