Será a religião um problema?
Recentemente, assisti a uns vídeos no Youtube cujos títulos eram: "O mito do muçulmano bonzinho", "Vejam como agem os muçulmanos pacíficos que vivem na Inglaterra" e "A Bélgica está se tornando uma capital muçulmana". Todos esses vídeos diziam que não há muçulmanos moderados, que eles veem todos os não-muçulmanos como infiéis, querem que todo o mundo seja muçulmano, matam os que abandonam a religião e que, se os terroristas são uma minoria, a maioria não-terrorista quase sempre aprova os atos cometidos pelos primeiros, entendendo que estão "eliminando infiéis". Além disso, um brasileiro falou que, nos países onde a religião muçulmana era oficial, os cristãos eram perseguidos e muitas vezes mortos, além de que, os muçulmanos imigrantes que vivem em países europeus e nos Estados Unidos, não contentes de terem suas mesquitas e poderem seguir sua religião, desrespeitavam abertamente os cristãos e judeus que encontravam. Um brasileiro que havia postado alguns desses vídeos nos aconselhou a tomar cuidado por causa dos muitos sírios que estão vindo para o Brasil, visto que são muçulmanos.
Se isto for verdade, então, realmente, há o risco de que logo o Brasil vá enfrentar problemas como estão enfrentando muitos países europeus que acolheram imigrantes seguidores do Islã: veem-se muçulmanos andando nas ruas e chamando os europeus de infiéis, dizendo que morrerão por não seguir Alá. Tudo isto é horrível porque, afinal, somos um Estado laico e, se logo houver um monte de muçulmanos querendo tomar o poder no Brasil, o Estado laico estará ameaçado e, sem Estado laico não haverá democracia. Mas, se refletirmos com profundidade, a violência, intolerância e perseguição religiosa não são privilégios do Islã.
O Brasil tem presenciado inúmeros episódios de intolerância religiosa protagonizados por evangélicos, isto é, cristãos. De vez em quando, os noticiários nos falam de adeptos da umbanda ou candomblé agredidos por evangélicos, que dizem que estes primeiros são seguidores do Diabo. Recentemente, uma menina foi agredida por colegas de escola por ser umbandista e não podemos deixar de mencionar que uma igreja evangélica queria formar uma milícia chamada Gladiadores do Altar. Com que intenção se quer formar um movimento miliciano? Se isto acontecer, em pouco tempo, estaremos vendo jovens cometendo atos de violência contra homossexuais, seguidores do candomblé, católicos e ateus, sob a alegação de que agem em nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo". Isto não seria uma forma de terrorismo? E o que falar dos evangélicos que ocupam cargos políticos que qualificam o homossexualismo como doença ou abominação? Deveriam entender que estamos num Estado laico e que não se deve misturar política com religião. E que, se uma pessoa está no caminho errado, o problema é dela.
Aliás, a História da Humanidade é marcada por episódios de perseguição e intolerância religiosa. A Igreja Católica foi responsável por muito derramamento de sangue. Alguém pode esquecer o Tribunal da Santa Inquisição, que caçava bruxas, protestantes ou judeus? Milhares de pessoas morreram na fogueira ou de forma bárbara durante torturas inimagináveis. Não se deve esquecer que a Igreja Católica aprovava a matança de índios e a escravização de negros, sob a alegação de que os índios e os negros não tinham alma e, muitas vezes, restava a estes infelizes a conversão para não morrer. Quanto aos escravos negros, eles seguiam seus ritos disfarçadamente. A Igreja Católica também se omitiu na perseguição aos judeus na 2.ª Guerra Mundial.
Mas o Judaísmo também tem seus pecados de intolerância. Lembremos que as autoridades judaicas perseguiram Jesus Cristo e mataram cristãos após a morte de Jesus. Paulo de Tarso, antes de se tornar o maior difusor do Cristianismo, fora um fariseu, judeu que seguia estritamente as leis.
Como podemos ver, a questão religiosa sempre causou problemas, principalmente quando ligada ao poder, pois os sacerdotes, que são os que detêm o poder, manipulam as massas, formadas por gente ignorante que se deixa facilmente convencer a seguir cegamente os dogmas e até a cometer monstruosidades "em nome da fé".
O problema da religião é que cada pessoa que segue a sua acredita que está com a razão, chegando a se desentender com adeptos de outras religiões. Isto pode levar a pessoa a agir sem refletir e seguir os dogmas de sua fé como se fossem a única verdade num mundo tão diverso em culturas e religiões. Embora se diga que religião é uma coisa e razão, outra, é bom que pensemos nos perigos de se agir sem considerar a razão, pois isto pode nos levar a cometer atos monstruosos acreditando que estamos certos. Pensemos na frase dita pelo pintor espanhol Goya: "O adormecer da razão gera monstros". A partir do momento em que deixamos de usar a razão, podemos nos tornar monstros. Então, é bom que não nos guiemos cegamente pela fé, achando que somos os detentores da verdade absoluta.