A linha entre o preconceito e o vitimismo

Em um grupo de conversas de uma rede social, ao qual estou incluso, a seguinte pergunta foi levantada por um dos membros: "Falar que uma pessoa é macumbeira é preconceito?" A partir daí iniciou-se um debate onde culminou em um ponto delicado de ser discutido: a linha entre o preconceito e vitimismo.

Atribuído frequentemente aos atuais movimentos sociais, como por exemplo, os movimentos negros, LGBTs e Feministas; a ideia do que seja preconceito e o vitimismo tornou-se palavras chaves em discussões de tais temas. De um lado, temos os movimentos que buscam mudanças de valores e pensamentos tidos como retrógrados e preconceituosos da sociedade; de outro, temos aqueles que contrários aos ideais propostos, atribui os preconceitos como puro vitimismo de seus membros.

No que diz respeito ao vitimismo, temos aí um claro objetivo de minimizar ou até mesmo desqualificar o que o outro entende e sente por preconceito. É muito comum observar nas redes socais quando existe uma imagem ou notícia relatando alguém sendo vítima de algum tipo de discriminação (E não são poucos), você se deparar nos comentários com a palavra vitimismo sendo atribuída ao fato, ao lado de uma inversão dos papéis de oprimido e opressor.

Mas estariam os adeptos do termo de vitimismo completamente errôneos em seu pensamento? Ou realmente existe uma tentativa de “vitimização” de tais movimentos? Afinal, hoje é tudo preconceito? Entramos então na linha do preconceito, de quem sofre e de quem as praticam.

Quem pratica muitas vezes não sabe que as praticam, ora, muitos dos pensamentos preconceituosos têm origem histórica e passada com naturalidade pela sociedade de forma que o atuante preconceituoso não julgue o que pratica de preconceito, não tem uma consciência do que é certos atos ou termos para o outro. Quanto aos que sofrem, acabam sendo reprimidos de tal forma que não agüentam mais, pois só quem sofre, sabe do que sofre, e por meio de um ideal se juntam formando grupos de movimentos que buscam eliminar tais atos e alertar a sociedade que preconceito existe e machuca, ou nos piores casos, matam, reforçando seus pensamentos com dados significativos, matemáticos e de experiência própria ou presenciada. Sendo, que esses grupos que se unem são formados por indivíduos que possuem alem de um ideal coletivo, os seus ideais pessoais.

Diante de tudo o que foi exposto, e voltando a pergunta norteadora que foi apresentada no início “Falar que uma pessoa é macumbeira é preconceito?”, pergunta está que pode substituir a palavra “macumbeira” por inúmeras outras, como: Viado, negro, gordo etc... A resposta seria o contexto, ou seja, pode ser e pode não ser, afinal cada ser é um ser, carrega sua própria bagagem histórica e psicológica.

O que ocorre então dentro dos termos “preconceito” e “vitimismo" são uma deturpação de ambos os termos, uma deturpação ainda maior no que se refere ao vitimismo. Os movimentos sociais são grupos de indivíduos que sofrem de determinado preconceito/discriminação, acontece de existir radicalismo por partes de uns desses indivíduos, no que diz respeito a casos físicos. No movimento LGBT, todos os anos são levantados dados de homossexuais que são assassinados, cabe acusar a todos os crimes por motivos homofóbicos? Há dentro do movimento LGBT que responderiam sim e que não. Situação essa que caberia entrar o termo de vitimismo, quando qualquer caso de assassinato ou agressão física, sem exceção, se enquadra em motivos preconceituosos por parte de uns indivíduos mesmo que não seja por esse motivo.

Onde então se encontra o erro no emprego do "vitimismo"? Digo que em quase todos os meios em que o termo é utilizado. Uma vez que usam a palavra para minimizar um movimento por meio de um ou uns indivíduos, é o que costumo chamar de falta de diferenciação do "Ele" e do "Eles" Quando existe um determinado movimento, e dentro dele existe um único indivíduo ou um pequeno grupo que utiliza argumentos de forma radical e diferente do movimento em si ou que detém do real caso de vitimismo, esse indivíduo ou pequeno grupo é escolhido por aqueles contrários à determinado movimento como representante de todo o movimento, sem separar o indivíduo do coletivo, sem separar o "Ele" do "Eles", como podemos também verificar em redes sociais, que como já foi dito, como pura intenção de desfazer de determinado grupo ativista.

O segundo ponto onde o vitimismo é exposto de forma errada é quando ocorre a falta de diferenciação do “Eu”, do “Ele” e do “Eles”, esse fenômeno ocorre quando a pessoa parte de si (o eu), parte do conhecimento sobre um outro (O ele) para gerar seu julgamento sobre os outros ( Os Eles). Usando a pergunta que foi exposta como exemplo, temos então que se para mim a palavra “macumbeira” não é preconceito, e que para um praticante de religiões de matriz africana também não é, mas para outro praticante seja, esse ultimo, vai ser julgado por vitimismo, e isso seria uma idéia errada, porque mais uma vez, um ser difere do outro, os sentimentos e sua bagagem histórica psicológica não vão ser iguais, o que pode ser para ele algo que o abale emocionalmente ou psicologicamente, não cabe a nenhum outro medir o que certas palavras ou atos significam para aquele que sofre com elas.

Preconceito e vitimismo são dois termos que precisam ser analisadas por aqueles que as defendem para não cair em uma falsa interpretação e serem colocadas em contextos inadequados. E cabe a cada um de si aprender a lidar com o outro pensando em uma forma mais geral, do que pensar somente em si e tirar conclusões sobre o outro.

Lucas Yagami
Enviado por Lucas Yagami em 11/10/2018
Código do texto: T6473012
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