OS FILHOS DA RELIGIAO

OS FILHOS DA RELIGIÃO

A prática da religião coerentemente vivida é salutar para todos, especialmente para a família e para a relação de pais e filhos. É bonito se ver uma família presente a uma atividade religiosa seja uma missa, um culto ou qualquer outra promoção espiritual. Trata-se de uma realidade incontestável observar um grupo familiar que se dedica â atividade religiosa tem melhores armas para enfrentar as agruras do mundo, as ameaças da sociedade de consumo e os desafios do materialismo moderno.

No entanto há distorções que advém do exagero de algumas práticas religiosas, especialmente no que tange às relações dos pais com seus filhos. Em muitos casos a pertença a associações religiosas, movimentos ou serviços, freqüência a “reuniões de grupo” ou “círculos de estudo” confere a alguns pais um certo fanatismo, quando essas pessoas só se preocupam com as atividades religiosas, só se relacionam com quem é da igreja e seus assuntos giram sempre em torno de temáticas religiosas. Isto, além de enfadonho se torna prejudicial. Muitos se jogam na religião como busca de um poder pífio que eles não têm lá fora...

O fanatismo indica uma canalização irreversível para aquelas atividades. São reuniões diárias (ou mais de uma por dia), de domingo a domingo, quando os pais saem de casa deixando os filhos com terceiros, empregadas e às vezes sozinhos. Isso vai criando uma revolta nas crianças e adolescentes que não entendem os constantes afastamentos dos genitores, originando conflitos, no começo silenciosos e não-percebidos, indo desembocar numa rebeldia manifesta e numa flagrante oposição às coisas da religião.

Uma vez escutei uma menina, de seus cinco ou seis anos, em uma cidade onde morei, dizer “eu nunca quero fazer (e disse o nome do encontro) para não ter que deixar meus filhos sozinhos em casa...”. Esse desabafo era endereçado aos pais da criança que embora fossem tidos como “bons cristãos” e “atuantes na comunidade” estavam descuidando aquele aspecto tão importante que era a atenção à menina, provocando sua queixa dramática e pública.

É missão do cristão se dedicar às coisas de Deus e da Igreja, mas a vocação fundamental do leigo, pai e mãe é o cuidado com a casa, o entrosamento da família e a formação dos filhos. Há pais, e eu conheço uma porção deles, que assoberbados pelas tarefas da religião, sabendo que estão devendo presença junto aos filhos, dão coisas materiais, desde dinheiro, roupas, aparelhos eletrônicos, motos e carros, como se isso minimizasse o abandono a que ficam relegados os filhos. Não adianta dar presentes. O importante é ser presença. É isto que as crianças esperam. Fora disto é alegoria, aparência e tapar o sol com a peneira.