Surto Midiático
Em Brasília, o ex-ministro Guido Mantega deixou apressadamente a Superintendência da Polícia Federal onde prestou declarações, ao que parece, sobre fatos pertinentes à chamada Operação Zelotes. O ex-ministro saiu apressado pela porta lateral para não ter que falar com a imprensa.
Vivemos hoje um momento em que as pessoas que torcem pelo partido no governo deveriam sentir-se honradas e orgulhosas. E aplaudir delirantemente os homens da Polícia Federal e os magistrados que têm em seu trabalho a Justiça por objetivo. Embora políticos do partido no governo, assim como de outras agremiações, e seus correligionários tenham sido condenados, como no caso do Mensalão, ou estejam eventualmente sob suspeição, no que se refere às Operações Lava Jata e Zelotes.
Porque não se tem conhecimento de outra época em que políticos, empresários e outros poderosos tiveram que prestar declarações à polícia e acabaram sendo presos. Podemos dizer que isso é inusitado. Apesar de também nunca se ter chegado aos níveis de corrupção observados hoje no país. Com prováveis repercussões prejudiciais, por exemplo, ao atendimento médico-hospitalar em muitos de nossos estados e, em última instância, à enfraquecida saúde econômica brasileira. Que tem, segundo o governo, a CPMF como medida principal para a sua recuperação.
Quando a polícia prende o bandido e ele é condenado pela justiça, sendo comprovada a sua culpabilidade, então temos uma história de final feliz. É o que todos desejamos. Se o ônus da prova cabe a quem acusa, e sendo respeitado o direito de defesa do acusado, nada deve ele temer se nada de errado tiver cometido.
É um pouco como dizia Lúcio Flávio, o “Passageiro da Agonia”: “polícia é polícia, bandido é bandido”. O policial e o magistrado que trabalham intransigentemente ao lado da lei não se confundem com a prática criminosa. Que é atributo dos que, comprovadamente incursos em ilícitos, por eles terão que responder.
Nesses termos, no que pode ser considerado um surto midiático de alguns colunistas, observamos um exacerbado inconformismo por trás de certas críticas depreciativas feitas ao juiz Sérgio Moro. Que foi recentemente acusado de, tal como o Dr. Mengele, submeter o ex-ministro José Dirceu a tortura psicológica, por demorar seis meses para interroga-lo, e de determinar que a Operação Lava Jato “cumpra a sua missão principal e original: prender o Lula!”.
Rio, 29/01/2016