Os Horizontes da Modernidade
 
 
O conhecimento e o modo de ação humana ganharam nova feição quando do aparecimento da ciência moderna, considerada aquela que se formou e se estruturou tendo como base os acontecimentos que fizeram o catolicismo perder seu poder absoluto sobre a sociedade.
Esse enfraquecimento começa aparecer no seio da própria Igreja com os movimentos de divergência conhecidos como Reforma Católica e Reforma Protestante. A Reforma Católica (Concílio de Trento-1546) visava conceder maior autoridade ao Papa, enfatizar a disciplina eclesiástica e a unidade da fé católica. Na Reforma Protestante ficou explicita a insatisfação com as atitudes da Igreja Católica e seu distanciamento em relação aos princípios primordiais.
Alcançou significação importante, nesse momento, no campo da ciência, a quebra do modelo geocêntrico, em que a Terra era considerada centro do Universo, isto é, a Terra estava parada e os demais corpos celestes, inclusive o Sol, giravam a seu redor. Essa teoria do astrônomo Cláudio Ptolomeu (90-168) foi aceita e defendida pela Igreja Católica até 1758. Nesse ano, a Igreja retirou do índex dos livros proibidos as obras sobre o heliocentrismo, teoria defendida pelo pai da Astronomia Moderna, Nicolau Copérnico (1473-1543), em que a Terra é que gira em torno do Sol e não o inverso. Era a força da ciência começando a se firmar como verdade.
Meio a essas questões de redução do poder da Igreja e crescimento da importância da ciência, novos valores filosóficos vão se instalando como modelo de ação. Esses valores novos transferiram à ciência moderna a portabilidade de verdades e de legitimação de conceitos, antes dominados pela Igreja, que, no plano intelectual, se considerava a guardiã do conhecimento sistematizado, uma vez que as bibliotecas ficavam todas em seu domínio.
É diante desse novo cenário histórico que o homem assume novo modo de autocompreensão de si mesmo e do mundo. Em lugar da Igreja, a sociedade laica agora passa a legitimar a verdade sobre a vida social. A vida contemplativa de tradição grega, em que atestava a grandeza do homem e sua eminente dignidade, cedeu espaço para o homem como construtor ativo. O conhecimento e ação agora, ao se sustentarem nos princípios filosóficos e científicos, afastaram-se das fundamentações do catolicismo medieval.
Em face dessas mudanças, a razão humana que surgia de uma sensibilidade que auscultava mundos ideais e transcendentais, fora da experiência histórica, agora se alimenta de uma prática exercitada no contexto de teorias formadas na experiência, na vivência social. Essa contraposição entre teoria e prática está na base da nova ordem do conhecimento e da nova ordem da ação e marca o mundo moderno, ao transferir inteiramente para o homem a responsabilidade da construção social.
Esse novo momento faz o tempo moderno ser uma ruptura com as ideias dominantes do passado próximo (medieval e católico) e com o passado distante (mundo grego e idealista). O homem moderno ver surgir novos valores e novos estímulos na direção de uma sociedade aberta para todos os indivíduos independentemente de quaisquer outras condições.
Criar novos valores. No curso das transformações dentro do processo de afirmação da modernidade (séculos XVI a XVIII), acontece a queda da ordem feudal representada pelo Absolutismo e se consolida, para o bem e para o mal, a sociedade capitalista, em que a apropriação econômica é o principal definidor da estratificação social.
Na base desse caminho capitalista estão os fundamentos teóricos que sustentaram os anseios da modernidade. Solidificaram-se nesse período o empirismo, doutrina filosófica que defende a conceito de que somente as experiências são capazes de gerar ideias e conhecimentos (John Locke — 1632-1704) e o positivismo, pela qual somente se pode afirmar que uma teoria é correta se ela for comprovada através de métodos científicos válidos (Auguste Comte — 1798-1857).
Mundo renovado nos ideais, horizontes multiplicados. Agora a teologia católica (estudos voltados para as resoluções divinas) foi substituída pela teleologia laica (preocupações voltadas para futuro na Terra). E quantas conquistas materiais já não aconteceram? E quantas alegrias e sofrimentos nós já não cometemos nessa caminhada? Haverá um dia em que veremos as virtudes teológicas e as teleológicas reencontrarem-se para salvação de todos os homens?
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 21/08/2018
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