Obras para o homem
Para alcançarmos a Rodovia Pres. Dutra, trafegamos por um bom trecho da Av. Brasil em obras. Pelo menos dois viadutos novos estão sendo construídos nesse trecho até à Dutra, sentido Santa Cruz, o que poderá favorecer o escoamento do tráfego nessa importante via de saída e acesso à cidade.
Obras em ritmo acelerado. Pena é que se continua priorizando o transporte rodoviário, de características limitadas para o transporte de massa. Contudo, não se pode deixar de reconhecer o número de empregos gerados e oferecidos e a importância das obras. Melhor isso do que nada.
Pela Brasil alcançamos a Dutra e daí chegamos às localidades, por exemplo, de Vilar dos Teles, Agostinho Porto, Coelho da Rocha, Belford Roxo. Será que às pessoas que residem nessas localidades, em suas áreas centrais ou periféricas, está sendo dada a mesma importância que àquelas que vão transitar pela Brasil, podendo ser as mesmas que irão se dirigir às localidades referidas? O cidadão sente-se atendido quando está na Brasil, mas quando chega em casa...
Referimo-nos ao seguinte: aplausos para as importantes obras que hoje se realizam na Av. Brasil, mas será que obras de saneamento básico, drenagem, adução de água, pavimentação de logradouros, revitalização da iluminação pública estão também sendo realizadas em localidades cujo acesso pode se dar pela mesma Av. Brasil?
Certa comparação pode ser estabelecida com alguns conjuntos habitacionais, como os da Cidade de Deus, por exemplo. Foram construídos os prédios e, no caso da Cidade de Deus, em 1960 foram removidas para a CDD favelas de outras áreas da cidade, com as pessoas indo ocupar os imóveis edificados na esquina da rua Edgard Werneck com a Estrada do Gabinal. Muito bem, e como ficaram as questões de água, luz, esgoto desses prédios ao longo desses anos? Ou do seu gerenciamento, manutenção e segurança? Para não falar do acesso à instrução. Caberia aos moradores, seria a pronta resposta. Mas que moradores, se grande parte deles (não sabemos se a maioria) não tiveram emprego fixo ou renda que lhes permitissem maior poder de organização?
Arriscamos dizer que qualquer projeto urbano ficará pela metade se não tiver a maior interação possível com o seu cliente fundamental: o homem.
Rio, 24/02/2016