OS CARAS DE PAU
OS CARAS DE PAU
No mestre Houaiss, o maior filólogo nacional, encontramos o verbete “cara de pau” como sinônimo de um cara cínico, descarado, sujo, sórdido, devasso, desavergonhado, alguém que quer levar vantagem em tudo. Minha mãe usava, para pessoas desse tipo, a expressão “caradura” como quem não tem escrúpulos ou ética, um indivíduo atirado, sinônimo do “cara de pau” moderno.
Eu conheci, pela vida afora, uma enorme quantidade de caras de pau, seja no trabalho, na vida social e nas atividades docentes. Meu pai tinha um conhecido, um militar que vivia lhe pedindo dinheiro emprestado, Pedia e não pagava. Tempos depois voltava e pedia mais dinheiro. O cara tinha uma mulher linda que se fresqueava para o velho Galvão. Ele nunca quis interromper os empréstimos, talvez para não quebrar a “cadeia alimentar”. No tempo em que os cinemas proliferavam nas cidades, as filas eram tomadas pelos caras de pau, que tentavam furar “compra duas meias para mim...”. Hoje tem gente que fura fila no mercado, no banco e até na comunhão, na maior carinha... Outro disse que só iria me visitar se pudesse colocar o carro nos box do meu prédio. Delcídio saiu do presídio e foi direto para o Senado. Um parente se convidava para comer churrasco... Isto sem falar nos calhordas que colocam seus carros em vagas de deficiente ou idosos...
Numa faculdade onde lecionei, entre o campus e a cidade havia um motel. Numa dessas eu aplicava uma prova de filosofia e uma aluna me chamou sussurrando se a gente não poderia complementar a prova no motel. A moça era casada e estava grávida...
Minha sogra tinha uma sobrinha, pelotense, que, a cada aniversário não trazia presentes alegando que havia esquecido o mimo em casa. Um dia, lá pela décima desculpa, a sogra disse à sobrinha cara de pau: “Acho que vais ter que contratar uma Kombi para trazer todos os pacotes que esqueceste!”. Recentemente, nas nossas “Bodas de Ouro”, outra conhecida, também pelotense, deu a mesma desculpa da prima cara de pau: esqueceu o presente em casa. Só que fazem dois anos do ágape e nada...
Na minha vida profissional tropecei em muitos caras de pau, daqueles que tomavam empréstimos e davam muitas desculpas para procrastinar seus compromissos. E como tem caradura nesse meio! Todo passador de cheque-sem-fundo, muitos indivíduos protestados e executados são pessoas que assumiram dívidas sem terem condição de solvê-las. Isso sem falar nos calaveiras que tentaram me subornar.
Por último lembro um parente que sempre que íamos ao restaurante, na hora da conta ele ia ao toalete, ou afirmava haver esquecido a carteira ou o talão de cheques em casa.
Tem gente tão cara de pau que, quando faz a barba deve sair serragem...