O Poder Moderador do fascismo brasileiro em época de golpe
Prezado Sr. Eduardo Vilas Boas,
Os protestantes iniciam suas cartas com uma passagem bíblica e inicio a minha com citação de um dos homens considerados pelo Exército, como dos mais corretos, o senador (letra minúscula) Romero Jucá: “Precisa estancar a sangria. Tem que tirar ela, colocar o Michel. Militares vão garantir e com o Supremo e tudo, vocês entenderam?”
General, li outro dia matéria na Folha de São Paulo a respeito da sua saúde e dos seus posicionamentos em relação ao Brasil e a democracia. Mais pela sua doença, fiquei sensibilizado e planejava escrever-lhe. Parecia que a sua dor era minha também. Demorei a escrever, e hoje, mando-lhe estas linhas com um sentimento de profunda decepção com o Exército Brasileiro, com o senhor, inclusive.
Se eu fosse mais novo, deixaria o Brasil, país onde milhares perdem a alegria de viver. Terei que viver num país que protege uma elite corrupta e concentradora de riqueza e expande a miséria a uma população crescente e que, conta para isso, com o apoio do Exército, cujos recrutas não se originam da classe endinheirada e que poucos chegam aos cargos de comando da instituição.
Li sua postagem no twitter e me revoltei, embora não fosse dos tolos que acreditaram na velha cantoria de alguns comandantes, hipócritas, que sepultavam 1964, objetos de fartos estudos, principalmente da direita estadunidenses sobre o que foi aquele golpe de Estado. Dreifuss é exemplo disso. Nela há flagrante e costumeiro desrespeito à democracia, coisa que deve ser incutida na cabeça, como lavagem cerebral, desde a arrigimentação às Forças Armadas.
O senhor dirige flagrante ameaça aos poderes da República, colocando o Exército Brasileiro como “poder moderador”, acima do Executivo, Legislativo e Judiciário, e demonstrando desrespeito à Constituição Federal, ao desejo da população brasileira expressa em eleições livres. Ora, a nação somos nós, o povo. O Brasil não é um quartel, não andaremos todos de verde, diariamente nas ruas. O Exército em qualquer país decente deve servir a nação e o resultado das urnas. Por acaso, o senhor deseja instalar um regime no qual, as eleições sejam, primeiro referendadas pelo Exército antes de publicadas, ou feitas e refeitas até que o Comandante da força terrestre seja agradado?
O Brasil é um país com lampejos de democracia e a sombra do Exército é uma das responsáveis por esse atraso. 1944, 1954, 1955, 1962, 1964, 2016 e 2018. Nem mencionei o controvertido 15 de novembro, que alguns consideram outra demonstração de golpe. Os senhores, de novo, marcaram, vergonhosamente a nação e a educação brasileira com um forte apelo ao fascismo e a desvalorização da participação popular nas urnas.
Por que o comando do Exército não encaminha uma sugestão para o Congresso para que se instaure no Brasil um sistema de governo perpétuo, onde seremos um território, exclusivamente militar, sob o protetorado do Exército Brasileiro, extintos os poderes tradicionais do princípio republicano? Se temos generais que podem decidir como máxima corte, por que os poderes?
Outra bobagem dita em sua postagem e isso preocupa, dado que os jovens que ingressam no Exército, propositadamente, entram com baixa escolaridade e imagino que cheguem ao generalato do jeito que sairam (desconheço se o Exército tem Universidades próprias) é o conceito de ordem social. Que ordem social é essa que não pode ter conflitos, contradições, debates e que não possa decidir por meio da vontade expressa de sua maioria? Aliás, deve ser a nação e os elementos que a representam, que devem definir as funções e o papel do Exército e não o contrário.
A atitude e as ameaças ao Presidente Lula por parte do Exército e de alguns homens da reserva é digna de denúncia em organismos internacionais, para que o mundo conheço os sujeitos que tentam fragilizar a democracia na América Latina. O Exército possui armas, mas não possui instrumentos jurídicos capazes de proceder sindicância (lembra dos hilários IPMs da Ditadura?) e portanto, julgar qualquer cidadão.
Transmita ao Exército Brasileiro o meu protesto. Desejo-lhe melhoras, mas muito mais, que a saúde da democracia, em coma neste momento, melhore. Revoluções sociais existem na História, e não há força capaz de impedí-las, cedo ou tarde.