O problema do Brasil não é o brasileiro.
Definitivamente, o problema do Brasil não é o brasileiro! É um grande equívoco dizer que é nossa a culpa de todas essas mazelas sociais. Na verdade, nosso povo é constantemente explorado, e para que isso se perpetue há uma sabotagem em três níveis: cultural e sociopolítico.
A mídia televisiva investe pesado na criação de valores e subjetividades, sempre conveniente aos interesses da classe dominante. A escola pública é precarizada de propósito, para que os cidadãos sejam analfabetos funcionais e sem senso critico.
Além disso, há um esforço tremendo para consolidar-se o falso moralismo e uma tremenda inversão de valores.
É assim que: a mulher é que tem culpa por ser violentada, quem mandou usar roupa coladinha e saia curta; você está desempregado porque não tem qualificação profissional; somos o país do futuro, do carnaval e do futebol, por isso, é festa o ano inteiro e tem sempre uma final de campeonato emocionante todo final de semana; brasileiro é acomodado e não tem consciência política, quando na verdade temos um estado policial absolutista que reprime severamente manifestações pacíficas e ignora justas reivindicações.
Também é evidente que somos doutrinados à cultuar a malandragem como arte, esse é o tal jeitinho brasileiro, que promove a corrupção cotidiana das pequenas coisas, em qualquer oportunidade. A corrupção dos políticos é, tão somente, a projeção desta corrupção cotidiana, que alcançou o poder pelo voto direto.
Nestas circunstâncias, é fácil constar que é mais uma falácia dizer que o problema do Brasil é o brasileiro! Talvez, para alguns poucos, seja realmente uma opção trapacear e lograr êxito à qualquer custo, bastando que haja quaisquer oportunidades. Outros, por sua vez, tornaram-se acomodados, após serem vilipendiados e reprimidos constantemente. Entretanto, a imensa maioria dos brasileiros foi condicionada, desde o berço.
Há riquíssimas subculturas em todos os estados brasileiros, temos a peculiaridade de ser um país continental, mas, infelizmente, essa diversidade não se comunica ao ponto de criarmos uma identidade nacional. Por isso, não há patriotismo: há pouca convergência cultural! Essa síndrome de vira-latas é somente um sintoma, a miséria e a pobreza de espírito são consequências, todo esse comodismo é uma questão de ser pragmático para não ser reprimidos.
Faça, amigo leitor, uma rápida análise de sua consciência e responda para si mesmo se você é um artista da malandragem (quase do bem), ou um pacato cidadão subjugado? Até quando, meu povo? (Gilson Matos)