De Pier a Paolo
Em 1975, durante as gravações de Salò ou os 120 dias de Sodoma, o autor da obra, o importante cineasta Pier Paolo Pasolini, segundo pesquisadores, acreditava que estivesse em erupção um novo tipo de fascismo, determinado pela sociedade de consumo, os crimes políticos e a corrupção.
Para Pasolini, em relação à Itália daquela época, estaria ocorrendo “uma verdadeira mutação antropológica em que os valores tradicionais não contam mais, nem mesmo enquanto falsos valores”.
A respeito dessa mutação antropológica, Pasolini falava de um novo tipo de poder, “um poder histérico, que tende a massificar os comportamentos, a normalizar os espíritos, simplificando freneticamente todos os códigos, especialmente ‘tecnicizando’ a linguagem verbal”. Um poder capaz de precipitar nos homens, segundo pesquisadores ou estudiosos, a perda de seus referenciais, fazendo do mundo um lugar “onde nenhum tipo de inocência é possível”.
Em Salò, Pasolini já se referia à “anarquia do poder”, corroborando as palavras do Monsenhor de Salò, para quem “nada é mais anárquico do que o poder. O poder faz o que quer, como quer”.
Para o crítico René Schérer, em Salò evidencia-se “a exposição clara da democracia que termina em fascismo, e do hedonismo que se traduz na putrefação e destruição dos corpos”. De fato, quem viu o filme talvez não discorde de que parece clara, entre outras possíveis abordagens, a ideia da concepção mercadológica da utilização dos corpos humanos, motivada por diferentes atos sádicos.
Todo esse raciocínio é basicamente devido a estudiosos ou pesquisadores, como o professor Vinícius Nicastro Honesko, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E na comparação do que se disse acima com os nossos dias atuais, não deixamos de encontrar uma similaridade muito grande.
O que nos pode levar à conclusão de que também estejamos vivendo, ou continuemos a viver, uma nova forma de fascismo, em que pese o seu caráter para muitos aparentemente imperceptível.
Rio, 08/02/2015