Celular, acorrentado e idolatrado!

Logo quando surgiu, o celular já se mostrava como um intruso mal educado que se intrometia na conversa entre duas ou mais pessoas que dialogavam olho a olho. E fazia isso com uma autoridade impressionante, fora do comum: se tocasse o celular a ligação, por si só, já atrapalhava a conversa e a pessoa geralmente a interrompia para atender aquela "prioridade".

O tempo passou, o celular reduziu seu tamanho, depois ficou maior de novo, mas sempre com muita tecnologia sendo a ele atrelada.

E aquele aparelho estranho se encontra atualmente mais presente que nunca. Agora, não mais como um intruso, mas como um membro da família, um símbolo de status, uma extensão do próprio corpo. E seu significado vai muito além disso. Ele, em muitos lares, é o rei, o ditador de regras, de moda e de costumes. É ele quem manda nas relações. Ele quem diz se isso está bem ou não. É também um semeador da discórdia, uma vez que desencadeia discussões entre amigos, entre casais, provoca demissões, divórcios e, em casos mais extremos, até assassinatos e suicídios... É também causa de extrema dependência. Tornou-se, por ser essa "ferramenta essencial", um vício, um mal necessário, a praga tecnológica do século vinte e um. É também, nesse entendimento, um cúmplice fora-da-lei, pois, quando pensávamos que já era bastante perigoso falar ao celular ao dirigir, eis que surgem pessoas o utilizando para escrever mensagens ao volante ou (por mais insano que pareça) caçando monstros cibernéticos enquanto dirigem seus veículos ou caminham nas calçadas. Há ainda hilários, não fossem trágicos, casos de pessoas que se machucaram seriamente trombando em postes, placas ou despencando em boeiros por andar nas ruas compenetradas em suas redes virtuais.

Viver com esse tijolo da modernidade sempre colado a nós é tão comum que quem insiste em não ser assim é considerado um alienígena ou homem das cavernas, passando a ser extirpado socialmente, pois não participa do que ocorre nas bolhas dos chamados grupos sociais. O mais irônico é que, em rodas de amigos aquele que não ignora a presença do outro enquanto observa seu celular, este sim, é sumariamente ignorado pelos demais.

Corre a humanidade a passos largos para a submissão escrava e completa a esse aparelho? Ou ainda temos chances? Alguém chegou a dizer que a tecnologia trouxe respostas a problemas que antes dela não existiam.

O fato é que todo esse avanço que iniciou com a premissa de aproximar encurtando distâncias acabou por afastar as pessoas que já tão distantes se encontravam.

O que mais esse futuro tão aguardado e assustadoramente fascinante nos prepara?