Além do princípio de prazer
Que todos nós tendemos à agressividade não é nenhuma novidade: é o instinto de preservação da espécie, é o lado animal que está presente no homo-sapiens. Mas a cena que passarei a descrever me fez refletir sobre a minha agressividade e as dos outros.
Eles desceram de suas "fortalezas" - o "senhor" automóvel - e, em movimentos rápidos e cadenciados exibiram-se ao mundo. Um dos indivíduos, comportando-se como um primata, pôs-se a jogar fora o excedente de cerveja excretado pelos seus rins, sem a menor preocupação com as pessoas que estavam nas proximidades. Todos eles empunhavam latas de cerveja e as seguravam como se portassem pistolas Colt. Transpiravam agressividade. Instantaneamente, como num golpe de aríete, abriram o porta-malas de um dos carros e despejaram no ar um exemplar de suas "músicas" em flagrante desrespeito à liberdade de escolha das pessoas, o que somado à elevada pressão sonora, configurava um delito. Imaginem, por algum motivo, ter que dialogar com esse pessoal, por exemplo, dizer que eles obstruíram a saída do teu carro: o resultado seria imprevisível.
A agressividade provocada pelo álcool é um dos componentes que tem gerado uma boa quantidade de assassinatos por motivos fúteis, o que tem engrossado as estatísticas de mortes precoces de jovens. Seja pobre ou seja rico, uma vez "com cara cheia de trago", matam por ter o seu interlocutor feito uma piada sobre o seu time do coração. Os que conduzem veículos automotores, por dirigirem alcoolizados. Em comum: figuras que banalizam crimes contra a vida.
Pois estas mesmas criaturas participam de uma boa parcela das mortes no trânsito ou por fazerem cidades entrarem em relações desconfortáveis como campeãs em assassinatos. Mas elas estão aí. Elas não são verdes nem vermelhas, mas na sua maioria, surgem nos feriadões, às 6a. feiras à noite ou aos sábados e desaparecem no domingo. Elas fazem competição entre si e cada qual quer provar para a outra, o que não conseguiram provar pra si mesmas.
É assim: estes personagens que se aventuram em viagens sem destino contrariam a teoria da evolução das espécies, pois ora estão cordeiros, ora estão "pitbulls". Às vezes, também internalizam personagens como Alexandre o Grande e brincam de guerra, criando um inferno para os outros e para as suas famílias e, como tais, têm o tempo de vida das borboletas.
No contraponto, talvez alguém diga que estou sendo estóico nas minhas considerações e que esses casos não passam de distúrbios da psique, onde Freud traduziria da seguinte forma: "O instinto recalcado não cessa, de modo algum, de tender para sua completa satisfação, a qual consistiria na repetição de uma satisfação primitiva; ...". Mas nós, como tantos outros leigos, não temos que estar buscando explicações na psicanálise para os problemas nas relações sociais. São os fatos que falam por si só. É a guerra que nos dá medo.
Será que é humano vermos jovens recrutas americanos serem enviados para a morte anunciada, no Iraque? Será que é humano convivermos cinicamente com as mortes provocadas por pessoas alcoolizadas onde a droga pode ser o álcool de algumas latas de cerveja?