A Modernidade (III)
 
 
Mundo moderno.
A partir do século XV grandes mudanças sociais começaram a acontecer no mundo ocidental. Houve transformações na economia, na política, na religiosidade e no pensamento.
Há uma nova realidade apresentado-se ao indivíduo. Se o mundo se transforma, as atitudes também se modificam. Outro homem surge. A vida se redefine nos significados novos que agora se sustentam nos interesses dessa nova realidade: o mundo empírico, todo ele baseado na experiência dos sujeitos vivendo suas próprias vidas e respondendo por elas.
O desenho dessa nova realidade foi bem traçado pelo sociólogo e economista alemão Max Weber (1864-1920): A realidade é um permanente e caótico fluir de acontecimentos e processos que ocorrem simultânea e sucessivamente dentro e fora de nós mesmos.
Mudou a forma como o mundo funciona. É preciso aprender a viver nesse novo mundo por nossa própria conta. Saber viver, aprender a viver, contar com nossas decisões e habilidades para colocar os bens do mundo à disposição de nossos interesses.
Agora as regras não estão dadas, temos de criá-las, tomando como fundamentos a independência, autonomia e liberdade, princípios estes postos como ideais de um tempo novo cujo rumo atende evidências empíricas, como já dissera o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857): Os dados só falam quando alguma teoria os faz falar.
Fazer uma teoria é compor um trajeto de saber pelas possibilidades da faculdade humana. Importa dizer que viver no mundo moderno é descobrir os sentidos implicados nessa relação entre realidade e conhecimento, em face daquilo que somos, como entendeu o filósofo inglês Alan Watts (1915-1973): Nós não viemos a este mundo; viemos dele, como as folhas de uma árvore. [...] Cada indivíduo é uma expressão de todo o reino da natureza, uma ação singular do universo total.
Ao se tomar consciência de que estamos aqui no mundo, reconhecemos que este espaço é a nossa morada, lugar onde habitamos para construir e pensar ou pensar enquanto construímos.
Nesse exercício de habitar na modernidade está presente a ideia de compartilhamento de valores, sem o que aqueles fundamentos de independência, autonomia e liberdade não acontecerão.
Esse universo de valores necessariamente deve compor o quadro de compreensão do grupo, ganhar significado, alcançar sentido e, nisso, mexe na alma de cada um de nós em forma de aprovação, desaprovação, de alegria, de tristeza, ampliando ou reduzindo a ambição, conduzindo a vida a encantos ou a desastres.
Essa compreensão, que faz a alma vibrar em emoções, pode ser afetiva ou artística, e sobrevoa, altaneira, para além daquelas pretensões dos cientistas sociais, que compreendem o mundo a partir de frias equações.
Na modernidade, assim, viver é mais do que simplesmente conhecer a realidade que nos envolve, é conhecê-la e fazê-la fluir em processos e acontecimentos capazes de produzir novas mutações antes impensadas, é deixar aparecerem as contribuições de um modelo social independente, autônomo e livre.
A interrogação que surge agora é sobre a pretensão.
Vimos que as grandes transformações na economia, na política, na religiosidade e no pensamento criaram a modernidade e com ela surgiram as possibilidades de independência, autonomia e liberdade.
Esses anseios foram alcançados? A humanidade já alcançou sua maturidade, sua fase adulta de independência, autonomia e liberdade?
No aspecto das ciências e tecnologias, a modernidade avançou muito, basta olhar em torno e aí estão as conquistas na área da saúde, da comunicação e dos transportes, mas avançamos muito pouco nas questões morais, éticas e religiosas, basta olhar em volta: ampliam-se as desigualdades, proliferam-se as individualidades.
Estamos num impasse dentro da modernidade?
Toda a produção do conhecimento que nos trouxe até aqui parece que perdeu força: já não sabemos mais desejar porque não acreditamos ser capazes, muito menos sabemos do que somos capazes... Perdemos a crença de construir um mundo igual para todos?
Antonio Pereira Sousa
Enviado por Antonio Pereira Sousa em 20/08/2018
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