Amigos
AMIGOS
A amizade sincera é um doce remédio, um abrigo seguro...
(Renato Teixeira)
Meu pai tinha umas idéias curiosas sobre os amigos. Não é importante, afirmava ele, ter muitos amigos, mas tê-los poucos, porém bons e sinceros. Os romanos diziam amicus certus in res certa cernitur (o amigo certo se manifesta na hora certa). O velho Galvão fazia distinção entre amigos e conhecidos. Quando eu me referia a alguém como “amigo” ele redargüia “amigo não, conhecido ou colega... amigos só os pais”. Na verdade não existem melhores amigos, fiéis e desinteressados que os pais. Ele brincava com a necessidade de ter no mínimo quatro amigos para ter quem pegue na alça do caixão. Em seu funeral havia uma centena de pessoas...
Como as pessoas hoje cultivam pouco as amizades de verdade, já notaram como cemitérios e funerárias empregam um carrinho para levar o caixão? Mesmo que não haja amigos suficientes para carregar o defunto, uma ou duas pessoas resolve... Existem pessoas que são pagas para chorar nos funerais e outras para escrever coisas bonitas nos necrológios.
Na Bíblia se lê que “Quem tem um amigo encontrou um tesouro” (Livro do Eclesiástico 6). O velho falava muito no perigo de a gente se iludir com falsos amigos, interesseiros Ele, como chefe da Fiscalização de Obras da Prefeitura de Porto Alegre, granjeou muitas amizades, mas também colecionou algumas decepções nesse sentido. Igualmente, quem, como eu foi Gerente ou Superintendente de uma estatal (Caixa) se deparou com alguns que não foram amigos da pessoa, mas do cargo, buscando usufruir vantagens, prestígio, brilho. Após a aposentadoria, muitos daqueles amigos e comensais desaparecem, só deixando a decepção. Tem gente que se encosta em outro para auferir algum ganho, seja material, intelectual, financeiro ou mesmo para sugar energias. Às vezes alguns pseudo-amigos se aproximam movidos por certa inveja, para aprender determinadas coisa ou até para copiar as virtudes que eles não têm. O verdadeiro amigo e eu tenho muitos, nunca se ofende nem se melindra; ele sabe entender a presença no silêncio e na ausência...
Em todos os setores e atividades há amigos-urso, aqueles que não correspondem às expectativas e que não vale a pena insistir. Na escola muitos alunos e alunas oferecem uma imaginária amizade ou outros favores com o fito de conseguir vantagens ou boas notas. Até nas igrejas, alguns daqueles que se aproximam do padre ou do pastor o fazem para obter benesses, postos e cargos de poder ou notoriedade na comunidade. O puxa-saco nunca foi um bom amigo, pois falta-lhe uma honesta autenticidade.
Um amigo sempre vem a tempo; os outros quando têm tempo...