Deixando Muros; Construindo Pontes
Temos aprendido através da história que muitas civilizações da antiguidade construíam muros e muralhas para cercarem seus territórios e suas cidades, com o objetivo de se defenderem dos inimigos que implacavelmente guerreavam para ampliar suas fronteiras, destruir cidades e subjugar povos. Havia muitas guerras entre as nações e os povos eram bárbaros. Mas percebe-se que os muros e muralhas se restringiam a uma luta de poder tão somente entre nações, ou seja, tudo ficava no campo político e um possível inimigo era estranho e muito distante; com outra língua, outra cultura.
Pois bem as civilizações “evoluíram” e os bárbaros ficaram no passado. Mas será que houve realmente evolução? Vejamos o caso do muro de Berlim que separou uma cidade ao meio e por questões políticas e ideológicas proibiu a todos de passarem para o lado ocidental da cidade. Neste caso entendo que houve um retrocesso pois tudo saiu do campo das nações e passou para o terreno do individuo. Aqueles que tentassem atravessar o muro eram mortos. Temos também outro exemplo – aquele construído na faixa de gaza para separar o povo palestino. E nos últimos dias muito se tem falado sobre a proposta do governo norte americano de construir um na divisa do seu país com o México. Não sabemos se realmente levará a cabo a sua intenção, mas há muita apreensão diante desta possibilidade, neste caso o argumento é barrar traficantes e controlar a entrada de imigrantes latino americanos naquele país.
Portanto não se trata de uma estratégia para barrar um país invasor, pois o México ou qualquer país do mundo não teria intenção e condições para tal. Trata-se apenas de barrar a entrada de pobres mortais e assim evitar a concorrência de bens e riquezas. O muro agora serve para separar indivíduos originários de outras nações.
Com o êxodo rural as cidades cresceram desordenadamente, a violência aumentou por conta das crises econômicas e os governantes não foram capazes de garantir segurança às pessoas. Como resultado, agora os muros não dividem mais países e cidades. Agora cercam uma casa da outra, um cidadão do outro. Muros enormes são erguidos todos os dias e mais e mais as pessoas estão ficando presas e separadas umas das outras. Agora o inimigo está dentro do país, na minha cidade, na minha rua, quando não dentro da minha casa. Construímos fortalezas e acabamos por ficar presos e reféns de nós mesmos.
Particularmente não gosto muito de muros. Muros dividem, separam , isolam. Muros nos deixam prisioneiros. Muros é a personificação daquilo que está no coração do ser humano, pois ao invés de lidarmos com nossa capacidade de relacionarmos em harmonia, em paz, respeitando os direitos de cada um, preferimos tratar nossas indiferenças e nosso egoísmo, construindo muros e mais muros, nos fechando mais e mais para os outros e para nós mesmos.
Muros somente aqueles de arrimo. Muros somente aqueles para proteger uma escola, um hospital, um parque. Nada mais. Ah mas quem dera se todo muro fosse aquele visível, de concreto, que a gente vê de longe e o respeitamos pois são enormes e intransponíveis ! Pior muro é aquele que não se vê, é aquele que está escondido dentro do ser humano e se manifesta através do nosso egoísmo, do nosso ódio, do nosso preconceito, de nossa avareza desenfreada. Pior muro é aquele que se materializa através da religião, da política, do preconceito em todas as suas formas. Pior muro é aquele que humilha, escraviza, aquele que não dá à oportunidade de se estender a mão, dar um abraço, pois afinal a vida é breve e passageira como chuva de verão.
Paremos de construir muros e mais muros. Construamos pontes. Prefiro as pontes. As pontes nos unem, nos aproximam, criam oportunidades, as pontes nos permitem o compartilhamento de conhecimento, de experiências. As pontes nos conduzem a globalização em sua forma mais sublime onde se abre caminho para um relacionamento harmonioso entre cidadãos do mundo.
Conta-se que os incas tinham muitas dificuldades para atravessar de uma montanha a outra, pois além delas serem altas e muito inclinadas, eram separadas por vales profundos, banhados por pequenos rios, tornando quase impossível a travessia. Para solucionar o problema construíam pontes enormes, feitas de cordas que por sua vez eram confeccionadas com pequenos ramos de um capim nativo. Bom até aqui nada de extraordinário a não ser pela maneira peculiar com que aquelas cordas eram construídas. Muitos homens, mulheres e crianças se ajuntavam para colher um pequeno capim, que eram enrolados, emendados, dos quais se faziam muitas dobras até ficarem fortes o suficiente para suportar uma carga enorme de peso. Estas cordas eram então dobradas outras tantas vezes e ficavam enormes e grossas. Tais cordas eram esticadas e levadas até o outro lado da montanha, amarradas umas as outras e trançadas até construírem uma ponte segura e assim todos podiam atravessar em segurança sobre os penhascos.
O segredo da ponte dos incas consistia em um mutirão, onde cada um dava a sua contribuição, com os pequenos capins colhidos que se somavam uns aos outros e no final, formavam uma obra prima única e indivisível, onde a partir dali, se tornava impossível identificar um único pedaço de capim e seu respectivo colhedor. Aquela ponte era então o fruto do trabalho, dedicação e união de todos, para que todos pudessem desfrutar de um bem que agora pertencia a todos.
Construamos pontes que permitam a aproximação, o repartir, a inclusão. Reflitamos sobre o maior exemplo de ponte - aquela construída por Jesus, que ao morrer na cruz permitiu nosso retorno a Deus, destruindo o muro do pecado, que nos separava Dele.
Temos construído mais muros ou pontes?