O beijo

O BEIJO

Coisa inexplicável é o beijo, especialmente aquele que é dado na boca da(o) parceira(o), de lábios entreabertos, sugado, babado, cheirado, gemido, com a língua enfiada quase nas amígdalas da outra pessoa, em que o casal muda a posição da cabeça, para nesse interlúdio, olhar um nos olhos do outro. O beijo é uma coisa tão fantástica, que para desenvolver-se um beijo de amor, é preciso usar os cinco sentidos: o tato, a visão, a audição, o olfato e a fala. Eu defino o beijo como “um ritual de amor”, onde um bebe o outro num cálice especial. O cancioneiro romântico, especialmente o latino, dá uma ênfase notável ao beijo: “Después que nos besamos, con el alma y con la vida, te fuíste por la noche, de aquella despedida...” (A. Manzanero, “Somos”, 1959).

De uns tempos para cá, a televisão notabilizou o “selinho”, que é um beijinho rápido, boca fechada, mais ou menos formal, que alguns artistas dão em seus convidados, de ambos os sexos. Isto sem esquecer o beijo (de língua) trocado por Madonna e Britney Spears, num clipe, que provocou um frisson nas massas. É de Bastos Tigre († 1957) a frase “O beijo é como uma confissão, que se segreda na boca e se escuta no coração”.

Há dias, li, na Internet, uma enquete feita entre lobas solitárias (faixa dos 35 aos 45 anos) que o que sentem falta, mais do que o sexo, é o beijo na boca. Num desses chat de “procura”, algumas chegam a usar como nick name (apelido) o “adoro beijo na boca”. A gente fica imaginando que força, que troca de energia tem um beijo, em especial o dado na boca, para provocar toda essa ânsia e essa busca incontida do encontro de dois lábios.

Há tempos, zapeando o controle remoto, passei por uma novela, em que “a” beijava “b”. Diante do calor do beijo, eu disse: “Essa dupla vai acabar ‘acertando as pontas’ na vida real”. Alguém que estava por perto disse: “Não, é ‘beijo técnico’, eles estão acostumados, e além disto, cada um é casado com outra ”. Ao que eu redargüi: “Nessa intensidade não tem beijo técnico”. É como diz a “filósofa” Elke Maravilha: “o beijo é como ferro elétrico: liga em cima e aquece embaixo!’”. E não deu outra: quanto terminou a novela (O Clone) os dois anunciaram a quebra dos vínculos anteriores para tentar nova “aventura” (sim, porque a relação de artista, via-de-regra é aventuresca), a partir das fráguas daqueles beijos ardentes.

Um beijo na boca torna-se uma coação moral e física, absoluta, pertinaz e irresistível. Assim com o dizem que a mulher nunca esquece o primeiro sutiã, a gente não esquece o primeiro beijo. Para fechar, uma quadrinha, de um parnasiano, conhecido de vocês, que há mais de cinquenta anos atrás disse que “nada fala neste mundo, tão bem de nossas vidas, que o silêncio profundo de duas bocas unidas”.